quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Walcyr Carrasco e a falta de senso de autoria: quando o autor se acha mais importante que a obra

Reiteradamente Walcyr Carrasco vem demonstrando ojeriza aos cacos que seus atores colocam em seu texto. Exige que os diálogos sejam ditos da forma como estão escritos, sem tirar nem pôr. No entanto, essa concepção de dramaturgia passa longe de uma produção cênica de mínima qualidade. O texto, obviamente, é importante, mas é apenas uma base para algo que pode ser chamado de "autoria coletiva". Não só o autor tem papel fundamental na construção textual de uma personagem: o ator, que já influi no papel com os seus trejeitos, também participa do processo construtivo a partir dos cacos. E digo mais: na novela e no teatro, de forma óbvia, o público entra, outrossim, nessa conta. Uma novela pode mudar completamente por vontade do povo. E não só no enredo, mas também no conteúdo vocabular. A plateia teatral, por sua vez, dita o ritmo da reação dos atores e, por conseguinte, a forma pela qual eles ditam o texto. Isso sem contar, é claro, com a direção, com a edição e com todo o corpo técnico que, além de ser responsável pela "cara" da novela, pode, no fim das contas, fazer mudanças na dinâmica textual. Um exemplo bem-sucedido disso é Amora Mautner, que imprimiu a improvisação no núcleo de Tufão, em Avenida Brasil. A obra, assim, transcende o autor. E ele, é claro, não deixa de ser menos autor por isso. Já imaginaram se todas as adaptações de Tchekhov fossem rigorosamente fiéis ao texto original? 

Enfim, essa acepção restritiva de autoria certamente resvala na qualidade das produções de Carrasco. Seus textos são recitados, pouco emocionantes, declarados como se estivessem inseridos em um teatro escolar. Um assassinato ao senso de arte dramática. 

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