domingo, 3 de maio de 2015

Quem tem medo das bandeiras desfraldadas?

Sete Vidas é uma novela especial. Com uma qualidade textual incrível, Lícia Manzo inscreve seu nome na lista de grandes autores da nova geração. Babilônia, por sua vez, enfrenta problemas de audiência. Desde a primeira semana, Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga vêm sofrendo com o desinteresse generalizado do público.
 
Daí que a crítica, como de costume, apresenta as suas motivações para o antagonismo de resultados entre as duas tramas. A primeira, dizem, é eficiente na medida em que não levanta bandeiras e não causa polêmica. A segunda, por sua vez, sofreria por uma espécie de síndrome de politização generalizada do cotidiano. Bobagem completa.
 
Primeiro porque Sete Vidas não é boa por não levantar bandeiras. Pelo contrário, a novela levanta, sim, seus questionamentos, quase sempre direcionados a uma problematização que resvala nas relações sociais. Segundo porque Lícia Manzo é excepcionalmente cuidadosa com o seu texto. Raridade em dias de roteiristas imediatistas, Lícia transita muito bem entre a qualidade formal (um rebuscamento não hermético) e a material (a densidade de suas tramas e a forma pela qual elas se entrecruzam).
 
Terceiro porque Babilônia tem sua força justamente em seu caráter contestador. É por sua constante desconstrução de valores hipócritas que Babilônia cresce em avaliação crítica. E a maior preocupação de quem assiste a novela, a propósito, consiste num possível processo "apatização" do enredo, algo que deixaria o folhetim como todos os outros que o antecederam. Quarto, Babilônia não tem os seus defeitos em seu aspecto formal, mas no material: nas primeiras semanas, a trama correu de maneira preguiçosa. Faltou enredo e um desenvolvimento mais palpável de seu argumento. Agora, com a concentração da trama em sua sinopse, a novela parece ter retomado o rumo de um grande folhetim.
 
Por fim, também é uma falácia acreditar que Sete Vidas e Babilônia se encerram em um antagonismo completo. De início, considero as duas tramas excelentes, cada qual com a sua marca. Mas Sete Vidas não é perfeita: todos os personagens parecem muito articulados, muito civilizados, não há um elemento que apenas atire um prato na parede. Muito menos Babilônia é símbolo de absoluta imperfeição: é uma novela corajosa, instigante, com um potencial ainda muito grande. Resta esperar.

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