segunda-feira, 23 de março de 2015

Mal escrita e com direção over, Dez Mandamentos é um desperdício de dinheiro

Dinheiro é algo importante para sustentar qualquer produção de ficção. É assim no cinema, também é assim na TV. Mas não é tudo. O número de filmes ruins com orçamentos milionários é extenso. Blockbusters de qualidade contestável são produzidos todos os anos. No mundo das novelas, a Rede Globo também já produziu suas tralhas endinheiradas. Viver a Vida, de Manoel Carlos, é um bom exemplo de que o dinheiro nem sempre impulsiona uma história. A Padroeira, de Walcyr Carrasco, também passou longe do retorno ao investimento feito pela emissora na época.
 
 A Record, por sua vez, vem investindo bastante dinheiro em teledramaturgia nos últimos anos. A emissora paulistana conseguiu até mesmo emplacar folhetins com excelente recepção na crítica, casos de Escrava Isaura, de Tiago Santiago, e Vidas em Jogo, de Christianne Fridman (a melhor autora da casa, sem dúvidas). Os Dez Mandamentos é a última etapa de um processo de investimento que, apesar de seus altos e baixos, ao menos mostra um interesse genuíno da Record em continuar aplicando forças em sua teledramaturgia.
 
Mas Dez Mandamentos é, primeiro, mal escrita. À parte dos bons trabalhos (alguns melhores do que outros) feitos por Vivian de Oliveira em suas minisséries bíblicas, Os Dez Mandamentos não tem a mínima força textual. Vivian opta por uma narrativa ortodoxa, pouco inovadora e muito formal. Em suma, a dramaturgia de Vivian soa como teatro quadrado: não há contextualização, não há apuro, não há qualquer tipo de salto além do que já é exaustiva e hermeticamente contado pelas escrituras - nem no conteúdo, nem na forma. Se a opção de Vivian funciona de algum modo em textos de tiro curto, em uma novela isso parece limitado. Em suma, o texto de Vivian é ruim, ainda que haja o nítido esforço em deixar a trama dinâmica (o que funciona até certo ponto).
 
Em segundo lugar, a direção é over demais. O Egito brilha como uma escola de samba endinheirada do Rio de Janeiro. Não chega nem a ser kitsch: é apenas brega, excessiva, uma ostentação barata (apesar de cara). Os atores também reproduzem falas como se estivessem condicionados ao clima fake que atravessa a direção. A fotografia é cansativa; o figurino, batido; a trilha incidental, piegas. Nada parece escapar da lógica de fausto cafona que penetra nos mínimos detalhes. Longe do excesso contextualizado que enche os olhos (como em Caminho das Índias), o excesso de Os Dez Mandamentos é uma alegoria desnecessária. Nem mesmo os miseráveis egípcios são retratados de um modo razoável. Funcionava nas minisséries. Em novelas, porém, o brilho abundante não cola. No fim, a primeira novela bíblica da Record precisa ser mais que um teatro ruim do século XX: Os Dez Mandamentos precisa ser mais novela.

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