sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Joia Rara acerta na direção, mas derrapa em dramaturgia

Joia Rara estreou com a expectativa de repetir o sucesso de Cordel Encantado, produção que encantou público e crítica há dois anos. Na equipe, as mesmas autoras, a mesma direção e algumas figurinhas repetidas do elenco da novela anterior. 

A direção é realmente um acerto. Amora Mautner, mais uma vez, prova que tem bom gosto e extrema atenção à qualidade de seus trabalhos. Algo que não ressoa apenas na belíssima fotografia e no inequívoco naturalismo com o qual conduz seus atores, mas também em mimos minuciosos como a imbatível trilha sonora (certamente a melhor do ano) e nos detalhes mais específicos da direção de arte. 

Os atores, é verdade, estão corretos. Bianca Bin, apesar de não ter lá tantos recursos dramáticos a ponto de carregar uma novela nas costas, faz o seu trabalho corretamente, não tendo culpa se a personagem, seguindo a tradição das mocinhas insípidas das novelas das seis, não tem muito carisma ou empatia. Bruno Gagliasso, ator já tarimbado apesar da pouca idade, também se vê preso em um papel menor do que suas potencialidades. Nesse contexto, Ana Cecília Costa, José de Abreu e Nathália Dill acabam roubando a cena tendo em vista a fraqueza dos protagonistas.

A dinâmica do elenco acaba expondo a grande ferida da novela: a trama principal é enfadonha, tem grande tendência a descambar para o texto piegas e é pouco verossímil mesmo para os padrões do gênero fantasia. Apesar de todo o talento de Mel Maia, fica difícil não se irritar com a extrema maturidade de uma enviada divina que sequer chegou à pré-adolescência. O casal protagonista, que é totalmente dependente da história que envolve a garota, perde-se e some em meio a um mar de conflitos sem muitos chamativos. 

Nas tramas paralelas, a coisa melhora um pouco, mas não o suficiente. Os eixos comandados por Ana Cecília Costa, Thiago Lacerda, Rafael Cardoso (apesar de seu personagem, tomando o caminho mais batido, ser bem menos interessante do que estava previsto na sinopse), José de Abreu e Nathália Dill são, sem dúvida, os mais interessantes. Outras histórias, porém, esbarram em reiteradas recorrências a clichês dramatúrgicos: da mocinha aterrorizada pela cruel governanta ao cabaré cheio de estereótipos pouco complexos.

Assim, Joia Rara sofre do mesmo problema de Cordel Encantado: Apesar da direção inovadora, Duca Rachid e Thelma Guedes não conseguem acompanhar o mesmo ritmo de originalidade e recorrem a um excesso de reiterações e clichês. Se, em Cordel, a inovação da sinopse conseguiu sustentar a dramaturgia circular e pouco elaborada que permeou a parte final do folhetim, em Joia Rara, pouco se salva na história a fim de dar conteúdo à bela moldura que o trabalho técnico da novela proporciona. 

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