sexta-feira, 20 de julho de 2012

Os contrastes de Avenida Brasil

Ainda que pouca gente se disponha a dizer, Avenida Brasil é uma novela de grandes defeitos. João Emanuel Carneiro, que já tem alguns trabalhos como roteirista de cinema em seu currículo, sabe ser ágil e consegue costurar momentos de dramaticidade que valem alguns minutos de atenção.

No entanto, o autor derrapa em alguns aspectos fundamentais. A extrema preocupação do criador da novela em proporcionar dinamicidade à história faz com que ele claramente atropele, em diversos momentos ao longo da trama, a lógica da cadeia causal dos fatos. Tal dinamicidade visa, em última instância, à audiência, e não há nada muito recriminável nessa preocupação. Com efeito, o folhetim, em termos definitivos, não merece tamanha aclamação. Longe disso, outros fatores só corroboram com a falta de consistência da obra como um todo, como a falta de qualidade das tramas paralelas, a fragilidade da trama principal (manifestada na circularidade perdida e quebrantada dos planos da heroína) e o excessivo vocabulário moralista empregado na maioria dos diálogos, peso que Passione também suportou. Os méritos maiores, ao menos até aqui, vão para a competente direção de Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarim.

Por um lado, o impacto de Avenida Brasil revela a diferença entre audiência e repercussão. Em tempos em que as redes sociais entram em seu maior grau de efervescência, o Ibope deixou de ser o único fator relevante para medir o apelo de uma novela. Fina Estampa, que cravou um dos maiores índices de audiência dos últimos anos, teve seu fracasso estampado pelo silêncio da internet. A obra de Aguinaldo Silva, de fato, nunca chegou a ter metade da penetração que o folhetim de João Emanuel Carneiro tem no Facebook e no Twitter. Em outras palavras, se Avenida Brasil perde no Ibope, ganha em barulho. A febre causada pela atual novela das nove existe e movimenta o país. Algo que, sinceramente, considero positivo: o processo de relativização da medição de audiência é necessário.

Por outro lado, a aclamação de Avenida Brasil revela a fragilidade da crítica destinada às telenovelas. O formato de artes cênicas mais consumido do país não conseguiu estabelecer um corpo de especialistas digno de seu tamanho em uma nação como a nossa. A maioria dos profissionais destinados a esse trabalho é acrítica e vai no embalo da maioria. A novela, assim, continua marginalizada na condição de coisa menor. Uma pena.

Por fim, a respeito do capítulo 100 de Avenida Brasil: considerei abaixo do esperado, mas gostei. O episódio, ao contrário de outros, teve um roteiro bem estruturado e não precisou atropelar os fatos para causar o clímax final. O ponto desnecessário foi mesmo o uso das fraquíssimas tramas paralelas, todas batidas, enfadonhas e desinteressantes. 

O forte da novela é, obviamente, o eixo central, que consegue sobreviver a uma profunda fragilidade estrutural. Os planos de Nina, ao menos na primeira metade do folhetim, não justificaram o próprio argumento de Avenida Brasil. Ainda assim, a saga da mocinha vingativa continua como o grande chamariz. Não por conta de qualquer originalidade, visto que o tema da vingança é lugar-comum mesmo na história das telenovelas, mas por sua própria força dramática. O ótimo desempenho de Débora Falabella e Adriana Esteves ajuda bastante. A questão é esperar que João Emanuel Carneiro dê mais consistência à vingança de Nina e justifique a sinopse que apresentou ao público. Combates diretos entre as duas protagonistas também viriam a calhar. 

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