domingo, 9 de novembro de 2014

Primeiras Impressões: Alto Astral

Novelas espiritualistas já não são nenhuma novidade: da célebre A Viagem à recente Alma Gêmea, o assunto aparece na telinha das emissoras de televisão com mais frequência do que pensamos. Novelas espiritualistas e cômicas, nesse mesmo sentido, também se encontram entre os conceitos pra lá de batidos: O Anjo Caiu do Céu e Deus Nos Acuda, por exemplo, tinham o mesmo contexto. E Alto Astral segue à risca a receita de apostar no seguro arroz-com-feijão: um amor que desafia a razão, o vilão implacável e sedutor, a cidadezinha de interior majoritariamente ocupada por personagens tão humildes quanto insossos. Nem a abertura é novidade: uma versão mais elaborada de Aquele Beijo embalada por uma das canções mais utilizadas pelas novelas brasileiras (Alma, de Zélia Duncan). A Rede Globo, talvez por conta dos fracassos de Geração Brasil e Além do Horizonte, decidiu jogar as suas fichas em algo que sempre funcionou.

E de certa forma continua a funcionar. A novela, como um todo, é correta. Entretém, é bem-escrita e bem-desenvolvida. Acompanhá-la não é nenhum fardo, visto que o enredo, além de tratar o tema com extrema leveza, caminha sempre dentro dos seguros limites do folhetim tradicional. A direção às vezes se mostra anacrônica, muito provável por conta dessa necessidade da produção em resgatar a nostalgia das novelas mais clássicas. Nada, porém, que comprometa a correição do conjunto. Os personagens, por sua vez, não são muito complexos: todos seguem a mesma receita do 'menos é mais'. Temperamentos controversos passam longe do carteado de personagens de Alto Astral. O elenco, à parte de uma peça aqui e ali, é bem escalado. No time de protagonistas, apenas Thiago Lacerda pareceu pouco à vontade. Mas é também do time de protagonistas que surge a principal figura da novela até o momento: Cláudia Raia. Samanta transforma todas as suas cenas em acontecimentos épicos: nada na vida da trambiqueira resulta em aparecimentos banais. E Raia, em casa com esta personagem, usa muito bem o que sabe fazer para ganhar destaque.

De qualquer maneira, não há como não fazer menção à autora da sinopse de Alto Astral, Andrea Maltarolli, a talentosíssima novelista que, para tristeza geral, faleceu em 2009. Na Rede Globo, escreveu a ótima Beleza Pura, folhetim que indiciava as marcas de uma carreira promissora. Carreira que, por uma fatalidade, esbarrou em uma doença fatal: e nada mais intrigante que a sua última sinopse carregasse elementos espiritualistas. Em Alto Astral, a marca de Andrea Maltarolli é notável - e arrisco a dizer que é exatamente sobre as suas marcas que a novela ganha seus pontos altos. Coube ao competente Daniel Ortiz, colaborador do malogrado remake de Guerra dos Sexos, a empreitada de desenvolver a novela. Afirmar se a novela vai ou não emplacar no horário é tarefa difícil. O que se pode dizer, porém, é que, de um jeito ou de outro, Andrea sentiria orgulho dos frutos que deixou por aqui.

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