sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Um Brinde À Pieguice

A qualidade do elenco de Amor, Eterno Amor, continuação da temática espírita começada por Elizabeth Jihn em Escrito Nas Estrelas, prometia, em certa medida, que a novela seria, no mínimo, digna de atenção. Se, por um lado, nomes como Gabriel Braga Nunes, Cássia Kis Magro, Denise Weinberg, Sandra Corveloni, Osmar Prado, Pedro Paulo Rangel, Carolina Kasting, Mayana Neiva, entre outros, chamavam a atenção por conta de uma interessante composição de peças que é raramente alcançada nas escalações (cada vez mais "publicitárias" nas novelas dos últimos anos); por outro, viu-se logo de cara que pouco ou quase nada esses nomes poderiam fazer diante da clara limitação da autora. Jihn, escritora com estilo bem parecido com aquele romancismo cafona propagado em obras de banca jornal, confirmou, em sua última novela, a sua vocação para a falta de habilidade crítica e para a abordagem rasa com a qual costuma tratar dilemas de vários tipos.

A direção, vale dizer, acertou. Rogério Gomes, o Papinha, soube mitigar, dentro do possível, a falta de maturidade da dramaturgia da escritora. Uma fotografia correta e uma trilha sonora que continha, por exemplo, nomes como Johnny Cash e Marisa Monte, deram à novela um aspecto interessante. O diretor, acertadamente, tentou trazer a obra de Jihn para o plano do existencialismo, abordagem traçada, só para mencionar, em filmes como A Árvore da Vida, de Terrence Malick. Obviamente, a tentativa fracassou entre as milhares de pílulas de auto-ajuda barata e crendice mal-fundamentada que a autora, demasiadamente, espalhava pelos capítulos. A novela se tornou, sem sombra de dúvida, solo fértil para um espiritualismo milagreiro, extremamente piegas e recheado de ortodoxia.

A ortodoxia, aliás, esteve presente na configuração da produção. De um lado, os bons e crentes; do outro, os maus e descrentes. Uma espécie de maniqueísmo religioso que tratou, sem pestanejar, o belo fenômeno da fé com superficialidade e dogmatismo. Os vilões da história, encabeçados por Melissa (Cássia Kis Magro) e Fernando (Carmo Dalla Vecchia), eram invariavelmente anti-teístas, fenômeno que explicaria, nas entrelinhas da lógica da novela, a composição de naturezas perdidas e decaídas. Ateus e agnósticos, nesse contexto, foram jogados em um "umbral moral" completamente irreflexivo e superficial. Um discurso tão anacrônico quanto os já proferidos nas diversas perseguições religiosas empreendidas ao longo dos séculos. Outro ponto importante: o sincretismo de religiões mostrou-se extremamente exagerado e deixou transparecer a falta de pesquisa quanto aos embasamentos e preceitos das diversas crenças mencionadas pela história. No discurso do folhetim, tudo era abordado de forma leviana: do espiritismo de matriz kardecista a doutrinas orientais. Tudo isso em um vocabulário pobre e recheado de senso comum. 

Se ao menos a história compensasse, a novela valeria o espaço que recebeu. No entanto, a trama principal foi arrastada, mal-conduzida e pouco envolvente. A pieguice de Jihn, já citada em seus discursos  místicos moralizadores, também esteve presente no fio central de condução da novela. Assim, as cenas entre Rodrigo e Miriam, casal de protagonistas, transformaram-se, em sua maioria, em sequências afins a romances água-com-açúcar enfadonhos e sonolentos. As tramas paralelas, por sua vez, não cumpriram minimamente a sua função. Foram satélites tão mortos quanto o ponto central da história. Nada a ser salvo. 

Antes do fim, eu gostaria de citar algumas atuações negativas. Em que pese o trabalho primoroso de atores como Cássia Kis Magro ou Osmar Prado, o trabalho de Carmo Dalla Vecchia, ator bastante prestigiado pelos diretores nos últimos anos, foi vergonhoso. Uma composição exagerada e bastante equivocada tornou o seu desempenho bastante insatisfatório. Já Andréa Horta, que até conseguiu chamar a atenção do público nos primeiros meses de novela, foi outra que pecou pelo excesso. Ela, porém, já provou, na TV e no teatro, que é uma atriz de mão cheia. Talvez Horta tenha sido prejudicada por sua experiência teatral, que notadamente exige expressões mais incisivas e marcadas. Vale, assim, a dica para essa intérprete extremamente promissora.

De um modo ou de outro, Amor, Eterno Amor revelou, em última instância, que Elizabeth Jihn continua a repetir os erros do passado. Se Escrito nas Estrelas teve o excesso de miticismo lamechas mitigado por uma direção competente, uma sinopse forte e um elenco repleto de ótimos atores (como Antonio Calloni, Zezé Polessa e Débora Falabella), em sua novela mais recente a autora novamente, assim como em Eterna Magia, caiu na arriscada estratégia de transformar o discurso místico em lei universal. 

AVALIAÇÃO DA NOVELA: RUIM

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