domingo, 9 de dezembro de 2012

Aplausos: Para Salve Jorge, que ganhou coesão e ritmo após Morena (Nanda Costa) cair na armadilha de Wanda (Totia Meirelles). A história principal ganhou corpo e atores que pareciam desvalorizados, como Giovanna Antonelli e Zezé Polessa, sinalizaram que terão, daqui pra frente, grande importância no desenvolvimento da trama. A maioria das histórias paralelas, no entanto, continua pouco interessante.

Para Morena e, consequentemente, para Nanda Costa, intérprete de uma das mocinhas mais bem-escritas que já tivemos. Em Salve Jorge, Morena é, antes de mais nada, uma subversão de valores preconceituosos e machistas. É uma mocinha decidida, autônoma, independente e lutadora. Foge completamente do estereótipo de menina comportadinha, loirinha, bem-maquiada e com cabelo na cintura. Morena é barraqueira, bota banca, tem auto-confiança e dá a cara pra bater. Retrato fiel de milhares de mulheres que, ao contrário da mocinha tradicional das novelas das oito, não podem contar com um príncipe encantado ou com o status de herdeira. Nanda Costa, a propósito, está irrepreensível. Soube compor uma Morena plausível e extramente realista. Passa com os olhos todo o vigor e força que sua personagem sublinha.

Para Totia Meirelles, a Wanda de Salve Jorge. Típica atriz de TV, Totia vem podendo demonstrar, com sua personagem, toda a sua capacidade e sua técnica. Sua vilã, criada para ser uma espécie de antagonista secundária, já conseguiu se transformar na principal megera da história. E Totia, diga-se de passagem, é a grande responsável por isso.

Para Pedro e Bianca, seriado da TV Cultura de São Paulo. Em contraponto a seriados teens superficiais e pouco críticos, como Malhação, a produção da emissora paulistana apresenta um quadro interessante e mais próximo da realidade dos adolescentes contemporâneos. Tudo isso com bastante leveza e humor.


Vaias: Para Bianca e Ziah, personagens de Cléo Pires e Domingos Montaigner, em Salve Jorge. Se a novela ganhou gás por conta do desenvolvimento da história da protagonista, o "casal 20'' da trama de Glória Perez se arrasta por passeios infrutíferos, monótonos e enfadonhos. Acompanhar o "tórrido" romance da dupla é uma tortura. A trama de Cléo e Domingos, a propósito, quebra totalmente o clima da novela.  

sábado, 1 de dezembro de 2012

Aplausos: Para Alessandra Negrini, a Catarina de Lado a Lado. Embora alguns não estejam gostando do perfil dado por Alessandra à sua debochada vilã, o blog, em sentido contrário, acha que a atriz acertou em cheio em sua composição. A interpretação repleta de ironia jocosa e meio over que Negrini deu à personagem é extremamente adequada e muito bem-calculada. O tom de Catarina, a escorregadia cantora lírica que inferniza a vida de Laura (Marjorie Estiano) e Edgar (Thiago Fragoso), está perfeitamente de acordo com o sarcasmo da personagem.

Para Caio Blat, o Fernando de Lado a Lado. Um dos melhores profissionais de sua geração, Caio interpreta com a mesma facilidade dos atores mais experientes. Seguro e cheio de técnica, o intérprete do rancoroso irmão de Edgar (Thiago Fragoso) dá shows diários de maturidade e eficiência. Os autores, que não são bobos e já perceberam que Caio é um ator como poucos, já trataram de aumentar a participação do personagem. 

Para Isabela Garcia, a Celinha de Lado a Lado. Isabela, uma das atrizes mais experientes da Rede Globo e grande estrela das décadas de 80 e 90, vem arrebentando em um papel adorável, pueril e cheio de empatia. Excelente atriz, Garcia entendeu perfeitamente o tom da personagem: uma mocinha quarentona e totalmente atrapalhada, uma espécie de protagonista de comédia romântica. 

Para Suburbia, que toca em uma ferida bastante imbricada na sociedade brasileira: o machismo velado. Conceição, a protagonista brilhantemente defendida pela visceral e surpreendente atuação da novata Erika Januza, é recorrentemente molestada por homens de diferentes origens. Um roteiro que representa a radicalização do retrato de algo comum à realidade da maioria das mulheres. A muitos, inclusive, escapa a percepção de que tal recorrência, estranha à primeira vista, é totalmente proposital. Estratégia usada, inclusive, em filmes como Dogville, de Lars Von Trier. Para tornar o cenário mais provocador, Luiz Fernando Carvalho veste Conceição com roupas provocantes e sensuais. Tal dado estimula a voz de ponderações extremamente machistas, por exemplo, "Ela se veste assim e não quer ser molestada!", como se o modo de se vestir da mulher servisse de justificativa para um assédio que é, antes de mais nada, vil e degradante. Um ser humano, até onde se sabe, tem o direito de vestir o que quiser, sem, contudo, ser constrangido por isso. É um princípio de respeito completamente intuitivo em uma sociedade civilizada. 



Vaias: Para Rachel Sheherazade, que deu uma aula de ignorância em seus comentários sobre o Estado Laico, na última semana, no Jornal do SBT. A jornalista, pretensamente investida de uma pseudo-lucidez, despejou, em mais uma de suas rasas e improfícuas divagações sobre tudo que existe, uma série de preconceitos e equívocos sobre a ação do Ministério Público de São Paulo que visava, entre outras coisas, retirar a inscrição "Deus seja louvado" das cédulas de Real. Começou dizendo que a intenção da promotoria representava, em última instância, uma espécie de ingratidão a tudo aquilo que supostamente o cristianismo proporcionou à sociedade brasileira. Em que pese as suas inegáveis contribuições à formação da cultura nacional, a Igreja Católica, vale dizer, também foi a responsável, entre outras coisas, pela violenta assimilação dos índios do Brasil e pela manutenção do status quo sexista e racista que permeia a maioria das sociedades ocidentais. Ignorou, além disso, que manifestações que privilegiam uma religião em detrimento de outras ofende, sim, o princípio de neutralidade religiosa supostamente externado pelo Estado. Um autor islâmico de uma ação judicial qualquer, por exemplo, certamente se sente um estrangeiro ao notar a presença de uma cruz logo acima do juiz em um tribunal. Por fim, a jornalista foi além. Disse que, para assegurar o laicismo, seria preciso emendar a Constituição Federal, em tom que dava a entender que tal procedimento correspondia a uma prática de última ratio, como se, ao fazer algo do tipo, o Estado maculasse uma espécie de ordem normativa sagrada quase imutável. Em primeiro lugar, o princípio da laicidade já está garantido pela Constituição da República de 1988. A liberdade religiosa é, entre outros direitos, uma garantia assegurada pelo art. 5. Em outras palavras, a tal emenda entoada pela jornalista como um absurdo de proporções titânicas é completamente desnecessária, visto que a Carta Magna define explicitamente o laicismo estatal. Além do mais, ainda que uma emenda fosse necessária, não haveria nela qualquer tipo de modificação escandalosa. Emendas à Constituição fazem parte de um procedimento perfeitamente previsto e frequentemente adotado pela legislação brasileira. Como se vê, um show repleto de ponderações de uma jornalista ignorante, rasa, limitada e despreparada. Sílvio Santos deve, sem dúvida, estar mais atento à qualidade do jornalismo da casa. Vale dizer que não é só Rachel que apronta coisas do tipo. Carlos Nascimento, seu colega de casa (que costuma ser muito mais respeitado pelos colegas), frequentemente dá opiniões mal-embasadas e repletas de senso comum. José Neumanne Pinto, o tal cronista da emissora paulistana, não faz muito diferente.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Melhores do Ano 2012 (Prêmio Leila Diniz)


Estamos chegando a mais um fim de ano e, com isso, o blog decidiu eleger, pelo segundo ano consecutivo, os melhores profissionais em teledramaturgia de 2012. Diferentemente da primeira eleição, a premiação deste ano terá a participação dos leitores. A partir deste ano, em homenagem a uma das grandes atrizes e personalidades do país, o prêmio será chamado de Leila Diniz.

O prazo para votar vai até 5 de Janeiro. Os resultados serão divulgados a partir do dia 6 de Janeiro

Apenas foram incluídas produções com, no mínimo, 40% de seus totais exibidos em 2012. Salve Jorge, por exemplo, não foi incluída. Vamos aos indicados:



Atuação em Série Nacional 

Érika Januza (Suburbia)
Fabrício Boliveira (Suburbia)
Mariana Lima (Sessão de Terapia)
Selma Egrei (Sessão de Terapia)
Zé Carlos Machado (Sessão de Terapia)

(Vencedora em 2011: Andréa Beltrão; Indicados em 2011: Débora Falabella, Fernanda Torres, Ingrid Guimarães, Marisa Orth)



Série Nacional 

Adorável Psicose (Natália Klein)
Dercy de Verdade (Maria Adelaide Amaral)
Louco Por Elas (João Falcão)
Sessão de Terapia (Selton Mello)
Suburbia (Luiz Fernando Carvalho)

(Vencedor em 2011: Tapas e Beijos; Indicados em 2011: A Grande Família, A Mulher Invisível, Força Tarefa, Macho Man) 



Trilha Sonora

Amor, Eterno Amor (Rogério Gomes)
Cheias de Charme (Denise Saraceni e Carlos Araújo)
Gabriela (Roberto Talma e Mauro Mendonça Filho)
Lado a Lado (Dennis Carvalho e Vinicius Coimbra)
Suburbia (Luiz Fernando Carvalho)

(Vencedora em 2011: Cordel Encantado; Indicadas em 2011: A Vida da Gente, Amor e Revolução, Insensato Coração, O Astro)



Fotografia

Avenida Brasil (Fred Rangel)
Dercy de Verdade (Paulo Souza)
Gabriela (Sérgio Marine)
Lado a Lado (Walter Carvalho e Daniel José dos Santos)
Suburbia (Adrian Tejido)

(Vencedora em 2011: A Vida da Gente; Indicadas em 2011: Aquele Beijo, Cordel Encantado, Insensato Coração, O Astro)



Figurino

Cheias de Charme (Gogoia Sampaio)
Gabriela (Labibe Simão)
Guerra dos Sexos (Marilia Carneiro)
Lado a Lado (Beth Filipecki e Renaldo Machado)
Suburbia (Luciana Buarque)

(Vencedora em 2011: Cordel Encatado; Indicadas em 2011: A Vida da Gente, Aquele Beijo, Insensato Coração e O Astro)



Direção de Arte

Avenida Brasil (Ana Maria Magalhães e Cristina Demier)
Cheias de Charme (Guga Feijó)
Gabriela (Mario Monteiro e Silvana Estrela)
Lado a Lado (Mario Monteiro e Nininha Medicis)
Suburbia (Mario Monteiro)

(Categoria não realizada em 2011)



Direção

Denise Saraceni e Carlos Araújo (Cheias de Charme)
Dennis Carvalho e Vinicius Coimbra (Lado a Lado)
Luiz Fernando Carvalho (Suburbia)
Roberto Talma e Mauro Mendonça Filho (Gabriela)
Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarin (Avenida Brasil)

(Vencedores em 2011: Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarin; Indicados em 2011: Dennis Carvalho e Vinicius Coimbra, Jayme Monjardim, Roberto Talma e Mauro Mendonça Filho, Rogério Gomes)



Autor

Filipe Miguez e Isabel de Oliveira (Cheias de Charme)
João Emanuel Carneiro (Avenida Brasil)
João Ximenes Braga e Cláudia Lage (Lado a Lado)
Luiz Fernando Carvalho e Paulo Lins (Suburbia)
Walcyr Carrasco (Gabriela)

(Vencedores em 2011: Gilberto Braga e Ricardo Linhares; Indicados em 2011: Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, Christianne Fridman, Miguel Falabella e Licia Manzo)



Ator Coadjuvante

Caio Blat (Lado a Lado)
Gero Camilo (Gabriela)
José de Abreu (Avenida Brasil)
Juliano Cazarré (Avenida Brasil)
José Wilker (Gabriela)

(Vencedor em 2011: Herson Capri; Indicados em 2011: André Gonçalves, Marcelo Serrado, Marcos Caruso, Thiago Martins)




Atriz Coadjuvante

Alexandra Richter (Cheias de Charme)
Cacau Protásio (Avenida Brasil)
Isis Valverde (Avenida Brasil)
Titina Medeiros (Cheias de Charme)
Vera Holtz (Avenida Brasil)

(Vencedora em 2011: Cássia Kis Magro; Indicadas em 2011: Ana Lúcia Torre, Julia Lemmertz, Denise Del Vecchio, Zezé Polessa) 



Ator

Lázaro Ramos (Lado a Lado)
Marcos Palmeira (Cheias de Charme)
Marcello Novaes (Avenida Brasil)
Murilo Benício (Avenida Brasil)
Ricardo Tozzi (Cheias de Charme)

(Vencedor em 2011: Gabriel Braga Nunes; Indicados em 2011: Antonio Fagundes, Bruno Gagliasso, José Mayer, Rodrigo Lombardi) 



Atriz

Adriana Esteves (Avenida Brasil)
Cláudia Abreu (Cheias de Charme)
Débora Falabella (Avenida Brasil)
Laura Cardoso (Gabriela)
Marjorie Estiano (Lado a Lado)

(Vencedora em 2011: Lília Cabral; Indicadas em 2011: Ana Beatriz Nogueira, Christiane Torloni, Glória Pires, Regina Duarte)



Novela

Avenida Brasil (João Emanuel Carneiro)
Carrossel (Iris Abravanel)
Cheias de Charme (Filipe Miguez e Izabel de Oliveira)
Gabriela (Walcyr Carrasco)
Lado a Lado (Cláudia Lage e João Ximenes Braga)

(Vencedora em 2011: Cordel Encantado; Indicadas em 2011: A Vida da Gente, Insensato Coração, O Astro, Vidas em Jogo)


VOTAÇÃO ENCERRADA

domingo, 25 de novembro de 2012

Aplausos: Para Camila Pitanga e Marjorie Estiano, que interpretam as protagonistas femininas de Lado a Lado. Na pele de Isabel e Laura, respectivamente,  o dueto de atrizes vem dando show e apresentando uma química invejável, algo difícil de ser conquistado tão imediatamente. O resultado é claro: a dupla de mocinhas é carismática e extremamente convincente. O mérito, é claro, é todo das intérpretes, duas das melhores atrizes da nova geração.

Para Maria Padilha, a Diva Celeste de Lado a Lado. Novamente, cabe ressaltar a maestria de uma atriz com participações tão raras na TV. Padilha, mais uma vez, soube realizar um impecável trabalho de composição.

Para Ana Carbatti, a Zenaide de Lado a Lado. Interpretando a sisuda e implacável irmã de Berenice (Sheron Menezes), Ana consegue passar, apenas com o olhar, todo o rancor e a amargura que sua personagem sublinha. Um trabalho contido, introspectivo, muito bem-feito e completamente dependente das linguagens corporal e facial. Uma atriz com menos técnica certamente derraparia. Ana, porém, parece tirar de letra.

Para Roberta Rodriguez e Bruna Marquezine, que interpretam, respectivamente, Maria Vanúbia e Lurdinha em Salve Jorge. Se o núcleo do Alemão é, em sua maior parte, enfadonho e didaticamente criado para retratar uma imagem idealizada de comunidade "pacificada", o mesmo não se pode dizer a respeito das duas personagens "piriguetes" criadas por Glória Perez. As rivais representam, de fato, os melhores momentos das cenas alocadas na comunidade. Ao contrário de outros tipos que circulam pelo morro, Vanúbia e Lurdinha divertem, justamente, por corresponderem a um estereótipo real e muito comum no cotidiano dos brasileiros. As atrizes, diga-se de passagem, estão ótimas.

Para Carolina Dieckmann e Paloma Bernardi, que interpretam, respectivamente, Jéssica e Rosângela em Salve Jorge. O núcleo do tráfico de mulheres é, certamente, o que mais chama a atenção na esquizofrênica novela de Glória Perez. E boa parte desse sucesso, é preciso dizer, é resultante no desempenho de duas atrizes: Carolina Dieckmann e Paloma Bernardi. Carolina, já elogiada pelo blog, continua impecável em cena. Já Paloma, que nunca havia tido performances muito satisfatórias em seus personagens anteriores, vem surpreendendo no papel da ambiciosa Rosângela. 

Para Dira Paes, a Lucimar de Salve Jorge. Que Dira é fantástica, todo mundo já sabe. O que surpreende, entretanto, é a capacidade que a atriz tem de variar com bastante competência de um papel para o outro. Quem olha para Lucimar, a mãe guerreira da protagonista Morena, não se lembra minimamente de sua personagem em Fina Estampa, a última novela da qual Dira participou. O curioso é que, guardadas as devidas proporções, os dois papeis são bastante parecidos. Um trabalho que só uma atriz com a versatilidade de Dira poderia fazer.



Vaias: Para Bianca Bin e Thiago Rodrigues, a Carolina e o Zenon, respectivamente, de Guerra dos Sexos. Se a novela é criticada por conta de uma direção que passa, na maior parte das vezes, uma impressão de plasticidade fake, o péssimo desempenho de atores como Bianca e Thiago colabora mais ainda com a estética forçada e excessivamente teatral que a novela apresenta. Inseguros em cena, Bianca e Thiago não passam a mínima naturalidade e transformam cenas importantes em esquetes pobres que parecem ter sido extraídas de uma temporada bobinha de Malhação. Definitivamente, a escalação da novela de Sílvio de Abreu apresenta equívocos substanciais.

Para a Turquia de Glória Perez, um dos principais cenários de Salve Jorge. Ainda que culturas estrangeiras e diferentes tenham sido o forte da autora nos últimos anos, os turcos da novela das nove não vem sendo retratados com o mesmo brilhantismo de suas novelas anteriores. Todos os acontecimentos parecem ter sido escritos dentro de uma espécie de projeto didático e enfadonho, que pretende, em tese, dar aulas sobre o comportamento, a sociedade e a cultura do povo da Capadócia. O resultado é evidente: as tramas da Turquia são chatas, enfadonhas e não conseguem atrair o público. 

Para Galvão Bueno e Rede Globo, que não esconderam a preferência por Fernando Alonso, piloto espanhol da equipe Ferrari no Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1. Em uma competição em que os corredores com chances de título são estrangeiros, o mínimo que se espera de uma cobertura séria e compromissada com o telespectador é imparcialidade. Não foi o que se viu, por exemplo, na vinheta de abertura do GP Brasil, que demonstrou um carro da Red Bull, equipe de Sebastian Vettel, piloto alemão rival de Alonso na disputa pelo campeonato, capotando em um acidente simulado. Algo de extremo mau gosto. Não bastasse isso, o telespectador se viu obrigado a tolerar a inconveniência de Galvão Bueno, cada vez mais anacrônico, ultrapassado e irritante. O narrador, seguindo a linha da emissora, não escondeu sua preferência pelo piloto espanhol, conjecturando, a cada 5 minutos, situações hipotéticas que possibilitariam o título para Alonso. Em algumas vezes, impulsionava descaradamente o hispânico. Em outras, fazia algo pior: torcia por acidentes e quebras envolvendo outros pilotos, acontecimentos que, se tivessem ocorrido, favoreceriam o esportista ferrarista. Seja como for, a torcida não deu certo: Sebastian Vettel foi o campeão. Além de chato, Galvão Bueno é pé frio.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Nota especial de parabéns a O Astro, novela adaptada por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, que ganhou o Emmy Internacional de melhor novela. Sem medo de ousar, a dupla de autores escreveu um folhetim dinâmico, ágil, moderno e elegante. Com um remake com cara de obra inédita, a dupla acertou em inovar em grande parte do texto original. Destaque, também, para a direção, que oscilou entre um kitsch equivocado e momentos de maestria, e, é claro, para o elenco muito bem-escalado. Regina Duarte, à parte de seus equívocos na vida pessoal, antologizou Clô Hayalla na galeria de grandes personagens da TV. Uma interpretação over que, embora tenha sido incompreendida por alguns, foi calculada e, na opinião do blog, bastante acertada.

A Mulher Invisível, série protagonizada por Luana Piovani, Selton Mello e Débora Falabella, também ganhou um Emmy: o de melhor comédia. Sem dúvida, com pleno merecimento. A série trouxe um roteiro sagaz, um elenco afinado e, principalmente, uma direção nada ingênua, que deu momentos de poesia a uma produção marcada pela comédia. Parabéns a Guel Arraes, a Cláudio Torres, a Selton Mello, que foi, além de ator, diretor da produção, à Luana Piovani, bastante correta em cena, e à Débora Falabella, uma das melhores atrizes de sua geração.


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Aplausos: Para Lado a Lado, que fica mais envolvente a cada dia que passa. A novela é tão boa que, mesmo sem a presença de alguns protagonistas em algumas passagens de tempo (quando Isabel passa uma temporada na França, por exemplo), a trama não perde o fôlego. Sinal de uma dramaturgia consistente, uma direção competente e um elenco mais do que afinado.

Para Constância, personagem interpretada por Patrícia Pillar em Lado a Lado. Diferentemente da maioria das megeras das novelas atuais, a vilã da novela das seis não sente orgulho de ser má. Constância não é do tipo que dá risadas maquiavélicas e que se regojiza com as próprias maldades. Pelo contrário, a antagonista da história comete atrocidades acreditando que está fazendo o que é melhor para sua família. Patrícia, mais uma vez, está arrasando no papel.

Para Christiana Guinle, a Carlota de Lado a Lado. A atriz, que é pouco ligada à televisão, mostra competência e versatilidade no papel da irmã ressentida de Constância (Patrícia Pillar). Muito segura em cena, Christiana demonstra bastante técnica e é, sem dúvida, mais um grande nome do elenco da novela das seis. Ela está perfeita.

Para o Saturday Night Live, humorístico da Rede TV. À parte da presença quase sempre desagradável de Rafinha Bastos, o programa, sem dúvida, apresenta um humor consistente e de qualidade. Não é uma comédia muito fina, mas muito bem-elaborada. Os humoristas da atração são, em sua maioria, competentes e muito inteligentes. Destaque para Renata Gaspar, a mais proeminente deles. Suas imitações em geral são engraçadíssimas. 



Vaias: Para o Casseta e Planeta, Vai Fundo!, humorístico da Rede Globo. Os cassetas, que há anos vinham se arrastando em um programa ruim, chato e de mau gosto, resolveram retornar em um projeto que, como já era previsível, manteve o tom ultrapassado e inconveniente da atração anterior. Algo muito distante dos brilhantes roteiristas que ajudaram a coroar sucessos como a TV Pirata. É uma pena.

Mais uma vez, o blog bate na tecla do excesso de personagens em Salve Jorge. Definitivamente, é muito difícil, para qualquer autor, conduzir tantas histórias simultaneamente. Folhetins como Páginas da Vida provaram que uma quantidade demasiada de tramas pode comprometer a qualidade de uma novela gravemente. O número de personagens idealizado por Glória Perez seria até adequado em uma novela com mais de uma fase (como Renascer) ou em uma novela em que as tramas vão começando e terminando ao longo do folhetim, sem, contudo, acontecerem necessariamente ao mesmo tempo (como em Insensato Coração). A ideia de Glória, entretanto, é impraticável. Só turba a sua dramaturgia, reduz a importância do eixo protagonista da novela e não fideliza o telespectador, que não tem, é claro, paciência para acompanhar a condução de todas as tramas.

sábado, 10 de novembro de 2012

Aplausos: Para Caio Blat, o Fernando de Lado a Lado. Bissexto na televisão, o ator prova, com as suas recorrentes demonstrações de brilhantismo, que é, de fato, um dos melhores atores de sua geração. Ainda que seja jovem, Caio apresenta recursos dramáticos avançados e geralmente desenvolvidos apenas por aqueles que possuem mais experiência.

Para Débora Duarte, que também vem arrasando na novela das seis. Dona Eulália, sua personagem em Lado a Lado, é uma vilã típica da Escola Gilberto Braga de fazer novela, oscilando entre o golpismo jocoso e traços sérios de vilania. Débora, que há muito tempo merecia um papel assim, está aproveitando muito bem o presente, como já era esperado. Destaque para as cenas das últimas semanas, em que sua personagem confronta Fernando, interpretado por Caio Blat. Os dois atores reinaram em cena e deram uma aula de atuação.

Para Lado a Lado, que além de seus indiscutíveis atributos de texto, direção e elenco, vem se consagrando, também, como conjunto. O folhetim de João Ximenes Braga e Cláudia Lage já conquistou, pelo menos para este blog, o posto de melhor novela do ar.

Para Nanda Costa, a Morena de Salve Jorge. Segundo Glória Perez, a atriz está sendo bastante criticada por sua atuação na novela das nove. Para o blog, porém, Nanda está corretíssima. A personagem, aliás, é ótima. Morena é, antes de tudo, uma completa subversão de valores. Sem dúvida, a mocinha de Nanda é um dos grandes (e poucos) pontos fortes da trama do horário nobre. Em uma novela repleta de repetecos, a protagonista é um dos raros momentos de frescor e novidade.

Para Carolina Dieckmann, que, indiscutivelmente, conseguiu roubar a cena nas últimas semanas. Com uma atuação comovente e bastante competente, a atriz logrou êxito ao compor Jéssica, uma das mulheres traficadas por Lívia (Cláudia Raia) em Salve Jorge. Carolina vem dando provas que, à parte de sua fama de pessoa difícil, é uma excelente atriz. A trama do tráfico de mulheres, a propósito, é, junto com o drama de Morena (Nanda Costa), a melhor parte da novela.





Vaias: Para o excesso de tramas em Salve Jorge, fator que deixa a novela extremamente enfadonha e desinteressante. O número de histórias que pululam na tela durante a sua exibição causa um evidente efeito de desvio de atenção, fazendo com o que o público, com toda a razão, não consiga se fidelizar com a trama de Glória Perez. 

Para o excesso de repetições estruturais que tomam conta de Salve Jorge. Além do problema do imoderado número de personagens, existe, também, a sensação de repeteco em toda a estrutura da novela. Os dilemas, de modo geral, são muito parecidos com outros tratados em novelas anteriores da mesma autora. Para completar, atores como Antonio Calloni e Jandira Martini foram escalados para papeis semelhantes a outros que já interpretaram em outras novelas de Glória Perez. Por fim, a escritora, infelizmente, não vem conseguindo manter o mesmo brilhantismo demonstrado em outras tramas internacionais, como O Clone e Caminho das Índias. Por incrível que pareça, o núcleo estrangeiro, que é sempre ponto forte em novelas de Glória, é, em Salve Jorge, o mais chato da trama.

Para Cláudia Raia, a Lívia Marino de Salve Jorge. Com um grande personagem nas mãos, a atriz, ao menos até aqui, ainda não conseguiu construir uma composição corporal adequada ao ethos de uma vilã classuda, discreta e elegante. Sua atuação, em última análise, fica estranha, robótica e artificial.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Lado a Lado: Audiência em Baixa, Qualidade em Alta

Lado a Lado, novela das 18 horas, chama a atenção por sua qualidade. Com uma dramaturgia bem-escrita, bem-desenvolvida e bem-amarrada, a trama de João Ximenes Braga e Cláudia Lage encanta por causa de seu alto grau de acabamento textual. O folhetim, a propósito, tem um conceito diferente em relação à maioria das novelas de época exibidas até aqui. Lado a Lado, vale dizer, não se coloca como uma trama de costumes datados. Antes de mais nada, suas histórias se desenvolvem nos moldes contemporâneos, com conflitos que podem muito bem acontecer em meio às nuances dos nossos tempos. A própria trilha sonora, totalmente atual, indicia que o objetivo da novela não é retratar o código moral do início do século XX, mas olhar para o passado com as tintas do terceiro milênio. 

Mas por que a escolha desse contexto histórico específico? Ora, os anos 1900 foram fundamentais para a formação da estrutura social presente no Rio de Janeiro atual. Um contexto recheado de acontecimentos importantes: a reforma urbana, o surgimento dos morros, as revoltas da vacina e da chibata, entre outras ocorrências que justificam toda a configuração presente, hoje em dia, na metrópole carioca. Assumir tal conjuntura como pano de fundo traz à tona, certamente, discussões essenciais aos principais problemas que assolam a sociedade do Rio nos anos 2000: a desigualdade social, a repressão por parte do poder público, a falta das garantias básicas de sobrevivência. O discurso de Laura (Marjorie Estiano), Zé Navalha (Lázaro Ramos) e Edgard (Thiago Fragoso) são propositadamente avant-garde, isto é, representam contestações que representam, obviamente, vozes da contemporaneidade.  Um deslocamento perfeito.

À parte disso, a novela é um primor em direção e em elenco. Tudo é perfeito: a fotografia, os cenários, os figurinos, a já supracitada trilha sonora e a direção de arte. O elenco, então, é um deleite à parte. Dennis Carvalho soube reunir, sem dúvida, o melhor elenco dos últimos tempos: Lázaro Ramos, Camila Pitanga Marjorie Estiano, Thiago Fragoso, Cássio Gabus Mendes, Milton Gonçalves, Alessandra Negrini, Patrícia Pillar, Maria Padilha, Isabela Garcia, Caio Blat, Tuca Andrada, Paulo Betti, entre outros. Além de atores experientes, a novela também traz excelentes revelações: Álamo Falcó e Rui Ricardo Diaz são dois bons exemplos.

Ainda assim, Lado a Lado continua patinando no Ibope. Fenômeno parecido assombrou novelas como A Vida da Gente, que registrou, em seu último capítulo, apenas 23 pontos de audiência, e Força de Um Desejo, que só emplacou mesmo em sua reprise. Em outras palavras, algumas novelas de qualidade ímpar simplesmente não conseguem conquistar números expressivos em medições de telespectadores. Em contrapartida, tais novelas acabam, com o tempo, tornando-se cults, folhetins inesquecíveis e com fãs bastante seletos. Isso quer dizer que a audiência não é um fator relevante? Obviamente, não. A novela é, em seu cerne, um produto de massa; criado, perpetuado e imbricado pelo povo. A relação é de interdependência: o gênero novela cresceu por causa de sua audiência e a audiência, por sua vez, vê na novela um dos principais traços de sua cultura. 

Seja como for, toda regra comporta sua exceção. Certamente, novelas como Lado a Lado fazem parte de uma exceção positiva. Com pouca audiência e muito reconhecimento de críticos e telespectadores assíduos, elas ganham a tacha de injustiçadas. Por outro lado, há as exceções negativas: novelas ruins que conquistaram, de modo inexplicável, o público. Fina Estampa, por exemplo, conseguiu uma das maiores médias no Ibope dos últimos 4 anos. Porém, não obteve nenhum reconhecimento. A novela de Aguinaldo Silva, de tão ruim, ganhou o estigma de supervalorizada. De qualquer forma, é bem provável que, daqui a uns anos, ninguém se lembre das caricatas e dispensáveis aventuras de Griselda, Crô e cia. Em contrapartida, Lado a Lado, Força de Um Desejo e A Vida da Gente têm tudo para ficar, durante muito tempo, na memória de boa parte dos brasileiros. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Aplausos: Para Suburbia, novo seriado de Luiz Fernando Carvalho. Com uma proposta bastante original em TV, a produção abusa da qualidade. Um primor em texto, direção e elenco. Destaque para os planos de câmera, para os diálogos e para excelente trilha sonora. Nota dez.

Para Lado a Lado, que ganhou ainda mais fôlego com a trama do rapto do bebê de Isabel (Camila Pitanga). A cena foi emocionante e a novela continua primorosa. Patrícia Pillar, com uma composição completamente diferente de Flora, a vilã emblemática que interpretou em A Favorita, continua impecável como Constância, a grande megera da novela das seis.

Para Glória Menezes, que, entra ano e sai ano, continua no posto de uma das melhores atrizes do Brasil. Sua participação em Louco Por Elas é adorável e a atriz, como de costume, dá show.

Para Sessão de Terapia, série exibida pelo Multishow. Dirigida por Selton Mello, a produção traz diálogos muito bem-construídos que surgem de conversas entre um psicanalista, Zé Carlos Machado, e seus pacientes. Vale a pena conferir.

Para Mariana Lima, Maria Luísa Mendonça e Selma Egrei, trio de excepcionais atrizes que vem dando um show em Sessão de Terapia. Em personagens dramáticos e complexos, Mariana, Maria Luísa e Selma usam todos os seus vastos recursos dramáticos com segurança e maestria. 



Vaias: Para os capítulos mais recentes de Salve Jorge. Se os dois primeiros episódios da nova novela de Glória Perez agradaram, o mesmo não pode ser dito dos capítulos posteriores. Além de uma overdose de tramas e personagens desnecessários, a história do folhetim não anda muito dinâmica. Problema grave se considerarmos que a novela está, ainda, em seu primeiro mês, momento em que é preciso fidelizar o telespectador.

Embora a trama tenha sido muito bem-idealizada, a execução da cena em que o bebê de Isabel foi raptado , em Lado a Lado, teve os seus furos no enredo. Não ficou muito claro, por exemplo, como Constância (Patrícia Pillar) sabia que a criança ainda não nascida seria do sexo masculino, o que possibilitou que ela arquitetasse, de forma sagaz, a troca do infante saudável por um menino morto. Fica a dica.

Para os programas sensacionalistas que povoam os fins de tarde da Band e da Record. Aquilo que é mostrado em produtos como Brasil Urgente e Cidade Alerta se aproxima muito mais de um veículo de terrorismo barato do que de um jornalismo correto e razoável. Além dos mais, os apresentadores desse tipo de programa irritam com entonações e gestos mais apropriados a mesas de boteco. Um saco.

Vaias, também, para a reprise de Da Cor do Pecado. A exibição original já não justificava uma primeira reprise, visto que a novela é fraca e teve um sucesso injustificado. Uma segunda exibição, então, não tem a menor explicação. O resultado está aí: a novela vem sendo cortada sem nenhum compromisso com os (poucos) telespectadores do folhetim. A Globo, que se gaba de seu "padrão de qualidade", mostra todo o seu amadorismo nessas horas. É importante pensar que, em espaços como o Vale a Pena Ver de Novo, é preciso privilegiar a qualidade em detrimento da audiência da exibição original. Força de Um Desejo, por exemplo, patinou no IBOPE e arrebentou em sua reprise. Fruto de seu alto grau de qualidade. O público da tarde, por incrível que pareça, sabe reconhecer novelas de qualidade. E esse não é caso, definitivamente, da estereotipada, previsível e rasa Da Cor do Pecado.

Por fim, vaias para o clichê e repetitivo Como Aproveitar o Fim Do Mundo, de Alexandre Machado e Fernanda Young. O seriado é engraçadinho e tem elementos comuns aos roteiros da dupla. No entanto, o formato da série é repetitivo e reproduz várias técnicas já usadas pelos autores em obras anteriores. Nada de original. Ao que parece, a dupla vem tentando resgatar o sucesso de Os Normais, mas não consegue chegar nem perto. Em última análise, suas séries já se tornaram enfadonhas e cansativas. Mais do mesmo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Vale a Pena Conferir: Suburbia.

Dificilmente, o blog se atenta a séries e seriados. No entanto, uma produção da Rede Globo chamou a atenção por sua extrema qualidade: Suburbia, obra dirigida pelo magistral Luiz Fernando Carvalho. Desde o início, o seriado trouxe uma proposta diferente: uma direção que radicalizou o realismo, um roteiro que privilegiou o dinamismo das situações cotidianas, além de atuações bastante marcadas por um naturalismo extremo. Seguindo essas diretrizes, o jogo de câmeras causou, propositadamente, certa identificação com a vida corriqueira: não vemos o mundo com a mesma linearidade e estabilidade das produções ficcionais. Tudo é instável, fragmentado e depende, é claro, do nosso campo de visão. Carvalho, vale dizer, conseguiu passar a mensagem muito bem. O roteiro, a propósito, também seguiu esse caminho. Nada de diálogos com marcações fortes: tudo flertava com o fluxo de improviso. Por fim, cabe elogiar a belíssima atriz que serve de protagonista, Erika Januza. Desde já, percebe-se que ela tem futuro. Ademais, duas coisas devem ser destacadas: a primeira é a participação largamente majoritária de negros no cast da série. Em um país de metade negra, chega a ser assustador que as novelas e os demais produtos televisivos exibam teledramaturgia quase que exclusivamente encenada por gente branca. O negro, infelizmente, é raridade na TV. Mas a história, ainda bem, é diferente em Suburbia. A segunda coisa que merece ser mencionada é a fina crítica social que subsiste nas entrelinhas do seriado: a acadêmica branca e abastada é instruída e estudada, mas não se furta em explorar o trabalho de uma criança negra e fragilizada. Do mesmo modo, o patrão estupra a empregada negra sem nenhum pudor, evidenciando a forte relação de hierarquia que existe, não só entre brancos e afrodescendentes, mas entre homens e mulheres. Enfim, Suburbia mal estreou e já dá sinais de que, assim como Hoje é Dia de Maria, veio para marcar. 

sábado, 27 de outubro de 2012

Aplausos: Para a estreia de Salve Jorge, novela das 21 horas escrita por Glória Perez. Apesar do excesso de personagens, a escritora vem conseguindo, até o momento, construir uma história coesa e interessante. Destaque para o núcleo de Leonor (Nicete Bruno), Rachel (Ana Beatriz Nogueira) e Aída (Natália do Valle), que tem tudo para emplacar. Além disso, a trama envolvendo Jéssica (Carolina Dieckmann), Lívia Marino (Cláudia Raia) e Wanda (Totia Meirelles) também promete causar bastante comoção.

Um elogio especial à mocinha morena (Nanda Costa), que representa um ato de coragem de Glória Perez. Em um país tão machista, moralista e hipócrita, é bastante louvável que a autora tenha construído uma protagonista que subverte uma série de preconceitos. Morena é mestiça, mãe solteira, funkeira e nascida na favela. Uma série de características completamente diferentes do padrão socialmente imposto. Um avanço.

Para Glória Pires, que vem demonstrando toda a sua versatilidade como a cômica Roberta, de Guerra dos Sexos. Acostumada a papeis mais dramáticos, Glória, ao contrário dos que os mais pessimistas esperavam, está arrebentando na pele da lutadora Roberta.

Para Fernanda Lima, sem dúvida, uma das melhores apresentadoras da atualidade. Ela consegue, com eficiência, transformar o enfadonho Amor & Sexo (que é cansativo por causa do evidente conservadorismo da emissora carioca) em algo interessante. Fernanda é uma habilidosa comunicadora.

Para Maria Padilha, a Diva Celeste de Lado a Lado. Atriz bissexta na televisão, Maria está primorosa no papel de uma grande diva do teatro, provando, mais uma vez, que é uma profissional magnífica. Com certeza, é um dos fortes da novela. É sempre agradável vê-la na televisão.

Para os últimos capítulos de Gabriela, que surpreenderam pela qualidade de texto. Mesmo não sendo, definitivamente, um dos fortes de Carrasco, a adaptação vem, recentemente, conseguindo comover com sensíveis diálogos e cenas bastante bem-desenvolvidas. Destaque para belíssima cena em que Gabriela (Juliana Paes) consola Dona Doroteia (Laura Cardoso), depois que a família da beata a abandona. O desempenho de Laura foi tão espetacular que, em certo momento da cena, Juliana chorou de verdade.

A propósito, outro elemento positivo do texto de Carrasco é sua abordagem mais liberal. À parte de algumas pieguices, Gabriela trouxe para a TV uma série de personagens subversivas em relação à moralista sociedade de Ilhéus. O autor aproveitou a deixa para, de modo interessante, povoar a comunidade baiana de tipos como a cabocla que dispensa o casamento (caso da personagem-título) ou a ex-prostituta beata que confessa que gosta de sexo (Dona Doroteia).




Vaias: Para Malhação, que, entra ano e sai ano, insiste em uma ideia de jovem que não existe. Os verdadeiros dilemas adolescentes, que são, sem dúvida, muito mais interessantes, acabam absorvidos por uma espécie de cartilha didática inserida em um mundo fantasioso e paradigmático. Quem é ou já foi jovem dificilmente se identifica com a adolescência retratada no seriado. Questões como sexualidade, uso de drogas e conflitos familiares não são abordadas ou são abordadas de modo extremamente raso. Um saco.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Gabriela: Considerações Finais

Gabriela termina, sem dúvida, com impressões controvertidas. De certo modo, o retorno da dramaturgia da Rede Globo às tramas regionalistas foi bastante positiva. Foi prazeroso rever, ainda que extremamente distorcido, o universo de Jorge Amado e do Nordeste brasileiro. Ademais, algumas inovações de Walcyr Carrasco foram, inegavelmente, inteligentes. A inclusão de personagens como Dona Doroteia, interpretada divinamente por Laura Cardoso, Miss Pirangi, defendido de modo fantástico por Gero Camilo, e Lindinalva, que ganhou a interpretação correta (mas não muito brilhante) de Giovanna Lancelotti, deram vigor e emoção à adaptação. Também é evidente que o autor conseguiu, de modo eficiente, desenvolver tramas que já existiam na versão de Walter George Durst. A história Sinhazinha (Maitê Proença) e Osmundo (Erik Marmo) comoveu o Brasil. Do mesmo modo, Malvina (Vanessa Giácomo), Mundinho Falcão (Mateus Solano) e Gerusa (Luiza Valdetaro) também ganharam bons momentos durante a novela.

No entanto, o folhetim de Carrasco pecou bastante justamente por conta de seu estilo piegas, infantil e previsível. Núcleos como o de Glória (Suzana Pires) e o de Tonico Bastos (Marcelo Serrado) sofreram com díálogos constrangedores e completamente dispensáveis. O estilo marcante carrasquiano também atravessou o caricato e pobremente construído Bataclan, que foi equivocadamente afrancesado nessa versão. A propósito, algumas interpretações foram, gritantemente, sofríveis: Marcelo Serrado, que desde suas participações nas novelas da Rede Record é over, chato e limitado, mais uma vez pesou a mão em sua composição e fez de Tonico Bastos um dos piores personagens do ano. Ridículo. Ivete Sangalo, como já era de se esperar, não conseguiu passar de uma interpretação abaixo da média. Um ótimo personagem desperdiçado por uma figura que, embora seja bastante simpática e uma cantora de sucesso, não tem condições de levar um papel tão relevante. A trama central também perdeu força. Diante de um espectro de personagens mais interessantes, Gabriela (Juliana Paes) passou batida. Juliana, aliás, não teve o melhor de seus desempenhos.

Enfim, se, por um lado, a novela de Walcyr Carrasco cumpriu a função de repercutir, causar comoção e atrair a atenção do público jovem para tramas interioranas, por outro, a veia caricata do autor pesou, em muitos momentos, contra o conjunto da trama. Sem dúvida nenhuma, Carrasco teve os seus méritos, como já supracitado. Contudo, é preciso que, ao longo de seus próximos trabalhos, ele tente, pelo menos, relativizar alguns aspectos cômicos e burlescos que, infelizmente, passam do limite do razoável. De qualquer forma, sua novela das onze mostra, mesmo que por caminhos tortos, algum amadurecimento. Gabriela é, com certeza, a melhor novela de Carrasco desde O Cravo e A Rosa.

Avaliação: RAZOÁVEL


(Espectro de avaliação: Péssimo, Ruim, Razoável, Bom, Ótimo)

domingo, 21 de outubro de 2012

Aplausos: Para José de Abreu, que encerrou com louvor a sua participação em Avenida Brasil. Dono de uma atuação inspirada, o intérprete de Nilo consagrou o seu personagem na galeria de grandes papeis da televisão brasileira. Ator fenomenal.

Para Gero Camilo, o Miss Pirangi de Gabriela. O ator, já conhecido por ser um dos melhores do país, conseguiu interpretar um estereótipo sem cair em uma atuação rasa, forçada e fácil. Preferiu recorrer às nuances, exercício que só um grande ator tem capacidade de fazer.

Para Drica Moraes, a Nieta de Guerra dos Sexos. Se a novela, até aqui, ainda não convenceu totalmente, a personagem, por sua vez, já mostrou a que veio e tem bastante carisma. Drica, sem dúvida, é um dos pontos fortes da novela.

Para Amora Mautner, diretora geral de Avenida Brasil. Ao que parece, ela é a grande responsável pela "cultura de improviso" implementada no texto da novela. Sem dúvida, esse foi um dos grandes elementos que contribuíram para a direção impecável que permeou a novela das nove. Um grande trabalho.



Vaias: Algumas cenas do remake de Guerra dos Sexos, o prometido grande lançamento da Rede Globo para 2012, mostram-se extremamente anacrônicas, fato que revela uma equivocada falta de atualização. Remake, por mais nostálgicos que sejamos, é uma obra de adaptação e não de mera repetição. Situações novas precisam ser inseridas e o vocabulário quase sempre precisa ser totalmente reescrito. No entanto, o que vem sendo produzido e exibido pela emissora é uma mera reprodução da versão de 1983 que, em que pese ser um folhetim maravilhoso, foi escrita para o público de uma época completamente diferente. Isso não quer dizer que a trama principal, é claro, que a tal Guerra dos Sexos, seja ultrapassada, como insistem em dizer por aí. Pelo contrário, ela é extremamente atual. A forma como vem sendo contada, porém, não cola nos dias de hoje. De todo modo, fica a dica: remakes são novas novelas. Ivani Ribeiro, quando reescreveu Mulheres de Areia, inseriu ineditismos e até incluiu a trama de outra novela sua, O Espantalho, no contexto da trama das gêmeas interpretadas por Glória Pires. Maria Adelaide Amaral, no mesmo sentido, soube juntar, com maestria, duas antigas novelas antigas de Cassiano Gabus Mendes na adaptação de Ti Ti Ti. A mesma Maria Adelaide reescreveu boa parte de Anjo Mau. E por aí vai.

Vaias, também, para a sequência em que Adauto, personagem de Juliano Cazarré em Avenida Brasil, revela que o seu segredo é gostar de chupeta, completamente desnecessária para um último capítulo.

sábado, 20 de outubro de 2012

Avenida Brasil: um novelão meio manco

Avenida Brasil teve o mérito de parar o país. Com 51 pontos de audiência, a novela escrita por João Emanuel Carneiro consagrou-se como o maior sucesso da televisão desde Caminho das Índias. Os motivos pra isso, é claro, não são fortuitos e podem ser listados com segurança. Primeiramente, cabe elogiar a direção, responsável por toda a identidade do folhetim. Com pinta cinematográfica, Avenida Brasil revolucionou, sim, mas muito mais na forma do que no conteúdo. Os diálogos baseados no improviso (ideia da talentosa diretora Amora Mautner), a trilha incidental arrasadora e os efeitos finais de congelamento foram só alguns elementos que coroaram esse grande sucesso.

O elenco, certamente, também foi brilhante. Vera Holtz e José de Abreu fizeram uma dupla inesquecível, interpretações impecáveis e sustentadas por composições ainda mais geniais. Débora Falabella apenas confirmou a sua condição de uma das melhores atrizes de sua geração. Conseguiu, perfeitamente, demonstrar todo turbilhão emocional de sua Nina. Murilo Benício também deu show. O ator, muitas vezes por um esperto jogo de sobriedade e efusividade, conseguiu construir um Tufão extremamente carismático e levemente recalcado, um tipo bastante brasileiro. Constituiu, em outras palavras, um personagem encantador. Marcello Novaes, por sua vez, espantou toda e qualquer desconfiança a respeito de sua capacidade. Arrebentou. Os coadjuvantes, aliás, também tiveram a sua vez: Dos mais veteranos, como Marcos Caruso e Débora Bloch, aos novatos Juliano Cazarré e Cacau Protásio.

No entanto, o grande nome da novela das nove foi, sem dúvida, Adriana Esteves. Com uma interpretação visceral, em um papel que, em que pese ter sido apenas a segunda opção do autor, parece ter sido escrito para ela. Esteves, conhecida por atuações mais intensas, emocionou e convenceu na pela da diabólica Carminha. Entrou pra história e já é, provavelmente, a melhor atriz do ano.

Por fim, o texto de João Emanuel teve seus momentos de grandiosidade. Em uma cena, Santiago (Juca de Oliveira), a la Raskolnikov, personagem emblemático criado pelo escritor russo Dostoiévski, adota um discurso de uma suposta superioridade pertencente àqueles que estão acima da moral. Além dessa, outras referências da novela foram muito felizes: Kill Bill, Flaubert, Little Miss Sunshine, Eça de Queirós, entre outras, fizeram com que Avenida Brasil tivesse seus ricos instantes de intertextualidade.

Outro ponto forte do texto do autor: a subversão dos valores familiares. Assim como o nosso Código Civil, João Emanuel acertou em retratar o amor entre filhos adotivos e seus pais, demonstrar novas formas de relações afetivas (como a trama de Cadinho e suas esposas ou o casamento do trio Roni/Leandro e Suellen). Por outro lado, porém, pecou por estereótipos excessivos entre os coadjuvantes que contrastaram,  significativamente, com a riqueza de nuances de Carminha (Adriana Esteves), antagonista da novela. A vilã do folhetim, diga-se de passagem, foi bem-escrita e bem-desenvolvida, ao contrário de muitos personagens que se perderam na fraqueza do enredo tecido pelo autor.

Sendo assim, se o texto de João Emanuel foi, em muito momentos, um ponto forte, pode-se dizer que, da mesma dramaturgia do autor, pulularam diversos pontos fracos. Carneiro, sem dúvida, demonstrou deficiências de roteiro que comprometeram a lógica estrutural de sua trama. O famigerado (e inexistente) pen drive de Nina (Débora Falabella) é só um exemplo. A conversão repentina de Suellen (Isis Valverde) em boliviana traficada é outro. Pontos que revelam, cada um à sua maneira, uma falta de planejamento do autor quanto à trama: uma preocupação excessiva em forjar clímax e ganchos sem sentido, comprometendo e atropelando a lógica de acontecimentos da trama. O último capítulo, fraquíssimo, por sinal, também teve os seus buracos: Adauto (Juliano Cazarré), teoricamente analfabeto, estudou em um colégio interno. Personagens como Betânia (Bianca Comparato), Lúcio (Emiliano D'ávila) e Begônia (Carol Abras) simplesmente desapareceram. Falta à João Emanuel um reforço nesse sentido.

A propósito, o último capítulo foi um dos piores dos últimos anos, em contraste com a sua audiência arrasadora. À exceção de Carminha e Nina, que protagonizaram uma emocionante cena final, o resto do episódio foi completamente dispensável. A sequência em que Adauto (Juliano Cazarré) revela o seu vício por "chupeta" foi extremamente constrangedora. Da cena, nada se aproveita: nem como relevância, nem como metáfora. Um horror. Ninguém soube muito bem o que houve com diversas tramas importantes do folhetim, entre elas, a do o trio Roni (Daniel Rocha), Suellen (Isis Valverde) e Leandro (Tiago Martins): uma solução, a meu ver, elogiosa, porém, pouco explorada, já que a elo entre os dois homens do "trisal" foi, sem dúvida, negligenciada.

Enfim, Avenida Brasil, sem dúvida, marcou uma época. Pode-se dizer que, no frigir dos ovos, a novela de João Emanuel Carneiro, assim como Barriga de Aluguel e sua "barriga" de tantos meses, ou como Terra Nostra e o seu roteiro, por vezes, enfadonho, entrou pra história como um novelão meio manco. Se inovou em direção, diálogos e elenco, pecou bastante em sua dramaturgia de enredo, extremamente mal-amarrada, mal-elaborada, mal-desenvolvida, atropelando, muitas vezes, a lógica mais simples de um roteiro. Também teve suas dubiedades morais: subverteu relações em alguns aspectos (um ganho em relação à moralista A Favorita), mas consagrou preconceitos bobos, rasos e anacrônicos em outros. Sem dúvida, uma novela que não pode ser submetida a uma avaliação fácil

AVALIAÇÃO: BOA 



domingo, 14 de outubro de 2012

Aplausos: Para Camila Pitanga e Milton Gonçalves, para a cena em que Afonso pede perdão à Isabel em meio a uma peça de teatro, em Lado a Lado. A sequência foi emocionante, bem-dirigida, bem-interpretada e passou muita verdade ao telespectador. Cena belíssima.

Lado a Lado, a propósito, é maravilhosa. A cada semana, a trama fica mais cativante e encantadora. O trabalho histórico também é muito bem-realizado e o elenco é, sem dúvida, matador. Ademais, é importante destacar a qualidade da trilha sonora.

Outros atores que mereceram aplausos na última semana: Débora Falabella e Marcello Novaes, de Avenida Brasil. Ela, no meio de uma pneumonia, cresceu em cena e arrebentou na sequência em que Max é assassinado. Marcello, por sua vez, deu mais um show.

Por fim, aplausos para Laura Cardoso, que arrasou nas cenas em que Dona Doroteia é desmascarada por Coronel Coreolano (Ary Fontoura), em Gabriela. Apenas com o olhar, Laura conseguiu passar todos os sentimentos que sua personagem sublinhava. Atriz maravilhosa. 

Vaias: Para What's On, programa de entretenimento do Universal Channel. Além de chato, repetitivo e superficial, o programa é exibido a cada intervalo das séries do canal, o que causa uma overdose extremamente desnecessária. Um saco.

Para Reynaldo Gianecchini, que definitivamente não encontrou o tom de Nando, seu personagem em Guerra dos Sexos. Além disso, sua composição é muito parecida com o seu desempenho como Pascoal, o borracheiro cômico que interpretou em Belíssima.

domingo, 7 de outubro de 2012

Aplausos: Para Adriana Esteves e Marcello Novaes, que arrebentaram nas sequências da última semana de Avenida Brasil. Adriana, com sua interpretação extremamente visceral, vem demonstrando bastante entrega e emocionando em cenas dramáticas, revelando uma intensidade quase trágica que, se parece exagerada e artificial em momentos cotidianos, impressiona nos instantes de desespero e tensão. Marcello, por sua vez, ator tradicionalmente contestado e estigmatizado por papéis rasos e ruins, está provando que é capaz de interpretar tipos mais interessantes com indiscutível maestria. 

Vaias: Para Bianca Bin, a Carolina de Guerra dos Sexos. Embora Lucélia Santos tenha eternizado a vilã-ninfeta mais odiada dos anos 80, seu legado não parece ter chegado aos braços da nova intérprete de Carolina. Péssima em cena, Bianca Bin parece não ter entendido minimamente a sua personagem. Carolina, ao menos na ideia, deveria oscilar entre a mocinha angelical e a diabólica oportunista. Bianca, pelo contrário, é igual em todas as cenas e quase sempre não consegue sair da linha da vilã-que-finge-que-é-boazinha, sem a menor nuance. Lucélia Santos, por sua vez, fazia com que sua Carolina, em seus momentos de bondade, convencesse até mesmo os telespectadores de suas boas intenções.

domingo, 30 de setembro de 2012

Aplausos: Para o último capítulo de Cheias de Charme, que conseguiu encerrar com maestria um dos maiores trabalhos do milênio. Com coerência, um ritmo agradável e muita cor, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira conseguiram fazer, até o momento, a melhor novela do ano e uma das melhores já exibidas. O derradeiro episódio, em consonância com a grande obra, emocionou, divertiu e consagrou definitivamente esse musical com ares de folhetim. Perfeito. Destaque para o show final com os protagonistas e para a belíssima cena de encerramento do casal Sarmento, um show de plano de câmera e fotografia.

Vaias: Para o The Voice Brasil, que embora acerte no respeito demonstrado aos candidatos, peca pela falta de emoção e para a composição de técnicos, digamos assim, homogênea e não muito técnica. Os candidatos escolhidos, quando talentosos, são muito parecidos e não compõem uma diversidade que é fundamental a qualquer concurso com ares de reality. Em compensação, outros candidatos mais tarimbados e interessantes são dispensados sem muita explicação. A grande questão, talvez, seja a forma de pensar a música, que é muito semelhante entre todos os técnicos, o que não gera, no telespectador, a expectativa natural que deve cercar um corpo de jurados. Um saco. O destaque negativo fica, é claro, para Cláudia Leitte, que é chata, irritante e extremamente cansativa.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Com C de Cheias de Charme

Cheias de Charme chegou ao fim com o mérito de ter marcado uma época. Certamente, muitos se lembrarão, daqui a uns anos, das impagáveis aventuras de Penha, Cida, Rosário, Chayene, Fabian e Socorro. Personagens que, de um modo ou de outro, entraram para o imaginário popular de forma arrebatadora. E o sucesso da novela, que contagiou o Brasil com a história das domésticas emergentes, foi mais do que merecido: um primor de dramaturgia, direção e elenco.

A primeira coisa a ser destacada no contexto da obra é realmente a grata revelação de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. Autores que não se intimidaram com o peso da estreia e fizeram, ao contrário, uma novela redondinha, engraçada, colorida e inteligente. Chamou a atenção, na dramaturgia, a diversidade que povoou a classe C retratada pelos escritores, fugindo da obviedade do estereótipo vazio e enlatado diariamente em produções da Rede Globo. Filipe e Izabel retrataram, acertadamente, o que melhor acontece no contexto das camadas populares: a pluralidade. Nesse cenário, o Borralho foi povoado por tipos bastante simpáticos: a evangélica batalhadora, o grafiteiro engajado, a empregada negra que serve como arrimo de família, explicitando, sutilmente, na medida em que esses elementos são adequados a uma comédia, pequenas tensões inerentes ao estilo de vida desses personagens.

Como contraste, a novela também mostrou a vida dos ricos moradores de um condomínio muito próximo e constantemente frequentado pelos moradores da comunidade carente, uma forma sagaz de demonstrar questões interessantes como a função de dormitório que certas vilas têm em relação à cidade (verdadeiros depósitos de trabalhadores de baixa renda para bairros mais ricos) ou a crescente e positiva mistura de classes decorrente da constante emergência e do aumento do poder de consumo da população menos abastada. Em outras palavras, os autores conseguiram explicitar, de maneira extremamente perspicaz, as novas configurações de relações sociais em desenvolvimento no século XXI. Tudo isso com muita cor, diversidade, sem estereótipos fáceis e vazios. Nessa conjuntura, a propósito, desenvolveu-se a bem-humorada rivalidade entre patroas e empregadas sem, contudo, descambar para um arriscado e capenga maniqueísmo: o folhetim também contava com patroas bem-intencionadas (como Lygia, personagem de Malu Galli) e empregadas oportunistas (como Socorro, personagem de Titina Medeiros).

Em plano diferente, o texto de Filipe e Izabel também teve mérito por conta de sua qualidade. Grande parte do sucesso da novela, a propósito, deve-se a ele. Em incontáveis momentos, tiradas sarcásticas, trocadilhos bem-sacados e situações esdrúxulas espertamente arquitetadas ditaram o tom do excelente humor veiculado pelo folhetim. Em muitos momentos, tais menções foram tão sutis que fugiram de um telespectador menos atento, sinal claro de que o exercício de escrita diário do folhetim, em que pese ser extremamente industrial, não foi em nenhum momento negligenciado, mas minuciosamente pensado e estruturado com cuidado. Junto a isso, Cheias de Charme trouxe uma série de referências impagáveis, como Lady Gaga, Gabriela e Kill Bill. A receita perfeita de uma novela que, além de popular, cumpriu também a missão de ser pop.

A direção de Denise Saraceni também foi, evidentemente, acertadíssima. Efeitos de transição de cena, o clima propositadamente meio over, cenários, figurinos, trilha sonora, tudo parece ter sido meticulosamente pensado para retratar o universo da classe C. Extraiu-se desse universo, assim, a cor, a alegria, a superação, características traduzidas na fotografia, nas locações, na abertura. Fruto, é claro, da ótima estratégia de retratar o mundo popularesco de forma conceitual. A classe C, neste sentido, tornou-se o tema central da novela, sendo exposta e retratada da melhor forma possível, escapando das caricaturas às quais facilmente se chega sem um olhar mais detalhado sobre esse cenário

Por fim, o elenco da novela das sete foi escolhido a dedo: protagonistas carismáticas, antagonistas impagáveis, coadjuvantes cativantes. Atuações impecáveis foram a regra da novela: Taís Araujo, Isabelle Drummond, Leandra Leal, Cláudia Abreu, Ricardo Tozzi,  Malu Galli, Marcos Palmeira, Humberto Carrão, Aracy Balabanian, Alexandra Richter, Tato Gabus, Giselle Batista, Simone Gutierrez, Rodrigo Pandolfo, Chandelly Braz, Daniel Dantas, Titina Medeiros, entre tantos outros atores com interpretações irrepreensíveis. Um elenco afinado já é, convenhamos, meio caminho andado para o sucesso.

Enfim, Cheias de Charme deixa o horário com certa saudade. Com louvor, conseguiu escapar do engessamento criativo que a recente política de evidência da classe C vem causando aos autores. E escapou, vale dizer, da melhor maneira possível: Transformando o popular em protagonista, tirando-o da posição de apêndice estéril e estereotipado. Prova de que, ao contrário de João Emanuel Carneiro e Aguinaldo Silva, os autores de Cheias de Charme entenderam que, para fazer uma novela com popularidade, não é preciso subestimar o telespectador popular. Pelo contrário, a novela de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, seguindo a esteira das excelentes comédias das sete da década de 80, conseguiu aliar popularidade e inteligência. Enquanto que em Avenida Brasil, por exemplo, o telespectador é colocado como mico de circo, tipo esdrúxulo, cômico e causador do riso fácil, em Cheias de Charme, em sentido oposto, ele se reconheceu, compadeceu-se com seus próprios dilemas e, em última instância, riu de si mesmo. 

AVALIAÇÃO: ÓTIMA


domingo, 23 de setembro de 2012

Aplausos: Para Lado a Lado, novela das 18 horas da Rede Globo. Se o primeiro capítulo foi demasiado morno, os episódios que o seguiram mostraram, em contrapartida, que o folhetim de João Ximenes Braga e Cláudia Lage é recheado de qualidade. Um elenco arrebatador, um enredo cuidadoso e uma direção impecável (destaque para a belíssima fotografia) dão à novela um aspecto de conjunto sincrônico e bem-executado. Destaque para a configuração de tramas que, de forma semelhante ao que acontece em obras de Gilberto Braga, misturam elegância e crítica social. Também chama a atenção o fato de que a novela pretende, como um todo, escapar do engessamento que um tratamento mais rigoroso de história pode proporcionar. Os acontecimentos importantes do início do século XX estão lá, muito bem retratados: a reforma urbana do Rio de Janeiro, o surgimento dos morros, o desenvolvimento das religiões sincréticas afro-brasileiras (que, por sinal, costumam ser bastante discriminadas no Brasil), a decadência da aristocracia imperial. No entanto, a novela, acertadamente, não pretende cair em clichês e amarras conjunturais, característica que pode ser claramente notada pela ótima trilha sonora não-datada e pelo comportamento de paradigma contemporâneo inerente aos personagens. 

Vaias: Para certos excessos de comédia slapstick que pululam, vez ou outra, no roteiro de Cheias de Charme. A novela é ótima, tem esquetes engraçadíssimas, mas frequentemente derrapa em um exagero constrangedor. Na última semana, a trama ganhou a presença da impagável Lady Praga, alter ego de Socorro, vivida pela irrepreensível Titina Medeiros. Porém, o brilho da ótima sacada dos autores foi ofuscado por uma cena em que Chayene (Cláudia Abreu) se transforma na Conga, figura emblemática dos circos tradicionais. Desnecessário. Aproveitando o ensejo, cabe, também, vaiar a presença quase sempre dispensável e irritante de Eloy Di Marco (Gustavo Mendes). O que era pra ser uma sátira bem-humorada e até certo ponto bem-sacada transformou-se em uma caricatura excessiva e mal-elaborada. Mais do que isso, parece que a Rede Globo anda se empenhando muito em promover o rapaz, um humorista que, digamos a verdade, é chatinho e pouco talentoso.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Aplausos: Para Marjorie Estiano, Camila Pitanga e Patrícia Pillar, intérpretes dos principais papéis femininos de Lado a Lado. Em personagens fortes e obstinadas, as três atrizes proporcionam ao telespectador espetáculos diários de atuação dramática. Três profissionais magníficas.

Vaias: Para Sheron Menezes, a Berenice de Lado a Lado. Se o trio principal de atrizes da novela está arrasando, o mesmo não pode ser dito a respeito da intérprete da ardilosa da rival de Isabel (Camila Pitanga). Apesar de segura, Sheron se mostra, com frequência, bastante artificial à frente de seu papel. Talvez o problema esteja, surpreendentemente, em um excesso de segurança. 

domingo, 16 de setembro de 2012

A Esburacada Avenida Brasil

Há algum tempo, este blog vem insistindo em um ponto que parece assombrar a novela das nove: os furos gigantes no enredo da trama. Entre vaias e aplausos, diversas situações foram citadas, um mar de equívocos contabilizados, sem exceção, desde o início da novela. No entanto, a forma pela qual o folhetim é contado, um verdadeiro leque de efeitos de espetáculo, ajudou a disfarçar a dramaturgia capenga que conduziu a trama até a "virada" do capítulo 100. Eis que agora, alguns meses depois, o conteúdo tacanho parece ter saltado aos olhos dos mais devotos telespectadores. O fio central, responsável por conduzir toda a rede de histórias, mostra-se mais frágil a cada dia que passa. 

Nos últimos capítulos, alguns fatos intrigaram os noveleiros: Por que Nina (Débora Falabella), em plena era tecnológica, preocupa-se tanto com a segurança de fotografias físicas contra Max (Marcello Novaes) e Carminha (Adriana Esteves)? Ela poderia salvar tais fotos em e-mails, sites de carregamento de arquivos ou mesmo em um pen drive. De posse de provas tão cabais, por que ela se sujeitaria a ter sua herança roubada e sua liberdade privada por conta de uma série de armações do casal de vilões? Os dois acontecimentos, em qualquer mundo possível, deveriam ter conduzido a mocinha a revelar a verdadeira personalidade de Carminha ao mundo. Por fim, é assombrosa a falta de empenho de Jorginho (Cauã Reymond) em atestar que é filho de Max com um simples exame de DNA. O autor bem tentou contornar essa hipótese, mas é óbvio que o jogador de futebol tem todo o direito de requerer o teste.  

Em suma, esses furos mais recentes (além das imprecisões que o blog já citou por aqui em outras oportunidades) revelam a fragilidade do argumento principal. A vingança de Nina, desde o início, foi mal-planejada, mal-escrita, mal-executada. Se João Emanuel Carneiro queria, de fato, estender a trama central ao máximo, precisaria, primeiro, ter arquitetado uma sucessão de acontecimentos desde o início. Pelo contrário, mostrou-se perdido, fato que pode ser revelado por um simples exemplo: Para dar o mínimo de verossimilhança ao folhetim, o autor precisava ter colocado provas mais frágeis nas mãos de Nina. Fotos e vídeos, hoje em dia, são provas irrefutáveis. Novela é, sim, uma obra aberta. No entanto, um esqueleto minimamente detalhado precisa se fazer presente na mente de qualquer dramaturgo.

Se o argumento principal ficou condicionado a um enredo raso, desestruturado e fraco, é possível dizer que grande parte dessa odisseia mal-sucedida é derivada da excessiva preocupação de Carneiro com o espetáculo sem conteúdo. Em nome de ganchos falsos e clímax forjados, o escritor apresentou o péssimo costume de atropelar as mais básicas cadeias causais de eventos. Em outras palavras, ele dispensou, em inúmeras vezes, a qualidade do enredo e do roteiro, correndo o risco de cair no engodo da licença ficcional. Nisso, esqueceu-se até mesmo do contexto histórico do que era contado, detalhe que só pareceu ser lembrado na hora de enaltecer o estereótipo vazio e sem-graça da suposta Classe C da Zona Norte carioca.

A propósito, do último parágrafo decorrem dois defeitos grandes na exibição de Avenida Brasil: 1) a preocupação com o excesso de dinamicidade deixou, por incrível que pareça, a novela enfadonha. Quando o ritmo frenético é constante e invariável, a trama fica cansativa e estafante. 2) Os estereótipos de Avenida Brasil são irritantes. A evangélica conversora, o homossexual que prefere moda a futebol, a madame preconceituosa da Zona Sul do Rio de Janeiro. Tudo está lá, em doses diárias de preconceitos disseminados sem ter muito um porquê. 

De positivo, Avenida Brasil deixa a repercussão perante o público, a direção e as interpretações de Adriana Esteves e Débora Falabella. É bom sentir o apelo de um folhetim, ainda que ele tenha, estruturalmente, falhas graves que pouco justificam o seu próprio sucesso. Amora Mautner, por sua vez, consagrou-se como a grande responsável pelas melhores partes da trama. Sua direção esperta, que claramente privilegiou a riqueza dos cacos e das improvisações, entra, de algum modo, para a história. Os mesmos elogios podem ser tecidos em relação aos planos de câmera, à fotografia e à trilha incidental. Em relação às intérpretes de Carminha e Nina, pode-se dizer que foram as grandes responsáveis pelos grandes momentos da novela.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Aplausos: Para Dani Calabresa, comediante da MTV. Seja no Furo ou na Comédia MTV, Dani sempre mostra que é uma comediante bastante competente. Boa não só na improvisação, mas também nas tão hilárias e famosas imitações que faz de uma variada gama de celebridades. De Luciana Gimenez à Suzana Vieira, Dani tem muito talento para reproduzir os gestos mais marcantes de suas imitadas. É hilário.

Vaias: Para o primeiro capítulo de Lado a Lado, que embora muito bem-produzido e dirigido, empolgou pouco ou quase nada. Destaque mesmo só para a abertura, embalada por um samba-enredo emblemático da Imperatriz Leopoldinense.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Um Brinde À Pieguice

A qualidade do elenco de Amor, Eterno Amor, continuação da temática espírita começada por Elizabeth Jihn em Escrito Nas Estrelas, prometia, em certa medida, que a novela seria, no mínimo, digna de atenção. Se, por um lado, nomes como Gabriel Braga Nunes, Cássia Kis Magro, Denise Weinberg, Sandra Corveloni, Osmar Prado, Pedro Paulo Rangel, Carolina Kasting, Mayana Neiva, entre outros, chamavam a atenção por conta de uma interessante composição de peças que é raramente alcançada nas escalações (cada vez mais "publicitárias" nas novelas dos últimos anos); por outro, viu-se logo de cara que pouco ou quase nada esses nomes poderiam fazer diante da clara limitação da autora. Jihn, escritora com estilo bem parecido com aquele romancismo cafona propagado em obras de banca jornal, confirmou, em sua última novela, a sua vocação para a falta de habilidade crítica e para a abordagem rasa com a qual costuma tratar dilemas de vários tipos.

A direção, vale dizer, acertou. Rogério Gomes, o Papinha, soube mitigar, dentro do possível, a falta de maturidade da dramaturgia da escritora. Uma fotografia correta e uma trilha sonora que continha, por exemplo, nomes como Johnny Cash e Marisa Monte, deram à novela um aspecto interessante. O diretor, acertadamente, tentou trazer a obra de Jihn para o plano do existencialismo, abordagem traçada, só para mencionar, em filmes como A Árvore da Vida, de Terrence Malick. Obviamente, a tentativa fracassou entre as milhares de pílulas de auto-ajuda barata e crendice mal-fundamentada que a autora, demasiadamente, espalhava pelos capítulos. A novela se tornou, sem sombra de dúvida, solo fértil para um espiritualismo milagreiro, extremamente piegas e recheado de ortodoxia.

A ortodoxia, aliás, esteve presente na configuração da produção. De um lado, os bons e crentes; do outro, os maus e descrentes. Uma espécie de maniqueísmo religioso que tratou, sem pestanejar, o belo fenômeno da fé com superficialidade e dogmatismo. Os vilões da história, encabeçados por Melissa (Cássia Kis Magro) e Fernando (Carmo Dalla Vecchia), eram invariavelmente anti-teístas, fenômeno que explicaria, nas entrelinhas da lógica da novela, a composição de naturezas perdidas e decaídas. Ateus e agnósticos, nesse contexto, foram jogados em um "umbral moral" completamente irreflexivo e superficial. Um discurso tão anacrônico quanto os já proferidos nas diversas perseguições religiosas empreendidas ao longo dos séculos. Outro ponto importante: o sincretismo de religiões mostrou-se extremamente exagerado e deixou transparecer a falta de pesquisa quanto aos embasamentos e preceitos das diversas crenças mencionadas pela história. No discurso do folhetim, tudo era abordado de forma leviana: do espiritismo de matriz kardecista a doutrinas orientais. Tudo isso em um vocabulário pobre e recheado de senso comum. 

Se ao menos a história compensasse, a novela valeria o espaço que recebeu. No entanto, a trama principal foi arrastada, mal-conduzida e pouco envolvente. A pieguice de Jihn, já citada em seus discursos  místicos moralizadores, também esteve presente no fio central de condução da novela. Assim, as cenas entre Rodrigo e Miriam, casal de protagonistas, transformaram-se, em sua maioria, em sequências afins a romances água-com-açúcar enfadonhos e sonolentos. As tramas paralelas, por sua vez, não cumpriram minimamente a sua função. Foram satélites tão mortos quanto o ponto central da história. Nada a ser salvo. 

Antes do fim, eu gostaria de citar algumas atuações negativas. Em que pese o trabalho primoroso de atores como Cássia Kis Magro ou Osmar Prado, o trabalho de Carmo Dalla Vecchia, ator bastante prestigiado pelos diretores nos últimos anos, foi vergonhoso. Uma composição exagerada e bastante equivocada tornou o seu desempenho bastante insatisfatório. Já Andréa Horta, que até conseguiu chamar a atenção do público nos primeiros meses de novela, foi outra que pecou pelo excesso. Ela, porém, já provou, na TV e no teatro, que é uma atriz de mão cheia. Talvez Horta tenha sido prejudicada por sua experiência teatral, que notadamente exige expressões mais incisivas e marcadas. Vale, assim, a dica para essa intérprete extremamente promissora.

De um modo ou de outro, Amor, Eterno Amor revelou, em última instância, que Elizabeth Jihn continua a repetir os erros do passado. Se Escrito nas Estrelas teve o excesso de miticismo lamechas mitigado por uma direção competente, uma sinopse forte e um elenco repleto de ótimos atores (como Antonio Calloni, Zezé Polessa e Débora Falabella), em sua novela mais recente a autora novamente, assim como em Eterna Magia, caiu na arriscada estratégia de transformar o discurso místico em lei universal. 

AVALIAÇÃO DA NOVELA: RUIM

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Aplausos: Para as chamadas de Lado a Lado, próxima novela das seis da Rede Globo. Com um tom que flerta com o documental, as apresentações da trama e dos personagem enchem os olhos pela qualidade de acabamento artístico e dramatúrgico. Figurinos pomposos, cenários bem-feitos, atuações magníficas e um texto promissor. A julgar pelas chamadas, o horário tem tudo para voltar aos bons tempos das novelas de época. Destaque para Marjorie Estiano, Camila Pitanga, Lázaro Ramos, Thiago Fragoso e para os retornos de Alessandra Negrini, Maria Padilha e Patrícia Pillar, atrizes bissextas na televisão. Também vale prestar bastante atenção na estreante dupla de autores, Cláudia Lage e João Ximenes Braga.

Vaias: Para a sequência de Gabriela, em que o Coronel Jesuíno (José Wilker), em cena com Dona Dorotheia (Laura Cardoso) e Coronel Amâncio (Genézio de Barros), pede licença para ir "cagar". A sequência, mais uma do rol de bobagens que essa adaptação trouxe à obra, só explicita os expedientes bobos dos quais o autor se utiliza para tentar alavancar o ibope da novela das onze. Além de demonstrar desespero e apelação, Walcyr Carrasco vem deixando claro, nos últimos capítulos, que não está empenhado minimamente em escrever algo com alguma qualidade. Característica, aliás, que já é marca de sua carreira. Com isso, saem perdendo os telespectadores, a memória de Jorge Amado, a cultura em torno da figura de Gabriela e, é claro, atores do quilate de Wilker, Laura e Genézio que, por força de contrato, são obrigados a encenar cenas do tipo. Uma pena.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Aplausos: Para Adorável Psicose, seriado do Multishow protagonizado por Natália Klein. Ainda que as duas primeiras temporadas tenham sido levemente superiores, a atração conseguiu manter, depois disso, uma divertida abordagem sobre a vida dos jovens contemporâneos. Repleto de sarcasmo, de ironia, e de um politicamente incorreto inteligente e ácido (completamente diferente daquele que nos acostumamos a ver, por exemplo, nos diálogos estereotipados e rasos de Fina Estampa ou Avenida Brasil), o programa acompanha a rotina de Natália, protagonista recém-formada que se envolve, a cada capítulo, nas confusões mais variadas. Vale destacar, também, Juliana Guimarães, intérprete da impagável Doutora Frida.

Vaias: Para a insistência da Rede Record em dar espaço a comediantes de stand-up comedy. O formato, convenhamos, quase nunca é engraçado e é recheado por "humoristas" adeptos das mais entediantes piadas de churrasco. Ainda assim, a emissora paulistana dedica longos minutos de sua programação a essa bobagem. Uma chatice.

domingo, 19 de agosto de 2012

Aplausos: Para o Profissão Repórter, uma rara exceção na programação da Rede Globo. Diante de programas rasos como o Na Moral ou o Encontro com Fátima Bernardes, o jornalístico comandado por Caco Barcelos é um deleite. Por meio de jornalistas jovens, a atração traz pautas interessantes e geralmente abordadas sob diversos aspectos, fato que demonstra, em última análise, a pluralidade de pontos de vista possíveis a respeito de uma mesma questão. Um trabalho fantástico diante do engessamento que a política conservadora da emissora impõe aos seus profissionais de criação.

Vaias: Para Gabriela, que definitivamente virou uma bobagem nas últimas semanas. Cenas com diálogos infantis e extremamente constrangedores tornaram-se cada vez mais frequentes na adaptação, principalmente na boca de tipos transformados por Walcyr Carrasco em alegorias de mau gosto. Figuras como Tonico Bastos e Glória foram totalmente descaracterizadas pela obra carrasquiana. Mesmo Miss Pirangi, personagem inédito do "remake", que começou muito bem-escrito e bem-desenvolvido, perdeu completamente a sua inserção no contexto da sociedade de Ilhéus e sua capacidade de suscitar debates. Falando em descaracterização, também chama a atenção o extremo e raso maniqueísmo que tomou conta da novela das onze. A tentativa de dividir um romance tão profundo em mocinhos e bandidos fez com que Carrasco trouxesse de volta Zarolha, a prostituta mais contestadora do Bataclan. Como se não bastasse, o autor não se furtou em modificar completamente a personagem original em função de seu empreendimento dualista. Enfim, Gabriela se tornou uma novela típica de Walcyr Carrasco: ruim, equivocada, boba e vazia. Quase um pecado em se tratando do potencial dramatúrgico e crítico do livro que serviu de base para a adaptação. Ninguém está dizendo, porém, que um roteiro adaptado tenha que seguir à risca os passos do original. Pelo contrário, modificar uma coisa ou outra pode criar uma obra tão ou até mais rica que a obra de origem. Contudo, Carrasco fez o caminho contrário: suas operações no romance mostraram-se, com o tempo, empobrecedoras. Nesse caso, não há liberdade criativa que o salve.