quinta-feira, 4 de julho de 2013

De Cabo a Rabo

Os quatro horários das grandes novelas da Rede Globo estão ocupados. O blog, então, resolveu traçar um panorama das principais atrações da teledramaturgia da emissora carioca:

- Flor do Caribe: Depois da ousada Lado a Lado, a novela de Walther Negrão decidiu resgatar o caminho do folhetim tradicional. Uma mocinha ingênua, um heroi destemido, um vilão detestável, um conjunto maniqueísta povoado pelas belas paisagens do Rio Grande do Norte. No IBOPE, a estratégia funcionou: Flor do Caribe recuperou a audiência do horário e é, atualmente, a única novela global realmente bem-sucedida nesse quesito. Isso porque, vale dizer, o folhetim é, de modo geral, quase perfeito: bem-conduzido, bem-escrito, bem-escalado e bem-dirigido. Apostar em uma tradicional e redondinha trama água-com-açúcar parece ter sido uma ótima escolha.

- Sangue Bom: A novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari estreou com expectativas. Ela, autora portuguesa respeitada por um estilo elegante; ele, dramaturgo promissor da nova safra. A trama, no entanto, peca como conjunto. Embora haja aspectos formidáveis (texto afiado, tramas paralelas encantadoras, etc.), falta à novela uma sinopse mais forte, uma trama que sustente e dê liga a todas as outras. Sem isso, Sangue Bom parece esquizofrênica. E não só por isso: apesar de Dennis Carvalho acertar em cenas de drama, peca por um excesso de caricatura nas cenas de humor. De todo modo, ainda que as cenas de humor sejam, quase sempre, mal-dirigidas, personagens cômicos paralelos fazem parte dos melhores momentos que a obra proporciona: Bárbara Ellen (Giulia Gam), Tina (Ingrid Guimarães) e Damaris (Marisa Orth) são personagens magníficas. No viés dramático, temos outros enredos que valem a pena: Irene (Débora Evelyn) e Verônica (Letícia Sabatella) tiveram seus instantes grandiosos. Mas a falta de uma trama central realmente interessante não colabora. Não há a menor vontade de acompanhar a novela no dia seguinte. E os protagonistas, a propósito, são fracos e interpretados por atores sem muito carisma. Sophie Charlotte e Marco Pigossi, definitivamente, precisam de um pouco de sal. A dubiedade de Amora, é claro, colabora para a falta de empatia. Nesse cenário, destacam-se Malu, mais um grande trabalho de uma atriz muito criticada no passado, Fernanda Vasconcellos, e Giane, que confirma Isabelle Drummond como a promessa mais certa de sua geração.

- Amor à Vida: Amor à Vida é fraca. E muito por causa de seus diálogos: nunca se viu um texto tão vergonhoso no horário nobre. Além disso, a própria estrutura dramatúrgica da novela é recheada de escaletas fáceis: esquetes de humor dignas de Zorra Total. É o caso das tramas de Valdirene (Tatá Werneck) e Perséfone (Fabiana Karla). O pilar dramático é um pouco mais forte: conta com o dúbio César (Antonio Fagundes), de longe o personagem mais interessante. No entanto, os demais personagens parecem rendidos ao velho maniqueísmo meio místico, ingênuo e quase imbecil de Walcyr Carrasco. Paloma, protagonista interpretada por Paolla Oliveira, é ingênua em excesso. Félix, o tão aclamado vilão de Mateus Solano, é uma caricatura. Aliás, muito se esperava desse personagem. O autor, entretanto, errou em seu conceito. E o ator, é preciso dizer, foi junto. Solano optou pela caricatura em uma personagem que exigia muitas nuances. Derrapou. A Solano, recomendo ver o excelente trabalho de Débora Falabella em Avenida Brasil, a mocinha vingativa que só precisou se render aos tons mais fortes no capítulo 100. No mais, a direção aposta em inovação e quase sempre acerta. 

- Saramandaia: Sem dúvida alguma, a melhor novela no ar. Protagonizada por excelentes atores, que vão da magnífica Lília Cabral ao estreante Sérgio Guizé, o folhetim é muito bem escalado. A dramaturgia de Ricardo Linhares encanta: flerta com o realismo fantástico mais tradicional (já que passa por novelas como Porto do Milagres e por escritores tradicionais do gênero como García Marquez), mas também aposta em uma linguagem circense e colorida, algo bem mais próximo da fantasia do que do soturno clima de obras como Incidente em Antares. E funciona. A direção é tradicional, mas nem por isso ruim. Núcleos inovadores, como o de Ricardo Waddignton e o de Mauro Mendonça Filho, são, é claro, fundamentais. Mas nem são (e nem devem ser) únicos. Direções com fotografia, planos e cortes mais tradicionais são essenciais e marcam as diferenças de estilo. Seria muito chato se víssemos o mundo tão somente com o asséptico filtro azul de Amor à Vida, não é verdade? A trilha sonora é outro ponto fortíssimo. Até aqui, o folhetim está perfeito. Algo muito superior ao que vimos em Gabriela.

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