domingo, 1 de fevereiro de 2015

Bem dirigida e com atuações memoráveis, 'Felizes para sempre?' tem seus poréns na pouca agilidade do roteiro

Felizes para sempre? estreou causando frisson. A primeira semana da minissérie, com toda a justiça, repercutiu bastante na audiência e nas redes sociais. Se há pouquíssimo barulho envolvendo as demais produções da Rede Globo, o seriado de Euclydes Marinho, a exemplo de Amores Roubados, causou um estrondoso barulho. Dois foram os motivos centrais de tamanho efeito: a direção da O2, empresa de produção capitaneada por Fernando Meirelles, e o indiscutível engajamento da antes contestada Paolla Oliveira, atriz que, depois de uma série de personagens insossas, volta a um papel relevante.
 
A direção da O2 é de fato um diferencial. A luz, os quadros, os closes, tudo parece arquitetado de maneira milimétrica. Antes de ser uma produção de escala industrial (como tudo na TV), Felizes para sempre? é uma obra de arte. É uma minissérie fotográfica, imagética, contada, também, por meio do que mostra. Os detalhes têm o seu significados, fato perceptível por um telespectador mais atento. Nada é mostrado em um toque leviano: à parte de toda nudez, nada é apelativo. Pelo contrário, a nudez é ao mesmo tempo instrumento e mola propulsora de todo o interesse que cerca a produção. E não há nada de errado com isso. Da sensualidade que atravessa as relações, dos velhos pecados que atentam o eremita no deserto, Felizes para sempre? fala, antes de tudo, da mais humana tentação.
 
Paolla Oliveira merece seu destaque particular. Seu trabalho como Danny Bond tornou-se, sem dúvida, antológico. Diante de seus fracos desempenhos em obras anteriores, Paolla parece ter passado por uma reforma conceitual de sua própria carreira. Encarou um papel complexo de frente e exorcizou qualquer resquício de suas insípidas mocinhas de novela das oito. Assim como a sempre irrepreensível Dira Paes em Amores Roubados, Paolla conseguiu agir de acordo com as exigências da personagem: portou-se como o centro das atenções. Esteve perfeita.
 
Mas nem tudo que cerca o seriado é digno de parabéns. Com uma direção menos competente, o seriado por certo se perderia em um desenvolvimento pouco ágil. Bastante lenta no início, Felizes para sempre? só passou a empolgar quando a O2 começou a induzir a história imageticamente: takes de sensualidade pulularam na tela com extrema perfeição. Os roteiristas, aqui, funcionaram de forma coadjuvante. O argumento também não é dos mais originais. Euclydes Marinho sempre foi um autor muito criativo. Nos últimos anos, porém, costuma seguir "o mais do mesmo" ou arriscar-se em obras cheias de proselitismo (como O Brado Retumbante). Trabalhar com as pessoas certas, contudo, pode gerar um suco notável de um fruto comum. É o que vemos em Felizes para sempre?
 
Ainda há mais capítulos. Com eles, mais uma dose de grandes atores e atrizes: Adriana Esteves, Cássia Kis Magro, Selma Egrei e João Miguel prometem causar os seus efeitos. Esperemos.