domingo, 12 de agosto de 2012

Jogo Rápido: Gabriela

Gabriela, adaptação de Walcyr Carrasco ao romance homônimo de Jorge Amado, chega a contornos decisivos e começa a ser cobrada pela audiência mediana. Há quem diga, inclusive, que a novela das onze carece de repercussão ou mesmo de emoção. Questionamentos, ademais, recaem sobre a escalação da protagonista ou sobre a desnecessidade de veicular a icônica cena em que Gabriela sobe em um telhado de Ilhéus para buscar uma pipa. Qual seria, desse modo, o problema de Gabriela? 

Bom, é claro que a cena da pipa iria ao ar. Como cena emblemática, não dava para deixá-la de fora. Em uma adaptação cheia de recursos inventados - inovações feitas ao romance e à primeira versão -, a sequência mais marcada na memória da cultura não poderia ser deixada de fora. Seria um ultraje e até mesmo um desrespeito com quem aprecia minimamente a obra do escritor baiano. Ao mostrar as partes, Gabriela mostrava, também, todo o espanto de uma sociedade oprimida, recatada e constantemente calada pelo regime militar que assombrava o Brasil da época.

Falta de repercussão também não é. Gabriela entra todo dia nos trending topics do twitter, só pra citar um exemplo. A traição de Dona Sinhazinha e seu consequente assassinato, o dilema da jovem Lindinalva e as maldades de Dona Dorotéia são alguns exemplos de fatos que, de um modo ou de outro, foram bastante comentados em redes sociais. As duas últimas personagens, vale dizer, são inéditas da novela de Carrasco, dado que prova que não há, de maneira alguma, um erro de cálculo em relação ao remake.

Erros menores, é claro, podem ser apontados: Marcelo Serrado, por exemplo, é over, caricato, chato e irritante. Seu personagem se perdeu completamente em meio a uma composição mais adequada a um quadro pobre de humorístico raso tipicamente feito pela Rede Globo. Se Marcelo se inspirou ou não no intérprete original (Fúlvio Stefanini), fato é que o Tonico Bastos dessa versão é completamente diferente. De semelhante, só a parte mais caricata e, curiosamente, a mais dispensável. 

O problema maior da versão do Walcyr Carrasco, na minha opinião, está longe de ser a protagonista ou a falta de emoção. A questão recai muito mais sobre o contexto histórico que era pano de fundo da Gabriela de Walter George Durst. Em 1975, em tempos de censura moral, Gabriela chocou, de certo modo, a sociedade em geral. Hoje, obviamente, a trama não funciona como naqueles tempos. E nem poderia: já estamos acostumados a ver gente quase nua até em programas vespertinos dominicais. Eram outros tempos. 

Mas também pesa o fato de que o autor, seguindo sua tradição, infantiliza e ridiculariza um texto muito crítico e questionador. Esse movimento de infantilização é facilmente provado por algumas cenas: a veiculada na última sexta, por exemplo, em que Tonico Bastos se veste de mulher em uma sequência completamente patética e descontextualizada. Ou ainda, pelas descrições ridiculamente feitas pela personagem de Suzana Pires a respeito do sexo com seu coronel-provedor.  No final das contas, Gabriela ganha um ar de pornochanchada ruim que, em tempos atuais, tem menos impacto do que qualquer vídeo no youtube.

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