terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Retrospectiva 2014: o que marcou e o que decepcionou

O que marcou:

1 - Dupla Identidade: O seriado começou com um sério problema de excesso de didatismo verbalizado em cena pela sempre verde Luana Piovani. Com o passar dos capítulos, porém, a história de Glória Perez ganhou dinamismo e deu mais espaço a performances de grandes atores, notadamente a de Bruno Gagliasso, o protagonista. O roteiro se tornou envolvente e mostrou que a autora, quando quer, ainda consegue fazer grandes trabalhos. Surpreende o fato de Glória, acostumada à clássica estrutura dos épicos folhetins à la Glória Magadan, ter conseguido desenvolver com maestria uma história de traços bem mais crus. Boa surpresa.

2 - Amores Roubados: Mas a grande série do ano foi, sem dúvida alguma, Amores Roubados. De George Moura, a produção se destacou mais por seu primor técnico: a direção de José Luiz Villamarim, a fotografia de Walther Carvalho e o apuro dramático de um elenco irrepreensível. Um trabalho em conjunto que rendeu um dos maiores produtos da teledramaturgia brasileira dos últimos anos.

3 - Meu Pedacinho de Chão: Luiz Fernando Carvalho transformou o texto conservador de Benedito Ruy Barbosa em uma obra revolucionária. Poucos diretores, aliás, têm a liberdade de Carvalho ao executar os seus trabalhos. E Carvalho, ciente dessa prerrogativa, sabe muito bem aproveitar os seus recursos. Meu Pedacinho de Chão, não fugindo à regra, abusou de uma edição inovadora, uma fotografia ímpar e um figurino encantador. A trilha sonora também foi destaque.

4 - O Rebu: O Rebu certamente poderia ter sido melhor. O roteiro se perdeu um pouco no desenvolvimento da novela, é verdade. Mas a direção de Villamarim mais uma vez se diferenciou. Trilha sonora memorável e uma fotografia que foi conduzida, apesar de injustas críticas, pelo sempre maravilhoso Walther Carvalho. Assim, a novela ganhou seus contornos de novelão: pelo menos, a trama de estreia de George Moura e Sérgio Goldenberg foi revolucionária no aspecto técnico. Mas se o roteiro não foi dos melhores, o último capítulo funcionou como redenção: emocionante e coerente, o desfecho foi um dos melhores dos últimos anos. É verdade que o saldo bem-sucedido da trama também deve suas razões a um elenco acertadíssimo: Patrícia Pillar, Sophie Charlotte, Cássia Kis Magro e Camila Morgado se destacaram com toda a justiça.

5 - Masterchef Brasil: O reality de culinária da Band surpreendeu pela qualidade técnica. Jurados bem escolhidos, participantes diversos e uma direção bastante acertada. E o melhor: sem nenhum tipo de excesso de sensacionalismo. Algo que infelizmente é difícil de ver fora da Rede Globo. O sucesso foi tanto que a emissora paulistana já planeja uma nova edição no ano que vem. 

6 - Boogie Oogie: Ruy Vilhena veio de Portugal em uma espécie de lobby feito pelo colega Aguinaldo Silva. Jovem, o autor português já havia feito nome no país dos patrícios com suas boas novelas. E com méritos. É o que vem mostrando a atual novela das 18 horas, Boogie Oogie. Apesar da ambientação ruim, Ruy Vilhena trouxe às novelas características de seriado: uma sequência grande de plot twists movimenta os capítulos. Há quem diga que Boogie Oogie é uma novela tradicional. Ledo engano.




O que decepcionou:

1 - Império: O tal novelão de Aguinaldo Silva virou novelinha. Previsível no que tinha que ser surpreendente e surpreendente no que tinha de ser previsível. Todos os bons personagens perderam sua razão de ser: a transexual virou hétero, a megera virou dondoca, o protagonista anti-herói virou herói. E nada se salvou. Nos últimos tempos, o autor se rendeu a uma espécie de recurso ao absurdo. Em uma novela que começou em uma espécie de realismo épico. Do dia para a noite, metade do elenco iniciou uma busca incessante por partes de um cristal "encantado". Houve até cirurgia plástica que transformou Drica Moraes em Marjorie Estiano. Um horror.

2 - The Voice Brasil: O reality musical brasileiro vem tentando repetir o sucesso de sua primeira edição. A verdade é que a paciência do telespectador brasileiro já havia se esgotado no fim da segunda. Na terceira, o fracasso de crítica só terminou de coroar o mau trabalho da edição brasileira do reality. A comparação com versões estrangeiras chega a ser deprimente. E isso não se restringe à notável diferença de qualidade: os participantes brasileiros parecem ter se rendido a uma modulação vocal que está longe de ser apreciada pela cultura brasileira. Consequência, talvez, da vitória do participante made in USA que venceu a segunda edição, um calouro de orientação soul e gospel (na minha opinião, bastante ruim). Na terceira, grande parte dos aspirantes transpareciam querer serguir o mesmo caminho. E o resultado não foi outro: pouca diversidade e muita gritaria, algo distante do que se viu, por exemplo, na elogiada primeira edição. A dupla sertaneja, configuração consagrada pela cultura brasileira, acabou ficando com o prêmio. E mereceu. Só para citar o óbvio: Cláudia Leitte, Carlinhos Brown, Lulu Santos e Daniel são insuportáveis. O time de jurados pode até ser composto por ótimos músicos. Carlinhos Brown é um dos nossos grandes nomes, por exemplo, Como jurados, porém, a bancada do The Voice  é over e cansa rápido.

3 - Em Família: A última novela de Manoel Carlos merecia destino melhor. Nos últimos anos, o premiado autor de Por Amor e Laços de Família negligenciou as suas tramas principais: Helenas insípidas quase sempre imersas em histórias pouco envolventes e não desenvolvidas. Nesse contexto, tramas paralelas se destacam. Em Família não foi diferente. Uma boa notícia para atores como Vanessa Gerbelli, Marcelo Mello Jr., Tainá Müller e Giovanna Antonelli. Destacaram-se em papéis coadjuvantes. Mas a trama principal, aquilo que dá razão de ser e argumento a uma novela, não se movimentou. Um erro fatal em qualquer novela. No contexto de Manoel Carlos, marcado pelo marasmo do cotidiano, tal aspecto foi ainda mais definitivo para sacramentar o fracasso.

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