terça-feira, 6 de novembro de 2012

Lado a Lado: Audiência em Baixa, Qualidade em Alta

Lado a Lado, novela das 18 horas, chama a atenção por sua qualidade. Com uma dramaturgia bem-escrita, bem-desenvolvida e bem-amarrada, a trama de João Ximenes Braga e Cláudia Lage encanta por causa de seu alto grau de acabamento textual. O folhetim, a propósito, tem um conceito diferente em relação à maioria das novelas de época exibidas até aqui. Lado a Lado, vale dizer, não se coloca como uma trama de costumes datados. Antes de mais nada, suas histórias se desenvolvem nos moldes contemporâneos, com conflitos que podem muito bem acontecer em meio às nuances dos nossos tempos. A própria trilha sonora, totalmente atual, indicia que o objetivo da novela não é retratar o código moral do início do século XX, mas olhar para o passado com as tintas do terceiro milênio. 

Mas por que a escolha desse contexto histórico específico? Ora, os anos 1900 foram fundamentais para a formação da estrutura social presente no Rio de Janeiro atual. Um contexto recheado de acontecimentos importantes: a reforma urbana, o surgimento dos morros, as revoltas da vacina e da chibata, entre outras ocorrências que justificam toda a configuração presente, hoje em dia, na metrópole carioca. Assumir tal conjuntura como pano de fundo traz à tona, certamente, discussões essenciais aos principais problemas que assolam a sociedade do Rio nos anos 2000: a desigualdade social, a repressão por parte do poder público, a falta das garantias básicas de sobrevivência. O discurso de Laura (Marjorie Estiano), Zé Navalha (Lázaro Ramos) e Edgard (Thiago Fragoso) são propositadamente avant-garde, isto é, representam contestações que representam, obviamente, vozes da contemporaneidade.  Um deslocamento perfeito.

À parte disso, a novela é um primor em direção e em elenco. Tudo é perfeito: a fotografia, os cenários, os figurinos, a já supracitada trilha sonora e a direção de arte. O elenco, então, é um deleite à parte. Dennis Carvalho soube reunir, sem dúvida, o melhor elenco dos últimos tempos: Lázaro Ramos, Camila Pitanga Marjorie Estiano, Thiago Fragoso, Cássio Gabus Mendes, Milton Gonçalves, Alessandra Negrini, Patrícia Pillar, Maria Padilha, Isabela Garcia, Caio Blat, Tuca Andrada, Paulo Betti, entre outros. Além de atores experientes, a novela também traz excelentes revelações: Álamo Falcó e Rui Ricardo Diaz são dois bons exemplos.

Ainda assim, Lado a Lado continua patinando no Ibope. Fenômeno parecido assombrou novelas como A Vida da Gente, que registrou, em seu último capítulo, apenas 23 pontos de audiência, e Força de Um Desejo, que só emplacou mesmo em sua reprise. Em outras palavras, algumas novelas de qualidade ímpar simplesmente não conseguem conquistar números expressivos em medições de telespectadores. Em contrapartida, tais novelas acabam, com o tempo, tornando-se cults, folhetins inesquecíveis e com fãs bastante seletos. Isso quer dizer que a audiência não é um fator relevante? Obviamente, não. A novela é, em seu cerne, um produto de massa; criado, perpetuado e imbricado pelo povo. A relação é de interdependência: o gênero novela cresceu por causa de sua audiência e a audiência, por sua vez, vê na novela um dos principais traços de sua cultura. 

Seja como for, toda regra comporta sua exceção. Certamente, novelas como Lado a Lado fazem parte de uma exceção positiva. Com pouca audiência e muito reconhecimento de críticos e telespectadores assíduos, elas ganham a tacha de injustiçadas. Por outro lado, há as exceções negativas: novelas ruins que conquistaram, de modo inexplicável, o público. Fina Estampa, por exemplo, conseguiu uma das maiores médias no Ibope dos últimos 4 anos. Porém, não obteve nenhum reconhecimento. A novela de Aguinaldo Silva, de tão ruim, ganhou o estigma de supervalorizada. De qualquer forma, é bem provável que, daqui a uns anos, ninguém se lembre das caricatas e dispensáveis aventuras de Griselda, Crô e cia. Em contrapartida, Lado a Lado, Força de Um Desejo e A Vida da Gente têm tudo para ficar, durante muito tempo, na memória de boa parte dos brasileiros. 

Um comentário:

  1. Essa novela é muito interessante por falar sobre a capoeira e como ela era tratada, mas ainda assim não esta abordando todos os lados história, perdendo a oportunidade de retratar alguns aspectos e fatos históricos da época. A capoeira era perseguida sim, mas já havia quem a defendesse como o verdadeiro esporte nacional, mesmo entre as elites. Naquela altura a capoeira não era praticada apenas por negros e mestiços, a malta Guaiamu referida na trama continha muitos imigrantes europeus de diversas nacionalidades. Em 1909, universitários conseguiram organizar o desafio entre um capoeirista local e um japonês lutador de jiu-jítsu contratado pela marinha, no qual o brasileiro foi vitorioso.

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