sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Gabriela: Considerações Finais

Gabriela termina, sem dúvida, com impressões controvertidas. De certo modo, o retorno da dramaturgia da Rede Globo às tramas regionalistas foi bastante positiva. Foi prazeroso rever, ainda que extremamente distorcido, o universo de Jorge Amado e do Nordeste brasileiro. Ademais, algumas inovações de Walcyr Carrasco foram, inegavelmente, inteligentes. A inclusão de personagens como Dona Doroteia, interpretada divinamente por Laura Cardoso, Miss Pirangi, defendido de modo fantástico por Gero Camilo, e Lindinalva, que ganhou a interpretação correta (mas não muito brilhante) de Giovanna Lancelotti, deram vigor e emoção à adaptação. Também é evidente que o autor conseguiu, de modo eficiente, desenvolver tramas que já existiam na versão de Walter George Durst. A história Sinhazinha (Maitê Proença) e Osmundo (Erik Marmo) comoveu o Brasil. Do mesmo modo, Malvina (Vanessa Giácomo), Mundinho Falcão (Mateus Solano) e Gerusa (Luiza Valdetaro) também ganharam bons momentos durante a novela.

No entanto, o folhetim de Carrasco pecou bastante justamente por conta de seu estilo piegas, infantil e previsível. Núcleos como o de Glória (Suzana Pires) e o de Tonico Bastos (Marcelo Serrado) sofreram com díálogos constrangedores e completamente dispensáveis. O estilo marcante carrasquiano também atravessou o caricato e pobremente construído Bataclan, que foi equivocadamente afrancesado nessa versão. A propósito, algumas interpretações foram, gritantemente, sofríveis: Marcelo Serrado, que desde suas participações nas novelas da Rede Record é over, chato e limitado, mais uma vez pesou a mão em sua composição e fez de Tonico Bastos um dos piores personagens do ano. Ridículo. Ivete Sangalo, como já era de se esperar, não conseguiu passar de uma interpretação abaixo da média. Um ótimo personagem desperdiçado por uma figura que, embora seja bastante simpática e uma cantora de sucesso, não tem condições de levar um papel tão relevante. A trama central também perdeu força. Diante de um espectro de personagens mais interessantes, Gabriela (Juliana Paes) passou batida. Juliana, aliás, não teve o melhor de seus desempenhos.

Enfim, se, por um lado, a novela de Walcyr Carrasco cumpriu a função de repercutir, causar comoção e atrair a atenção do público jovem para tramas interioranas, por outro, a veia caricata do autor pesou, em muitos momentos, contra o conjunto da trama. Sem dúvida nenhuma, Carrasco teve os seus méritos, como já supracitado. Contudo, é preciso que, ao longo de seus próximos trabalhos, ele tente, pelo menos, relativizar alguns aspectos cômicos e burlescos que, infelizmente, passam do limite do razoável. De qualquer forma, sua novela das onze mostra, mesmo que por caminhos tortos, algum amadurecimento. Gabriela é, com certeza, a melhor novela de Carrasco desde O Cravo e A Rosa.

Avaliação: RAZOÁVEL


(Espectro de avaliação: Péssimo, Ruim, Razoável, Bom, Ótimo)

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