sábado, 27 de setembro de 2014

O que dá certo e o que dá errado em Boogie Oogie?

O que dá certo:

1) A narrativa: Sem dúvida, Ruy Vilhena mal estreou e já provou ao telespectador que é plenamente capaz de segurar o seu interesse. Os capítulos de Boogie Oogie são espertos, dinâmicos e repletos de pequenas reviravoltas. Algo parecido com os bons tempos de Carlos Lombardi, mas sem flertar com a apelação e a vulgaridade conceitual. 

2) O elenco: Os atores de Boogie Oogie são um show à parte. Todos muito bem escalados, cada um em seu papel. Destaque para o retorno de uma gama de atrizes potentes a papeis realmente à altura delas: Alessandra Negrini (até aqui o grande destaque), Giulia Gam e Betty Faria. Isso sem contar com os protagonistas, todos muito corretos. Isis Valverde, Bianca Bin e Marcos Pigossi tendem a crescer cada vez mais.


O que dá errado:

1) A ambientação: Sem dúvida, a ambientação da atual novela das seis beira o precário. E isto vai além de meros erros de intempestividade de cenários, músicas de trilha e figurino (e olha que são muitos): há equívocos na própria autoria. Para uma novela ambientada em plena ditadura militar, as personagens são definitivamente livres demais. A censura moral, a verdadeira moda da época, pouco aparece. Quando aparece, não se coloca. A censura política é tratada de modo ainda menos cuidadoso: nem chega a ser citada; é ignorada de forma solene. Os militares da novela se parecem mais com os milicos atuais e não agem como protagonistas de um contexto social de autoritarismo. No fim das contas, Boogie Oogie é uma grande festa contemporânea com o tema dos anos 70.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Defesa de Miguel Falabella: porque o politicamente incorreto nem sempre é ultrajante

Miguel Falabella sempre se notabilizou por dar voz a uma série de minorias: com frequência, suas novelas e seriados contam com personagens negros, gays e transgêneros. Por conta disso, recebi com estranheza a denúncia de racismo envolvendo o seu novo seriado, "Sexo e as Negas", um preconceito que, segundo a militância, estaria ligado ao caráter estereotipado conferido às protagonistas.

Mas é óbvio que a dramaturgia de Falabella é politicamente incorreta. E não há, de partida, problema com isso. O politicamente incorreto pode ser, sim, bem utilizado. Costuma ser o caso de Pedro Almodóvar, cineasta espanhol, só para dar um exemplo. Também costuma ser o caso de Miguel Falabella. Ver problemas no termo "nega" é um contrassenso. Antes, penso eu que a postura mais adequada é assumi-lo, agregá-lo, utilizá-lo como estratégia de empoderamento. Algo como as feministas e sua relação com a palavra slut. Não vejo, da mesma forma, motivo para um incômodo diante das protagonistas serem moradoras de uma comunidade. É um retrato, um recorte, um quadro sociológico comum e que pode, por que não, ser retratado como ficção. É até preconceituoso pensar que, por serem faveladas, as mulheres negras não mereçam o glamour de um seriado global: a médica é mais exemplo do que a faxineira? Uma bobagem. 

É claro que desconstruir estereótipos é uma necessidade premente. Isso passa por retratar mulheres negras em cargos que exigem maior qualificação acadêmica. Algo que Miguel Falabella, vale lembrar, já fez em outras oportunidades. Isabel Fillardis, por exemplo, interpretou Violeta da Mata, uma respeitada administradora de empresas em A Lua Me Disse. Mas o que passa por Sexo e as Negas tem relação com outras desconstruções: trata-se de dar protagonismo às negras de periferia, colocar voz em suas ânsias, trazê-las para o centro dos holofotes.

De fato, o politicamente incorreto é recorrentemente ultrajante no contexto da televisão. João Emanuel Carneiro talvez seja os campeão de um tipo de humor bobo, fácil e pouco elaborado. A respeito dele, entretanto, nunca vi nenhum tipo de comoção por parte da militância. No mínimo, injusto.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Aplausos: Para Boogie Oogie, novela de Ruy Vilhena, que ganhou consistência em seu desenvolvimento. Esperto, o autor nunca deixa o folhetim cair no marasmo. Além disso, sua agilidade é sempre atravessada por um ótimo senso de roteiro, algo que em geral falta aos autores brasileiros.

Para O Rebu, que apesar dos pesares foi ganhando contornos interessantes ao passo que os mistérios foram revelados. Ainda que certas escolhas do roteiro tenham sido conservadoras demais (por exemplo, a precoce revelação da identidade do morto), o produto tem tudo para deixar o horário com certa marca de vanguardismo.

Para o último capítulo de A Grande Família, episódio que foi preenchido de diversas e justas homenagens. Um elenco de primeira da emissora se reuniu para dar vida às peças que se tornaram antológicas na pele de Marco Nanini, Marieta Severo e cia. Emocionante.




Vaias: Para Império, novela que definitivamente se perdeu em meio às viagens de Aguinaldo Silva. Ainda que siga com ótimos personagens, seu desenvolvimento vem sendo comprometido por um senso clichê e datado de trama que se desenrola com apelação e pouca consistência. Cora (Drica Moraes), por exemplo, perdeu-se em uma espécie de caricatura pouco complexa de carola. Os pais de Ísis (Marina Ruy Barbosa), outra demonstração de humor de mau gosto, mais irritam do que divertem. E não para por aí: em nome da audiência, vale até cura gay. É o que parece que vai acontecer com Leonardo (Klebber Toledo), esvaziando ainda mais a razão de ser de Cláudio (José Mayer). 

Para Geração Brasil, a cada dia mais presa em uma espécie de kitsch proposital. A novela entrou em um regime de descabimento que assusta até aos mais desprendidos telespectadores. Uma coisa horrorosa.  

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Como emplacar Império em 3 passos

Todo mundo sabe que Aguinaldo Silva é um autor experiente. A primeira fase de Império foi a prova de que seu talento não ficou perdido entre suas novelas interioranas. No entanto, a verdade é que Aguinaldo começou a perder-se em seu emaranhado de viagens. Aqui, deixo três sugestões para que a novela volte ao eixo:

1) Um recrudescimento das vilãs:

Lília Cabral e Drica Moraes são duas das atrizes mais talentosas do elenco da Globo. Tê-las simultaneamente e em papéis tão marcantes não é para qualquer um. Contudo, Maria Marta e Cora vêm se ocupando de coisas muito banais nos últimos capítulos. A ricaça entrou em uma chata rivalidade com a nora, a dispensável Danielle. Já a beata de Santa Tereza parece que está presa a uma espécie de síndrome de Perpétua. Falta ação na trama central, isto é, na vida do poderoso Comendador. Como antagonistas do protagonista, elas precisam fazer mais.


2) Gays de verdade:

O grande problema dos personagens gays de Império é a falta de empatia. Todos eles flertam com uma marginalização intempestiva: os homossexuais do século XXI já não são vistos como michês ou figuras com complexos psicológicos. Em outras palavras, há muitos estereótipos e pouca humanidade. Amor à Vida, a propósito, acertou justamente em uma espécie de humanização: Nico lutava para ter uma família, algo que comoveu o público de maneira efetiva. Cláudio Bolgari, o personagem com potencial para passar por essa humanização, perdeu-se em uma discussão infeliz em torno de seu direito de privacidade: na tela, o sujeito soa como farsante (e ainda bem!). O único papel digno de nota no núcleo colorido da trama é Xana Summer, defendido por Ailton Graça de forma brilhante. É justamente aqui, em um personagem mais humano, que um personagem gay dá sinais de que cairá no gosto popular.


3) Mais reviravoltas:

Império entrou há algumas semanas em uma zona de conforto. Pouco se moveu na trama desde o que aconteceu nos primeiros capítulos. Em uma novela das nove, qualquer sinal de marasmo afasta um público cada vez mais interessado nas redes sociais. É preciso ação e dinamismo, ainda mais em uma novela que conta a história de uma luta por um império. E isso vai muito além do que uma sucessão de esquetes de humor elaboradas tão-somente para preencher barriga.