sábado, 27 de outubro de 2012

Aplausos: Para a estreia de Salve Jorge, novela das 21 horas escrita por Glória Perez. Apesar do excesso de personagens, a escritora vem conseguindo, até o momento, construir uma história coesa e interessante. Destaque para o núcleo de Leonor (Nicete Bruno), Rachel (Ana Beatriz Nogueira) e Aída (Natália do Valle), que tem tudo para emplacar. Além disso, a trama envolvendo Jéssica (Carolina Dieckmann), Lívia Marino (Cláudia Raia) e Wanda (Totia Meirelles) também promete causar bastante comoção.

Um elogio especial à mocinha morena (Nanda Costa), que representa um ato de coragem de Glória Perez. Em um país tão machista, moralista e hipócrita, é bastante louvável que a autora tenha construído uma protagonista que subverte uma série de preconceitos. Morena é mestiça, mãe solteira, funkeira e nascida na favela. Uma série de características completamente diferentes do padrão socialmente imposto. Um avanço.

Para Glória Pires, que vem demonstrando toda a sua versatilidade como a cômica Roberta, de Guerra dos Sexos. Acostumada a papeis mais dramáticos, Glória, ao contrário dos que os mais pessimistas esperavam, está arrebentando na pele da lutadora Roberta.

Para Fernanda Lima, sem dúvida, uma das melhores apresentadoras da atualidade. Ela consegue, com eficiência, transformar o enfadonho Amor & Sexo (que é cansativo por causa do evidente conservadorismo da emissora carioca) em algo interessante. Fernanda é uma habilidosa comunicadora.

Para Maria Padilha, a Diva Celeste de Lado a Lado. Atriz bissexta na televisão, Maria está primorosa no papel de uma grande diva do teatro, provando, mais uma vez, que é uma profissional magnífica. Com certeza, é um dos fortes da novela. É sempre agradável vê-la na televisão.

Para os últimos capítulos de Gabriela, que surpreenderam pela qualidade de texto. Mesmo não sendo, definitivamente, um dos fortes de Carrasco, a adaptação vem, recentemente, conseguindo comover com sensíveis diálogos e cenas bastante bem-desenvolvidas. Destaque para belíssima cena em que Gabriela (Juliana Paes) consola Dona Doroteia (Laura Cardoso), depois que a família da beata a abandona. O desempenho de Laura foi tão espetacular que, em certo momento da cena, Juliana chorou de verdade.

A propósito, outro elemento positivo do texto de Carrasco é sua abordagem mais liberal. À parte de algumas pieguices, Gabriela trouxe para a TV uma série de personagens subversivas em relação à moralista sociedade de Ilhéus. O autor aproveitou a deixa para, de modo interessante, povoar a comunidade baiana de tipos como a cabocla que dispensa o casamento (caso da personagem-título) ou a ex-prostituta beata que confessa que gosta de sexo (Dona Doroteia).




Vaias: Para Malhação, que, entra ano e sai ano, insiste em uma ideia de jovem que não existe. Os verdadeiros dilemas adolescentes, que são, sem dúvida, muito mais interessantes, acabam absorvidos por uma espécie de cartilha didática inserida em um mundo fantasioso e paradigmático. Quem é ou já foi jovem dificilmente se identifica com a adolescência retratada no seriado. Questões como sexualidade, uso de drogas e conflitos familiares não são abordadas ou são abordadas de modo extremamente raso. Um saco.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Gabriela: Considerações Finais

Gabriela termina, sem dúvida, com impressões controvertidas. De certo modo, o retorno da dramaturgia da Rede Globo às tramas regionalistas foi bastante positiva. Foi prazeroso rever, ainda que extremamente distorcido, o universo de Jorge Amado e do Nordeste brasileiro. Ademais, algumas inovações de Walcyr Carrasco foram, inegavelmente, inteligentes. A inclusão de personagens como Dona Doroteia, interpretada divinamente por Laura Cardoso, Miss Pirangi, defendido de modo fantástico por Gero Camilo, e Lindinalva, que ganhou a interpretação correta (mas não muito brilhante) de Giovanna Lancelotti, deram vigor e emoção à adaptação. Também é evidente que o autor conseguiu, de modo eficiente, desenvolver tramas que já existiam na versão de Walter George Durst. A história Sinhazinha (Maitê Proença) e Osmundo (Erik Marmo) comoveu o Brasil. Do mesmo modo, Malvina (Vanessa Giácomo), Mundinho Falcão (Mateus Solano) e Gerusa (Luiza Valdetaro) também ganharam bons momentos durante a novela.

No entanto, o folhetim de Carrasco pecou bastante justamente por conta de seu estilo piegas, infantil e previsível. Núcleos como o de Glória (Suzana Pires) e o de Tonico Bastos (Marcelo Serrado) sofreram com díálogos constrangedores e completamente dispensáveis. O estilo marcante carrasquiano também atravessou o caricato e pobremente construído Bataclan, que foi equivocadamente afrancesado nessa versão. A propósito, algumas interpretações foram, gritantemente, sofríveis: Marcelo Serrado, que desde suas participações nas novelas da Rede Record é over, chato e limitado, mais uma vez pesou a mão em sua composição e fez de Tonico Bastos um dos piores personagens do ano. Ridículo. Ivete Sangalo, como já era de se esperar, não conseguiu passar de uma interpretação abaixo da média. Um ótimo personagem desperdiçado por uma figura que, embora seja bastante simpática e uma cantora de sucesso, não tem condições de levar um papel tão relevante. A trama central também perdeu força. Diante de um espectro de personagens mais interessantes, Gabriela (Juliana Paes) passou batida. Juliana, aliás, não teve o melhor de seus desempenhos.

Enfim, se, por um lado, a novela de Walcyr Carrasco cumpriu a função de repercutir, causar comoção e atrair a atenção do público jovem para tramas interioranas, por outro, a veia caricata do autor pesou, em muitos momentos, contra o conjunto da trama. Sem dúvida nenhuma, Carrasco teve os seus méritos, como já supracitado. Contudo, é preciso que, ao longo de seus próximos trabalhos, ele tente, pelo menos, relativizar alguns aspectos cômicos e burlescos que, infelizmente, passam do limite do razoável. De qualquer forma, sua novela das onze mostra, mesmo que por caminhos tortos, algum amadurecimento. Gabriela é, com certeza, a melhor novela de Carrasco desde O Cravo e A Rosa.

Avaliação: RAZOÁVEL


(Espectro de avaliação: Péssimo, Ruim, Razoável, Bom, Ótimo)

domingo, 21 de outubro de 2012

Aplausos: Para José de Abreu, que encerrou com louvor a sua participação em Avenida Brasil. Dono de uma atuação inspirada, o intérprete de Nilo consagrou o seu personagem na galeria de grandes papeis da televisão brasileira. Ator fenomenal.

Para Gero Camilo, o Miss Pirangi de Gabriela. O ator, já conhecido por ser um dos melhores do país, conseguiu interpretar um estereótipo sem cair em uma atuação rasa, forçada e fácil. Preferiu recorrer às nuances, exercício que só um grande ator tem capacidade de fazer.

Para Drica Moraes, a Nieta de Guerra dos Sexos. Se a novela, até aqui, ainda não convenceu totalmente, a personagem, por sua vez, já mostrou a que veio e tem bastante carisma. Drica, sem dúvida, é um dos pontos fortes da novela.

Para Amora Mautner, diretora geral de Avenida Brasil. Ao que parece, ela é a grande responsável pela "cultura de improviso" implementada no texto da novela. Sem dúvida, esse foi um dos grandes elementos que contribuíram para a direção impecável que permeou a novela das nove. Um grande trabalho.



Vaias: Algumas cenas do remake de Guerra dos Sexos, o prometido grande lançamento da Rede Globo para 2012, mostram-se extremamente anacrônicas, fato que revela uma equivocada falta de atualização. Remake, por mais nostálgicos que sejamos, é uma obra de adaptação e não de mera repetição. Situações novas precisam ser inseridas e o vocabulário quase sempre precisa ser totalmente reescrito. No entanto, o que vem sendo produzido e exibido pela emissora é uma mera reprodução da versão de 1983 que, em que pese ser um folhetim maravilhoso, foi escrita para o público de uma época completamente diferente. Isso não quer dizer que a trama principal, é claro, que a tal Guerra dos Sexos, seja ultrapassada, como insistem em dizer por aí. Pelo contrário, ela é extremamente atual. A forma como vem sendo contada, porém, não cola nos dias de hoje. De todo modo, fica a dica: remakes são novas novelas. Ivani Ribeiro, quando reescreveu Mulheres de Areia, inseriu ineditismos e até incluiu a trama de outra novela sua, O Espantalho, no contexto da trama das gêmeas interpretadas por Glória Pires. Maria Adelaide Amaral, no mesmo sentido, soube juntar, com maestria, duas antigas novelas antigas de Cassiano Gabus Mendes na adaptação de Ti Ti Ti. A mesma Maria Adelaide reescreveu boa parte de Anjo Mau. E por aí vai.

Vaias, também, para a sequência em que Adauto, personagem de Juliano Cazarré em Avenida Brasil, revela que o seu segredo é gostar de chupeta, completamente desnecessária para um último capítulo.

sábado, 20 de outubro de 2012

Avenida Brasil: um novelão meio manco

Avenida Brasil teve o mérito de parar o país. Com 51 pontos de audiência, a novela escrita por João Emanuel Carneiro consagrou-se como o maior sucesso da televisão desde Caminho das Índias. Os motivos pra isso, é claro, não são fortuitos e podem ser listados com segurança. Primeiramente, cabe elogiar a direção, responsável por toda a identidade do folhetim. Com pinta cinematográfica, Avenida Brasil revolucionou, sim, mas muito mais na forma do que no conteúdo. Os diálogos baseados no improviso (ideia da talentosa diretora Amora Mautner), a trilha incidental arrasadora e os efeitos finais de congelamento foram só alguns elementos que coroaram esse grande sucesso.

O elenco, certamente, também foi brilhante. Vera Holtz e José de Abreu fizeram uma dupla inesquecível, interpretações impecáveis e sustentadas por composições ainda mais geniais. Débora Falabella apenas confirmou a sua condição de uma das melhores atrizes de sua geração. Conseguiu, perfeitamente, demonstrar todo turbilhão emocional de sua Nina. Murilo Benício também deu show. O ator, muitas vezes por um esperto jogo de sobriedade e efusividade, conseguiu construir um Tufão extremamente carismático e levemente recalcado, um tipo bastante brasileiro. Constituiu, em outras palavras, um personagem encantador. Marcello Novaes, por sua vez, espantou toda e qualquer desconfiança a respeito de sua capacidade. Arrebentou. Os coadjuvantes, aliás, também tiveram a sua vez: Dos mais veteranos, como Marcos Caruso e Débora Bloch, aos novatos Juliano Cazarré e Cacau Protásio.

No entanto, o grande nome da novela das nove foi, sem dúvida, Adriana Esteves. Com uma interpretação visceral, em um papel que, em que pese ter sido apenas a segunda opção do autor, parece ter sido escrito para ela. Esteves, conhecida por atuações mais intensas, emocionou e convenceu na pela da diabólica Carminha. Entrou pra história e já é, provavelmente, a melhor atriz do ano.

Por fim, o texto de João Emanuel teve seus momentos de grandiosidade. Em uma cena, Santiago (Juca de Oliveira), a la Raskolnikov, personagem emblemático criado pelo escritor russo Dostoiévski, adota um discurso de uma suposta superioridade pertencente àqueles que estão acima da moral. Além dessa, outras referências da novela foram muito felizes: Kill Bill, Flaubert, Little Miss Sunshine, Eça de Queirós, entre outras, fizeram com que Avenida Brasil tivesse seus ricos instantes de intertextualidade.

Outro ponto forte do texto do autor: a subversão dos valores familiares. Assim como o nosso Código Civil, João Emanuel acertou em retratar o amor entre filhos adotivos e seus pais, demonstrar novas formas de relações afetivas (como a trama de Cadinho e suas esposas ou o casamento do trio Roni/Leandro e Suellen). Por outro lado, porém, pecou por estereótipos excessivos entre os coadjuvantes que contrastaram,  significativamente, com a riqueza de nuances de Carminha (Adriana Esteves), antagonista da novela. A vilã do folhetim, diga-se de passagem, foi bem-escrita e bem-desenvolvida, ao contrário de muitos personagens que se perderam na fraqueza do enredo tecido pelo autor.

Sendo assim, se o texto de João Emanuel foi, em muito momentos, um ponto forte, pode-se dizer que, da mesma dramaturgia do autor, pulularam diversos pontos fracos. Carneiro, sem dúvida, demonstrou deficiências de roteiro que comprometeram a lógica estrutural de sua trama. O famigerado (e inexistente) pen drive de Nina (Débora Falabella) é só um exemplo. A conversão repentina de Suellen (Isis Valverde) em boliviana traficada é outro. Pontos que revelam, cada um à sua maneira, uma falta de planejamento do autor quanto à trama: uma preocupação excessiva em forjar clímax e ganchos sem sentido, comprometendo e atropelando a lógica de acontecimentos da trama. O último capítulo, fraquíssimo, por sinal, também teve os seus buracos: Adauto (Juliano Cazarré), teoricamente analfabeto, estudou em um colégio interno. Personagens como Betânia (Bianca Comparato), Lúcio (Emiliano D'ávila) e Begônia (Carol Abras) simplesmente desapareceram. Falta à João Emanuel um reforço nesse sentido.

A propósito, o último capítulo foi um dos piores dos últimos anos, em contraste com a sua audiência arrasadora. À exceção de Carminha e Nina, que protagonizaram uma emocionante cena final, o resto do episódio foi completamente dispensável. A sequência em que Adauto (Juliano Cazarré) revela o seu vício por "chupeta" foi extremamente constrangedora. Da cena, nada se aproveita: nem como relevância, nem como metáfora. Um horror. Ninguém soube muito bem o que houve com diversas tramas importantes do folhetim, entre elas, a do o trio Roni (Daniel Rocha), Suellen (Isis Valverde) e Leandro (Tiago Martins): uma solução, a meu ver, elogiosa, porém, pouco explorada, já que a elo entre os dois homens do "trisal" foi, sem dúvida, negligenciada.

Enfim, Avenida Brasil, sem dúvida, marcou uma época. Pode-se dizer que, no frigir dos ovos, a novela de João Emanuel Carneiro, assim como Barriga de Aluguel e sua "barriga" de tantos meses, ou como Terra Nostra e o seu roteiro, por vezes, enfadonho, entrou pra história como um novelão meio manco. Se inovou em direção, diálogos e elenco, pecou bastante em sua dramaturgia de enredo, extremamente mal-amarrada, mal-elaborada, mal-desenvolvida, atropelando, muitas vezes, a lógica mais simples de um roteiro. Também teve suas dubiedades morais: subverteu relações em alguns aspectos (um ganho em relação à moralista A Favorita), mas consagrou preconceitos bobos, rasos e anacrônicos em outros. Sem dúvida, uma novela que não pode ser submetida a uma avaliação fácil

AVALIAÇÃO: BOA 



domingo, 14 de outubro de 2012

Aplausos: Para Camila Pitanga e Milton Gonçalves, para a cena em que Afonso pede perdão à Isabel em meio a uma peça de teatro, em Lado a Lado. A sequência foi emocionante, bem-dirigida, bem-interpretada e passou muita verdade ao telespectador. Cena belíssima.

Lado a Lado, a propósito, é maravilhosa. A cada semana, a trama fica mais cativante e encantadora. O trabalho histórico também é muito bem-realizado e o elenco é, sem dúvida, matador. Ademais, é importante destacar a qualidade da trilha sonora.

Outros atores que mereceram aplausos na última semana: Débora Falabella e Marcello Novaes, de Avenida Brasil. Ela, no meio de uma pneumonia, cresceu em cena e arrebentou na sequência em que Max é assassinado. Marcello, por sua vez, deu mais um show.

Por fim, aplausos para Laura Cardoso, que arrasou nas cenas em que Dona Doroteia é desmascarada por Coronel Coreolano (Ary Fontoura), em Gabriela. Apenas com o olhar, Laura conseguiu passar todos os sentimentos que sua personagem sublinhava. Atriz maravilhosa. 

Vaias: Para What's On, programa de entretenimento do Universal Channel. Além de chato, repetitivo e superficial, o programa é exibido a cada intervalo das séries do canal, o que causa uma overdose extremamente desnecessária. Um saco.

Para Reynaldo Gianecchini, que definitivamente não encontrou o tom de Nando, seu personagem em Guerra dos Sexos. Além disso, sua composição é muito parecida com o seu desempenho como Pascoal, o borracheiro cômico que interpretou em Belíssima.

domingo, 7 de outubro de 2012

Aplausos: Para Adriana Esteves e Marcello Novaes, que arrebentaram nas sequências da última semana de Avenida Brasil. Adriana, com sua interpretação extremamente visceral, vem demonstrando bastante entrega e emocionando em cenas dramáticas, revelando uma intensidade quase trágica que, se parece exagerada e artificial em momentos cotidianos, impressiona nos instantes de desespero e tensão. Marcello, por sua vez, ator tradicionalmente contestado e estigmatizado por papéis rasos e ruins, está provando que é capaz de interpretar tipos mais interessantes com indiscutível maestria. 

Vaias: Para Bianca Bin, a Carolina de Guerra dos Sexos. Embora Lucélia Santos tenha eternizado a vilã-ninfeta mais odiada dos anos 80, seu legado não parece ter chegado aos braços da nova intérprete de Carolina. Péssima em cena, Bianca Bin parece não ter entendido minimamente a sua personagem. Carolina, ao menos na ideia, deveria oscilar entre a mocinha angelical e a diabólica oportunista. Bianca, pelo contrário, é igual em todas as cenas e quase sempre não consegue sair da linha da vilã-que-finge-que-é-boazinha, sem a menor nuance. Lucélia Santos, por sua vez, fazia com que sua Carolina, em seus momentos de bondade, convencesse até mesmo os telespectadores de suas boas intenções.