quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Vale a Pena Conferir: Suburbia.

Dificilmente, o blog se atenta a séries e seriados. No entanto, uma produção da Rede Globo chamou a atenção por sua extrema qualidade: Suburbia, obra dirigida pelo magistral Luiz Fernando Carvalho. Desde o início, o seriado trouxe uma proposta diferente: uma direção que radicalizou o realismo, um roteiro que privilegiou o dinamismo das situações cotidianas, além de atuações bastante marcadas por um naturalismo extremo. Seguindo essas diretrizes, o jogo de câmeras causou, propositadamente, certa identificação com a vida corriqueira: não vemos o mundo com a mesma linearidade e estabilidade das produções ficcionais. Tudo é instável, fragmentado e depende, é claro, do nosso campo de visão. Carvalho, vale dizer, conseguiu passar a mensagem muito bem. O roteiro, a propósito, também seguiu esse caminho. Nada de diálogos com marcações fortes: tudo flertava com o fluxo de improviso. Por fim, cabe elogiar a belíssima atriz que serve de protagonista, Erika Januza. Desde já, percebe-se que ela tem futuro. Ademais, duas coisas devem ser destacadas: a primeira é a participação largamente majoritária de negros no cast da série. Em um país de metade negra, chega a ser assustador que as novelas e os demais produtos televisivos exibam teledramaturgia quase que exclusivamente encenada por gente branca. O negro, infelizmente, é raridade na TV. Mas a história, ainda bem, é diferente em Suburbia. A segunda coisa que merece ser mencionada é a fina crítica social que subsiste nas entrelinhas do seriado: a acadêmica branca e abastada é instruída e estudada, mas não se furta em explorar o trabalho de uma criança negra e fragilizada. Do mesmo modo, o patrão estupra a empregada negra sem nenhum pudor, evidenciando a forte relação de hierarquia que existe, não só entre brancos e afrodescendentes, mas entre homens e mulheres. Enfim, Suburbia mal estreou e já dá sinais de que, assim como Hoje é Dia de Maria, veio para marcar. 

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