terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Além de excessivamente conservadora, dramaturgia de Império é pouco crível

Que Império é uma das novelas mais moralmente conservadoras dos últimos anos, o blog já havia comentado. Depois das razoavelmente progressistas Amor à Vida e Em Família, Império estreou para escancarar os fantasmas mais retrógrados não apenas da sociedade, mas do próprio autor. Nas últimas semanas, o folhetim foi além: tratou de forma no mínimo leviana a questão da falta de moradia no país. O Brasil, uma nação com uma grande massa de pobres e um número bastante relevante de desabrigados, é coroado com uma novela que trata o assunto do modo mais raso: quem invade propriedade é só um vagabundo, como deixa a entender Aguinaldo Silva em seu texto digno de dramaturgo de jornalzinho.

Mas o que os últimos episódios de Império vêm demonstrando é um problema ainda maior: a tendência ao patético. Falta um elemento crível às tramas que se desenrolam na rede do folhetim. Dois exemplos: Maria Marta, a megera mais insuportável desde Tereza Cristina, manda trazer de algum lugar a sobrinha mal amada, a chatinha Amanda, a fim de acabar com o casamento do filho, José Pedro, com a sua indesejável nora, Danielle. Uma sobrinha, assim, que cai de pára-quedas em uma espécie de inexplicável pulo-do-gato. O motivo do exílio de Amanda, engendrado anos antes pelo Comendador, é ainda mais estranho: O todo-poderoso não apoiava o namorico da sobrinha da esposa com o filho, já que eram primos. Um argumento risível. Outro exemplo: a busca pelas tais quatro partes do diamante por boa parte do elenco. O eixo de Cora é ainda mais deprimente: a suposta vilã pretende trocar os diamantes por uma noite de sexo com José Alfredo. Chegou a matar um fulano no meio da empreitada. A maneira: empurrando-o da escada. Enfim, a novela caminha para um destino tão triste quanto o clichê do assassinato escada abaixo. Aguinaldo Silva, para não perder o costume, confirma a sua trajetória decadente. Talvez a mais decadente entre os grandes autores da emissora.

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