quinta-feira, 9 de abril de 2015

Os antagonismos: Da péssima Chapa Quente ao ótimo Tá No Ar.


Chapa Quente tinha tudo para ser uma boa aposta. Cláudio Paiva, criador da série e ex-coautor de A Grande Família, tem um bom currículo e mostrou um ótimo trabalho no seriado da Família Silva, principalmente depois de uns anos de amadurecimento textual. O elenco também é muito bom: além dos excelentes Ingrid Guimarães e Leandro Hassum, a produção traz para a TV Globo nomes como Renata Gaspar.
 
Mas a boa impressão terminou logo na primeira cena do seriado. A verdade é que a série é péssima. Primeiro porque é batida, clichê, um pastiche de tudo o que já foi feito desde Tapas e Beijos até as primeiras temporadas de A Grande Família. Com a desvantagem de ter um texto estereotipado, medíocre, bobo, cheio de preconceitos: e nisso há um segundo motivo para uma crítica não-condescendente. A tal classe C de Chapa Quente é distante da realidade e perpetuada por meia-dúzia de chavões conservadores. Nada foge do folclore de botequim: da caveira na bunda do tal Sargento Bigode (Lúcio Mauro Filho) ao bandidão vingativo que, ora, é negro, mal-encarado e truculento. As piadas também têm a sua função no desastre: previsíveis, infantis e pouco refletidas. Por fim, a própria direção escorrega: a começar pela abertura embalada por uma espécie de coroação de toda visão deturpada - e até recheada de ódio - sobre a classe emergente. Pobre São Gonçalo.
 
Se Chapa Quente é horrível, a segunda temporada de Tá No Ar é um primor de qualidade. Apesar de um pouco preso por vezes na sistemática batida de Casseta e Planeta em alguns momentos, o programa capitaneado por Marcelo Adnet tem sacadas sensacionais. Antenados com um humor mais crítico, os roteiristas de Tá No Ar procuram não se prender a velhas fórmulas. E estão cobertos de razão.
 
Esse desprendimento vai transformando o Tá No Ar em uma espécie de respiro na grade de programação. Piadas como a do militante esquerdista indignado com a Rede Globo e o Jardim Urgente, quadro que satiriza os péssimos programas policiais sensacionalistas, são de fato espertas e ferinas. O bom elenco também colabora com a efetividade dos quadros, um time que mescla nomes mais e menos industriais. Para completar, o próprio argumento do programa, apesar de copiar uma esquete do extinto Comédia MTV, é bastante adequado ao dinamismo do roteiro: Tá No Ar é exibido como se estivesse sujeito a um zapeamento randômico de canais. Perfeito.
 
Assim, as noites de quinta da Globo são encerradas com humorísticos bastante diferentes. Em um antagonismo, ir de Chapa Quente para Tá No Ar é como ir do inferno ao céu em pouco tempo. Resta saber se o público de Adnet e cia., naturalmente diferente do público de Chapa Quente, sobrevive aos minutos de martírio proporcionados pelo programa protagonizado por Ingrid Guimarães.

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