terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Melhores do Ano 2014 (IV Prêmio Leila Diniz): Vencedores

Para relembrar todos os indicados, clique aqui.


Novela: Meu Pedacinho de Chão (Benedito Ruy Barbosa) - 68%

Atriz: Drica Moraes (Império) - 62%

Ator: Irandhir Santos (Meu Pedacinho de Chão) - 87%

Atriz Coadjuvante: Vanessa Gerbelli (Em Família) - 69%

Ator Coadjuvante: Luís Miranda (Geração Brasil) - 41%

Autor: George Moura (Amores Roubados) - 59%

Direção: Luiz Fernando Carvalho (Meu Pedacinho de Chão) - 67%

Série Nacional: Amores Roubados (George Moura) - 76%

Atuação Feminina em Série Nacional: Dira Paes (Amores Roubados) - 50%

Atuação Masculina em Série Nacional: Murilo Benício (Amores Roubados) - 48%

Trilha Sonora: O Rebu (José Luiz Villamarim) - Prêmio Técnico

Fotografia: O Rebu (Walther Carvalho) - Prêmio Técnico

Figurino: Meu Pedacinho de Chão (Thanara Schoernardie) - Prêmio Técnico

Direção de Arte - Meu Pedacinho de Chão (Marco Cortez) - Prêmio Técnico

Abertura: Boogie Oogie - Prêmio Técnico


Obs.: Os prêmios técnicos não foram abertos para votação.

Retrospectiva 2014: o que marcou e o que decepcionou

O que marcou:

1 - Dupla Identidade: O seriado começou com um sério problema de excesso de didatismo verbalizado em cena pela sempre verde Luana Piovani. Com o passar dos capítulos, porém, a história de Glória Perez ganhou dinamismo e deu mais espaço a performances de grandes atores, notadamente a de Bruno Gagliasso, o protagonista. O roteiro se tornou envolvente e mostrou que a autora, quando quer, ainda consegue fazer grandes trabalhos. Surpreende o fato de Glória, acostumada à clássica estrutura dos épicos folhetins à la Glória Magadan, ter conseguido desenvolver com maestria uma história de traços bem mais crus. Boa surpresa.

2 - Amores Roubados: Mas a grande série do ano foi, sem dúvida alguma, Amores Roubados. De George Moura, a produção se destacou mais por seu primor técnico: a direção de José Luiz Villamarim, a fotografia de Walther Carvalho e o apuro dramático de um elenco irrepreensível. Um trabalho em conjunto que rendeu um dos maiores produtos da teledramaturgia brasileira dos últimos anos.

3 - Meu Pedacinho de Chão: Luiz Fernando Carvalho transformou o texto conservador de Benedito Ruy Barbosa em uma obra revolucionária. Poucos diretores, aliás, têm a liberdade de Carvalho ao executar os seus trabalhos. E Carvalho, ciente dessa prerrogativa, sabe muito bem aproveitar os seus recursos. Meu Pedacinho de Chão, não fugindo à regra, abusou de uma edição inovadora, uma fotografia ímpar e um figurino encantador. A trilha sonora também foi destaque.

4 - O Rebu: O Rebu certamente poderia ter sido melhor. O roteiro se perdeu um pouco no desenvolvimento da novela, é verdade. Mas a direção de Villamarim mais uma vez se diferenciou. Trilha sonora memorável e uma fotografia que foi conduzida, apesar de injustas críticas, pelo sempre maravilhoso Walther Carvalho. Assim, a novela ganhou seus contornos de novelão: pelo menos, a trama de estreia de George Moura e Sérgio Goldenberg foi revolucionária no aspecto técnico. Mas se o roteiro não foi dos melhores, o último capítulo funcionou como redenção: emocionante e coerente, o desfecho foi um dos melhores dos últimos anos. É verdade que o saldo bem-sucedido da trama também deve suas razões a um elenco acertadíssimo: Patrícia Pillar, Sophie Charlotte, Cássia Kis Magro e Camila Morgado se destacaram com toda a justiça.

5 - Masterchef Brasil: O reality de culinária da Band surpreendeu pela qualidade técnica. Jurados bem escolhidos, participantes diversos e uma direção bastante acertada. E o melhor: sem nenhum tipo de excesso de sensacionalismo. Algo que infelizmente é difícil de ver fora da Rede Globo. O sucesso foi tanto que a emissora paulistana já planeja uma nova edição no ano que vem. 

6 - Boogie Oogie: Ruy Vilhena veio de Portugal em uma espécie de lobby feito pelo colega Aguinaldo Silva. Jovem, o autor português já havia feito nome no país dos patrícios com suas boas novelas. E com méritos. É o que vem mostrando a atual novela das 18 horas, Boogie Oogie. Apesar da ambientação ruim, Ruy Vilhena trouxe às novelas características de seriado: uma sequência grande de plot twists movimenta os capítulos. Há quem diga que Boogie Oogie é uma novela tradicional. Ledo engano.




O que decepcionou:

1 - Império: O tal novelão de Aguinaldo Silva virou novelinha. Previsível no que tinha que ser surpreendente e surpreendente no que tinha de ser previsível. Todos os bons personagens perderam sua razão de ser: a transexual virou hétero, a megera virou dondoca, o protagonista anti-herói virou herói. E nada se salvou. Nos últimos tempos, o autor se rendeu a uma espécie de recurso ao absurdo. Em uma novela que começou em uma espécie de realismo épico. Do dia para a noite, metade do elenco iniciou uma busca incessante por partes de um cristal "encantado". Houve até cirurgia plástica que transformou Drica Moraes em Marjorie Estiano. Um horror.

2 - The Voice Brasil: O reality musical brasileiro vem tentando repetir o sucesso de sua primeira edição. A verdade é que a paciência do telespectador brasileiro já havia se esgotado no fim da segunda. Na terceira, o fracasso de crítica só terminou de coroar o mau trabalho da edição brasileira do reality. A comparação com versões estrangeiras chega a ser deprimente. E isso não se restringe à notável diferença de qualidade: os participantes brasileiros parecem ter se rendido a uma modulação vocal que está longe de ser apreciada pela cultura brasileira. Consequência, talvez, da vitória do participante made in USA que venceu a segunda edição, um calouro de orientação soul e gospel (na minha opinião, bastante ruim). Na terceira, grande parte dos aspirantes transpareciam querer serguir o mesmo caminho. E o resultado não foi outro: pouca diversidade e muita gritaria, algo distante do que se viu, por exemplo, na elogiada primeira edição. A dupla sertaneja, configuração consagrada pela cultura brasileira, acabou ficando com o prêmio. E mereceu. Só para citar o óbvio: Cláudia Leitte, Carlinhos Brown, Lulu Santos e Daniel são insuportáveis. O time de jurados pode até ser composto por ótimos músicos. Carlinhos Brown é um dos nossos grandes nomes, por exemplo, Como jurados, porém, a bancada do The Voice  é over e cansa rápido.

3 - Em Família: A última novela de Manoel Carlos merecia destino melhor. Nos últimos anos, o premiado autor de Por Amor e Laços de Família negligenciou as suas tramas principais: Helenas insípidas quase sempre imersas em histórias pouco envolventes e não desenvolvidas. Nesse contexto, tramas paralelas se destacam. Em Família não foi diferente. Uma boa notícia para atores como Vanessa Gerbelli, Marcelo Mello Jr., Tainá Müller e Giovanna Antonelli. Destacaram-se em papéis coadjuvantes. Mas a trama principal, aquilo que dá razão de ser e argumento a uma novela, não se movimentou. Um erro fatal em qualquer novela. No contexto de Manoel Carlos, marcado pelo marasmo do cotidiano, tal aspecto foi ainda mais definitivo para sacramentar o fracasso.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Melhores do Ano?

Ontem a Rede Globo levou ao ar a sua edição de 2014 de um prêmio que, ao menos no nome, objetiva premiar os melhores profissionais da casa: o Prêmio Melhores do Ano do Domingão do Faustão. Em um ano de novelas tão fracas, entretanto, o que se viu foi um desfile de corporativismo da emissora: em muitas categorias, ganhou a carinha de mais empatia com o público. E a falta de lógica não se restringiu à dramaturgia. Talvez abrir a votação totalmente para a participação popular tenha sido a grande força motriz de certos despropósitos: em que mundo a forçada Fernanda Gentil se destaca em um time de jornalistas composto por, entre outros, pessoas da excelência do também concorrente e renomado Caco Barcellos? Algum especialista pensa de fato que a irritante Cláudia Leitte é a melhor coisa que temos na música brasileira atual? Tsc. E Chay Suede, ainda que tenha ido bem em seu primeiro papel relevante em uma novela da Globo, passa muito longe do talento inquestionável de Jesuíta Barbosa e Irandhir Santos. Para coroar o clima de amigo oculto festivo e pouco compromissado com a qualidade, Cláudia Abreu, à parte de ser uma das maiores atrizes do país, levou o troféu de melhor atriz mesmo estando distante de estar entre as melhores do ano. É o preço que se paga por um troféu que, desde o seu nascimento, sempre esteve inclinado a vender o próprio peixe. Afinal, nomes como Marina Ruy Barbosa, Andrea Horta e Josie Pessoa, só para citar alguns, apenas entraram na conta deste ano por motivos meramente comerciais (e isso, vale ressaltar, não é um questionamento ao inegável talento das três atrizes). Ao menos no que diz respeito à teledramaturgia nacional, tal característica salta aos olhos em um ano tão fraco para as novelas: em um mar de poucas coisas realmente memoráveis, destacam-se apenas aqueles que, mesmo sem muita qualidade, estão sendo levados pela onda popular (que com frequência é ditada tão-somente pela indústria). 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Masterchef Brasil é o grande acerto na categoria dos reality shows

Reality shows estão cada vez mais enfadonhos. O Big Brother Brasil, à parte de estar indo para sei lá qual edição, já não é mais algo que empolga a massa dos brasileiros. Sua fórmula, para lá de desgastada, causa ainda mais preguiça com a sucessiva repetição dos perfis que passeiam pela casa mais vigiada do PROJAC: homens bombados e mulheres gostosonas. Nada de muito notável. Realities musicais, por sua vez, caem quase sempre em um problema parecido: candidatos iguais. Revelar um artista é muito difícil nesses programas porque poucos participantes - e muito menos a direção - entendem que o conceito de artista é muito mais amplo do que a mera modulação vocal. Nisso, todos os competidores parecem pretender o posto de nova Whitney Houston ou novo Michael Jackson. Isso tudo aliado à péssima composição de jurados, como é o caso do The Voice, cansa o publico de maneira irremediável.

Mas um reality bastante bem conduzido vem distraindo nas noites de terça-feira: o Masterchef Brasil. Ainda que contenha alguns problemas de edição - que às vezes dá pequenos spoilers no decorrer do programa -, o Masterchef é sem dúvida bem executado e composto de uma forma muito sagaz. A direção, mesmo com seus problemas de edição, é em geral de muito bom gosto. O programa tem boa qualidade técnica e surpreende por levar ao ar um produto de tratamento muito seguro. Ao contrário do que se vê no exterior, os jurados brasileiros são uma mistura de rispidez e humanidade. É a humanidade, aliás, que causa a empatia do público (mas sem nenhum tipo de sensacionalismo barato). Os candidatos também foram muito bem selecionados. Perfis diferentes, cada um com a sua história, dão ao programa um ar de diversidade fundamental a uma produção baseada na competição. Diante da onda de reality shows que permeia a televisão mundial desde o final da década de 90, o Masterchef Brasil é, sem dúvida, uma das melhores coisas a observar.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Recorrer ao absurdo nem sempre é sinal de inteligência

Em novelas de propostas lúdicas, acontecimentos estranhos se naturalizam. É o caso, por exemplo, de toda a cultura de realismo fantástico que permeou boa parte das obras de Dias Gomes, Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. Licenças poéticas também se mostram um ótimo recurso em novelas que pendem para o gênero da fantasia, mesmo quando o folhetim cai nessa lógica meio que por acidente, caso de "O Clone", obra mais emblemática da novelista Glória Perez.

 Mas em novelas contemporâneas no sentido mais estrito, como é o exemplo de Império, o recurso ao absurdo pode comprometer uma narrativa de matriz realista. É o que vem acontecendo com a novela nos últimos tempos: cadeias causais truncadas, personagens que mudam de personalidade (e até de orientação sexual) do dia para a noite, tipos que surgem na história sem muita razão aparente, tramas cada vez mais patéticas e desconectadas com o senso de razoabilidade. A substituição de Drica Moraes por Marjorie Estiano no papel de Cora apenas coroou a tendência que o autor vem imprimindo ao folhetim: de repente, Cora faz uma plástica e volta 20 anos mais jovem. É a radicalização do recurso ao absurdo, um instrumento muito típico das novelas de Dias Gomes. Parece que Aguinaldo Silva, à parte do seu malogrado esforço por se dedicar a tramas ambientadas no século XXI, não consegue se desgarrar de fato da lógica que o consagrou no rol de grandes autores: discípulo de Dias Gomes, foi na esteira do realismo mágico que Aguinaldo se consolidou. Em novelas como Império, em contrapartida, o recurso ao absurdo soa tão-somente como sinal de esquizofrenia. No caso em tela, o problema é maior: Cora voltou na cena mais errada possível. Foi introduzida de modo abrupto, sem nada que deixasse claro o motivo do rejuvenescimento. Não colou.

O desligamento de Drica pode ser comparado de forma oportuna com o problema pelo qual Ruy Vilhena, autor de Boogie Oogie, passou quando Giulia Gam, também a principal antagonista da novela, foi afastada do folhetim por indisciplina. Ruy, um autor mais contemporâneo e mais conectado com a forma atual de desenvolver roteiros, usou o contratempo a seu favor. Deu um sumiço em Carlota, personagem de Giulia, e fez disso o grande argumento dos acontecimentos que se seguiram. A novela se tornou mais dinâmica e ainda mais recheada de espertas reviravoltas. A entrada de Joanna Fomm como uma espécie de substituta de Giulia também deu muito certo. Tia Odete, papel de Joanna, movimentou a trama de maneira muito acertada. Não é por acaso que Ruy Vilhena vem sendo muito elogiado com o desenvolvimento de Boogie Oogie.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Além de excessivamente conservadora, dramaturgia de Império é pouco crível

Que Império é uma das novelas mais moralmente conservadoras dos últimos anos, o blog já havia comentado. Depois das razoavelmente progressistas Amor à Vida e Em Família, Império estreou para escancarar os fantasmas mais retrógrados não apenas da sociedade, mas do próprio autor. Nas últimas semanas, o folhetim foi além: tratou de forma no mínimo leviana a questão da falta de moradia no país. O Brasil, uma nação com uma grande massa de pobres e um número bastante relevante de desabrigados, é coroado com uma novela que trata o assunto do modo mais raso: quem invade propriedade é só um vagabundo, como deixa a entender Aguinaldo Silva em seu texto digno de dramaturgo de jornalzinho.

Mas o que os últimos episódios de Império vêm demonstrando é um problema ainda maior: a tendência ao patético. Falta um elemento crível às tramas que se desenrolam na rede do folhetim. Dois exemplos: Maria Marta, a megera mais insuportável desde Tereza Cristina, manda trazer de algum lugar a sobrinha mal amada, a chatinha Amanda, a fim de acabar com o casamento do filho, José Pedro, com a sua indesejável nora, Danielle. Uma sobrinha, assim, que cai de pára-quedas em uma espécie de inexplicável pulo-do-gato. O motivo do exílio de Amanda, engendrado anos antes pelo Comendador, é ainda mais estranho: O todo-poderoso não apoiava o namorico da sobrinha da esposa com o filho, já que eram primos. Um argumento risível. Outro exemplo: a busca pelas tais quatro partes do diamante por boa parte do elenco. O eixo de Cora é ainda mais deprimente: a suposta vilã pretende trocar os diamantes por uma noite de sexo com José Alfredo. Chegou a matar um fulano no meio da empreitada. A maneira: empurrando-o da escada. Enfim, a novela caminha para um destino tão triste quanto o clichê do assassinato escada abaixo. Aguinaldo Silva, para não perder o costume, confirma a sua trajetória decadente. Talvez a mais decadente entre os grandes autores da emissora.