segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sobre Amores Roubados e Além do Horizonte

Amores Roubados se consagrou com uma grandes obras da teledramaturgia dos últimos tempos. A linguagem poética da direção, assinada por Villamarim e composta por nomes como Walther Carvalho, ditou a tônica de extrema qualidade que permeou os takes do seriado. A trilha sonora e os recursos textuais também merecem menções das mais elogiosas. Cabe, aqui, destacar os acertados apelos do roteiro, como a técnica de repetição exaustiva da última palavra da fala da personagem, a título de dar um tom reticente ao diálogo. George Moura, aliás, mostrou extremo bom gosto: não foi apelativo em nenhum momento. Cenas de nudez bem colocadas e uma clara preocupação em evitar o estereótipo excessivo do tipo nordestino. A adaptação, a propósito, foi muito bem elaborada: a contextualização de um texto do séc. XIX pareceu coisa fácil para o talentoso autor. Se Dira Paes ditou o tom da primeira semana da minissérie, a segunda foi de Murilo Benício. Em uma composição segura, passional e empolgante, Murilo aos poucos vai se transformando no nosso melhor ator de composição. Bebendo na água de nomes como Al Pacino, Murilo sabe explorar as tintas dos seus personagens. Cássia Kis Magro, Osmar Prado, Patrícia Pillar, Jesuíta Barbosa, Irandhir Santos e a própria Dira, é claro, ajudaram a completar o elenco que indubitavelmente entra pra história como um dos mais bem-escalados de todos os tempos. Mais um mérito da produção.


Além do Horizonte, obra que também atravessa o eixo de Ricardo Waddington, é ágil sem perder a coerência de enredo. A trama prende e não se ocupa das barrigas que geralmente pululam em novelas tradicionais. Por que, então, a nova novela das sete não consegue emplacar no Ibope? O primeiro motivo é óbvio: a inadequação do horário. A faixa das 19 horas, acostumada às tradicionais comédias cheias de esquetes de fácil assimilação, certamente não é o horário mais adequado para veicular uma atração do gênero. Além disso, o elenco principal é fraco. À parte de bons nomes no time coadjuvante (Carolina Ferraz, Antonio Calonni, etc.), o público não parece muito interessado em ver as aventuras encabeçadas pelo eternamente inexperiente Thiago Rodrigues. Vinicius Tardio, até aqui, só  mostrou que precisa estudar mais. Juliana Paiva tem potencial, mas sofre com o pouco apelo que o seu nome ainda desperta. Ainda, é preciso ressaltar que a trama, embora dinâmica e bem-escrita, sofre de certos elementos que pendem para o burlesco até para o gênero do suspense lúdico: epítetos como "o grande mentor" e "a máquina da felicidade" poderiam ser evitados, convenhamos. Por fim, não podemos nos esquecer que Além do Horizonte sucede a excelente Sangue Bom, novela que soube aliar a sua extrema qualidade textual a elementos de cunho popular. Desgarrar-se de boas novelas pode ser uma tarefa árdua.

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