quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Rachel Sheherazade e a falta de debate

Não é de hoje que as posições de Rachel Sheherazade, âncora do Jornal do SBT, são controversas. Assumidamente, Sheherazade coloca-se de pronto como uma direitista cristã e conservadora. Este, aliás, é o grande problema. Ao assumir uma postura implacável, não sujeita a ouvir as vozes da razão, a jornalista acaba se perdendo em argumentos dogmáticos, raivosos e pouco refletidos. Seu discurso de terça-feira, dia em que defendeu o linchamento de um jovem desconhecido (reitera-se: ela sequer conhecia o rapaz) nas ruas do Rio de Janeiro, só prova o seu despreparo intelectual e emocional para emitir opinião em uma televisão de concessão pública. Destilou uma perigosa incitação à violência e à barbárie. Em um Estado Democrático de Direito, a punição de contravenções deve ser feita por instituições. Além disso, princípios como a dignidade da pessoa humana regem a nossa Constituição. Por mais sanguinário que seja o sujeito (e convenhamos que nem sabíamos da vida pregressa do homem em questão), ser espancado, deixado nu e amarrado a um poste pelo pescoço constitui uma prática absurda, cruel e desumana. Não há nada de nobre em punir com traços de psicopatia sádica. Muito menos em considerar tal conduta como "compreensível". Compreensível é que todos sejam processados e condenados (ou absolvidos) conforme os ditames legais. Qualquer coisa longe disso é autoritarismo, mesmo que praticado por "homens de bem".

Em tempo, o jornalismo do SBT anda mal das pernas não só por Sheherazade. Figuras como José Nêumanne Pinto também dizem seus absurdos vez ou outra. O problema, no fim das contas, está na falta de senso que uma linha editorial orientada dogmaticamente pode ocasionar. Assumir sem nenhuma reflexão uma posição que ofende princípios democráticos tão-somente porque reflete determinada postura (no caso do SBT, a postura conservadora) está longe de representar qualquer sinal de bom jornalismo. Ainda mais em um país tão plural como nosso.

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