segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Entre altos e (muito) baixos, Geração Brasil parte sem deixar saudades

Há quem diga que Geração Brasil tenha pecado por desafiar o folhetim tradicional. Na minha visão, o grande legado dessa controversa novela foi justamente a sua vontade de revolucionar. Nos personagens, na estrutura dos diálogos, na trilha sonora: o maior ponto positivo nesse folhetim foi o vanguardismo. Alguns de seus personagens, a propósito, serão inesquecíveis: Barata, a Família Parker-Marra, Dorothy Benson, exemplos não faltam para preencher a nossa argumentação. Os diálogos, outra boa inovação, às vezes se convertiam em monólogos. A trilha sonora, por fim, outrossim fugiu do tradicional: da ótima "Alma Sebosa", de Johnny Hooker, até a excelente "Combat Lover", de Nina Kinert.

Mas nada disso funciona sem história. Todo vanguardismo, se não for circundado de um desenvolvimento consistente, vira circo, uma loucura sem sentido. E foi exatamente isso o que aconteceu: Geração Brasil, de forma notável em sua metade, virou uma espécie de show injustificado de excentricidades. Os personagens se tornaram palhaços, os monólogos cansaram e a trilha sonora apenas coroou aquele pandemônio pouco elaborado (um kitsch que, muito longe de uma desordem felliniana, chegava ao ponto de ser de extremo mau gosto). Na reta final, já quando não havia mais salvação, os autores engrenaram. Voltaram a acertar o ponto do feijão: a trama principal ganhou corpo e a ascensão de Herval (Ricardo Tozzi) como grande vilão mostrou-se positiva. De certa maneira, a ligação entre conclusão e introdução foi muito coerente. Poucas pontas soltas ficaram entre o início e o fim. Só que faltou o meio.

Seja como for, a dupla Izabel de Oliveira e Filipe Miguez ainda podem ser considerados grandes promessas da nova geração. Ousadia não falta. Talvez o que ainda falte, uma boa dose de responsabilidade, seja algo que venha com o tempo.


Avaliação: Mediana.

2 comentários:

  1. Acredito que daqui uns 20 anos a novela será cultuada, igual acontece hoje com várias novelas trash dos anos 80. Adoro teledramaturgia nesse estilo, mas com história obviamente, o visual, os personagens, o vanguardismo e uma pegada kitsch proposital me fascinam, adoro esquisitices. Concordo com sua crítica e adoro seu blog! No aguardo de sua resenha sobre Alto Astral;

    To sempre dando uma passadinha por aqui. ;)

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    1. Obrigada, Paulo! Fico muito feliz que você continue lendo meus comentários depois de tanto tempo. Um beijo. (:

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