Nos últimos meses,
decidi me dar férias do blog. Nesse período, muitas novelas passaram e
estrearam, de modo que fiquei um pouco atrasada em relação aos principais
comentários. Sendo assim, vamos por partes. Primeiro, vou tecer breves
comentários sobre os folhetins que saíram do ar. Depois, darei uma pincelada
sobre as promessas do gênero para 2013.
AS BOAS VINDAS
Sangue Bom: A novela de
Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari estreou com certa expectativa. Com a missão de levantar o IBOPE do horário,
Sangue Bom tem, sem dúvida, bom texto, bom elenco, mas precisa de acertos
severos. A falta de um eixo principal, algo que justifique a presença da novela
do ar, o tão famoso argumento, é a principal falta. A direção também
compromete, um pouco perdida entre cortes mal-feitos, uma trilha sonora razoável (que
oscila, por exemplo, entre o péssimo Sambô e a ótima Adriana Calcanhotto) e atores claramente
mal-orientados (principalmente os estreantes e outros não muito talentosos como
Rômulo Arantes Neto). De positivo, destaco o ótimo roteiro de Maria Adelaide e
Vincent. Embora a novela não tenha, como eu disse, uma sinopse muito forte,
ótimas tiradas, críticas muito atuais e piadas bem-colocadas fazem com que o
folhetim esbanje um texto delicioso. Um constante diálogo com os tempos atuais
(que faltou claramente na péssima Guerra dos Sexos) e também com outras novelas
(Além da excelente presença de um recorrente intertexto) trazem vigor e
simpatia à trama das sete. Também é visível que alguns personagens se destacam:
Damaris (Marisa Orth), Bárbara Ellen (Giulia Gamm) e a Mulher Mangaba (Ellen
Roche) representam caricaturas adoráveis. Representam caricaturas da espécie
mais admirável: caricaturas que representam bem-humoradas críticas a tipos
extremamente atuais e completamente inseridas na discussão da novela, a fama versus o conteúdo. Verônica (Letícia
Sabatella) e Rosemere (Malu Mader) também dizem textos inspirados e claramente
têm o dedo de Maria Adelaide Amaral. Vale esperar por acertos.
Amor à Vida: A novela das
nove estreou bem-escrita, luxuosa e muito bem conduzida. Apesar de alguns
momentos piegas já típicos dos textos de Walcyr Carrasco, Amor à Vida tem uma
excelente sinopse, personagens extremamente cativantes, um roteiro quase
impecável e uma direção espetacular. Com isso, o novo folhetim do horário nobre
tem tudo para emplacar. Félix, o vilão gay de Mateus Solano, já caiu nas graças
do público, parte por conta da excelente composição de Mateus Solano, parte por
conta da afiada e esperta dramaturgia do autor, que parece se redimir quando
escreve para personagens menos maquineístas. Susana Vieira, Elizabeth Savalla e
Tatá Werneck também prometem ótimos momentos. A propósito, Valdirene, papel da
excelente Werneck, estourou em apenas dois capítulos. A direção de Wolf Maya e
Mauro Mendonça Filho também é irrepreensível. O jogo de câmeras, a trilha
incidental e a fotografia são excepcionais e comprovam a extrema competência de
Mauro Mendonça, que já demonstrava bastante talento em Gabriela e O Astro. Amor
à Vida, sem dúvida, é a grande candidata à novela do ano. No entanto, alguns deméritos não podem ser negligenciados. A música que embala a abertura, uma regravação equivocada do cantor Daniel, é irritante e nada tem a ver com o clima geral da novela. A escalação de Malvino Salvador também é um ponto frágil. O ator, péssimo e extremamente canastrão, passou vergonha nas cenas em que teve que demonstrar mais dramaticidade. Paolla Oliveira está mais madura e segura, mas parece carecer de um problema importante para uma atriz de TV: a falta de carisma. Klara Castanho, a criança que se comporta como adulta, também dá sinais de que sofre do mesmo problema. Além disso, falta um aspecto pueril à menina, que transborda uma esperteza antipática. A conferir.
Dona Xepa: A história
já é boa e o texto de adaptação de Gustavo Reiz é ágil, ácido, sarcástico,
funciona muito bem. As escalações são acertadas e a direção não compromete.
Aliás, a trilha sonora é melhor que a trilha de qualquer novela da Globo (o que
não quer dizer muita coisa na conjuntura atual). Parece que depois das
discutíveis Máscaras e Balacobaco, a Record acertou o tom. O que pega realmente
é o excesso de repetição dos mesmos nomes. Luiza Tomé e Giuseppe Oristanio, por
exemplo, são cansativos e deviam ganhar um descanso. A emissora poderia variar
mais. De qualquer forma, a novela está longe de ser ruim. Destaco Taís Fersoza,
que promete bastante como Rosália.
O ADEUS
Guerra dos Sexos: O
remake de Sílvio de Abreu não emplacou e não agradou a crítica. Embora o
conteúdo da novela fosse extremamente atual, o autor não soube atualizar o
texto de forma inteligente. Tudo ficou extremamente anacrônico e inadequado,
seja por conta das situações ou do humor ultrapassado e vazio.. A guerra dos
sexos do século XXI tinha tudo para ser bem mais interessante: Vânia poderia
uma feminista ferrenha, por exemplo, uma espécie de militante engajada puxada
para o lado cômico. Ou ela poderia ser sensual, fugir dos padrões de
"dama" e mostrar como a mulher que sai de um comportamento mais
pueril sofre preconceito sexista (sem deixar de lado a comédia, é claro). Uma
mulher independente nos moldes dos anos 80 fica bastante comum, não restando
nada de muito interessante ou sedutor na personagem. Até Fatinha, a divertida personagem de Malhação, conseguiu mostrar a guerra dos sexos atual com mais
efetividade do que as personagens desse remake. Assim, os personagens
mantiveram-se imersos em um universo bastante deslocado: o irmão que proíbe a
irmã de namorar em plena São Paulo de 2013, a viúva que sofre restrição à sua
vontade de assumir a empresa do marido, entre outras abordagens pouco
convincentes. O próprio final parece ter sido um erro de tempo. Sílvio, ao
apostar nos finais que ele gostaria de ter escrito em 83 e não conseguiu
durante a ditadura, parece ter se esquecido que, o que era inovador e
interessante naquela época, já não tem nenhum impacto hoje em dia. Uma
vilãzinha que se dá mal, só para citar, é só mais uma vilãzinha que se dá mal.
O resultado: Tudo ficou muito bobo, muito trivial, caricato até mesmo para uma
novela das 19 horas, que tem como marca principal a comicidade. Em outras
palavras, Guerra dos Sexos virou um grande quadro clichê de comportamento do
Fantástico.
Avaliação da novela:
RUIM
Salve Jorge: Sem
dúvida, a novela de Glória Perez viu-se um pouco prejudicada pelo sucesso da
antecessora. Em termos gerais, o folhetim de Glória Perez, embora estivesse
recheado de situações absurdas e inexplicáveis, teve os seus pontos positivos:
mais uma vez, a autora tem o mérito de mostrar um tema delicado e tocar em
feridas grandes de nossa sociedade. Além do tráfico de pessoas, mostrou, de um
jeito bastante peculiar ao universo da autora, a vida na favela e a cultura popular. Outras coisas também chamaram a minha
atenção: o fato da história ser protagonizada por uma moça favelada, mestiça,
prostituída e completamente fora dos padrões das mocinhas da novela das oito; a
marcação da diferença entre a prostituição forçada, que é recriminável, e a
prostituição voluntária, que de forma alguma deveria ser recriminável; a
naturalização da transgeneralidade de Jô, personagem de Thammy Miranda. Mas o
que mais chamou a atenção geral, sem dúvida, coisa muito inflamada pelo
fenômeno quase sempre irrefletido das redes sociais, foi a série de furos no
roteiro da novela. Foram muitos, é claro, mas não tão relevantes quanto a falta
do pen drive de Nina (Débora Falabella), por exemplo, na aclamada Avenida
Brasil. A direção de Marcos Schechtmann, entretanto, foi vergonhosa. Poucas
vezes viu-se um núcleo de direção tão equivocado e perdido. De todo modo, o
último capítulo terminou com uma pérola, lançada por Wanda, personagem de Totia
Meirelles. Depois de todas as maldades feitas pela megera, a vilã soltou: “Eu
aceitei Jesus”. A propósito, o quíntuplo de vilões (Lívia, Wanda, Russo, Irina
e Rosângela) rendeu bons momentos. Elementos caricatos como o gato Yuri e a
seringa colaboraram para o folclore em torno da quadrilha e deram um positivo aspecto de vilania de quadrinhos. Esses mesmos
elementos, vale dizer, foram criticados por Maurício Stycer, comentarista do
site UOL, que ultimamente parece mais interessado em tweetar aspectos mesquinhos do que construir
críticas algo relevantes e voltadas para o conjunto. O que seria de Adma Guerrero sem o seu anel ou de
Nazaré Tedesco sem a sua tesoura? Vale refletir.
Avaliação da novela:
RAZOÁVEL