segunda-feira, 9 de março de 2015

Com trama antenada a questões contemporâneas, Sete Vidas é a evolução do melhor do estilo manequiano

Muito se fala que os autores mais antigos simplesmente não conseguem se adequar aos tempos atuais. Volta e meia tratam de temas delicados com a sensibilidade de um elefante. Reflexo de diagnósticos feitos com cabeças geradas tendo em vista o público da década de 90. Aguinaldo Silva é um exemplo clássico mais clássico desses anacronismos. Nesse sentido, os novos autores surgem como ótima alternativa. À exceção dos vanguardistas Gilberto Braga e Maria Adelaide Amaral (que têm em seus times os mais contemporâneos Vincent Villari e João Ximenes Braga), a velha geração, em maior ou menor grau, volta e meia padece do problema. E é nesse contexto que surgem nomes como Lícia Manzo, autora talentosa que, revisitando o estilo quotidiano de Manoel Carlos, traz uma assinatura quase sempre sensata, razoável e dialógica em relação aos novos anos.
 
 
Sete Vidas segue o estilo consagrado de A Vida da Gente. Não por acaso a palavra vida se repete. Mais uma vez, o tom é o dia-dia atravessado por problemas das famílias atuais. Com acerto, Lícia escolheu uma problemática bioética para conduzir o seu folhetim. Em uma novela marcada pelo prosaico, ter um tema polêmico como pano de fundo é uma necessidade. O grande problema das últimas novelas de Manoel Carlos, a propósito, foi a falta desse elemento que serve como mote. Em Sete Vidas, o mote é forte, incômodo e sagaz. Inova no argumento e tem tudo para conduzir a novela a grandes encontros e desencontros. Desse modo, ainda que apresente uma dramaturgia bastante cuidadosa, Sete Vidas prende a atenção do início ao fim. Sem dúvida alguma, Lícia Manzo é também uma autora corajosa: a novela perpassa por tabus que seriam impensáveis no horário das 18 horas há alguns anos. Reprodução artificial já havia causado um estrondo muito significativo em Barriga de Aluguel. Em Sete Vidas, ela vem acompanhada por questões tão sensíveis quanto: homossexualidade e um incesto platônico, por exemplo. E ninguém melhor que Lícia para escrever a respeito. Sua abordagem costuma ser inteligente e multifacetada.
 
 
À parte do péssimo trabalho em Em Família, Jayme Monjardim parece buscar a redenção. Sete Vidas dá espetáculo em fotografia, trilha sonora, direção de arte, entre outros aspectos técnicos fulcrais. O primeiro capítulo, a exemplo do excelente desempenho em A Vida da Gente, foi perfeito. Da mesma forma, o elenco é bastante competente. Já na abertura é possível ver nomes como Mariana Lima, Gisele Fróes, Ghilherme Lobo, Jesuíta Barbosa e Maria Eduarda de Carvalho. Excelentes atores que nem sempre entram nas panelas mais badaladas da televisão. O quarteto principal também agrada, principalmente por conta do retorno da sempre magnífica Débora Bloch. As expectativas são as melhores.

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