segunda-feira, 3 de junho de 2013

Jogo Rápido: Com boa premissa, Amor à Vida esbarra em texto pobre e em direção com crise de identidade

Amor à Vida surgiu no horário nobre como promessa de bons ventos. Uma direção aparentemente elegante e o uso de uma dramaturgia repleta de tramas ousadas (temas LGBT explorados de forma mais livre, a discussão em torno do uso e do tráfico de drogas, etc.) pareciam significar que Walcyr Carrasco, consagrado por novelas de audiência alta e qualidade duvidosa, estava prestes a desenvolver uma trama madura, inteligente, sem maniqueísmos baratos e chavões piegas batidos. Se o primeiro capítulo confirmou, de certo modo, tais impressões, o desenvolvimento da novela, em contrapartida, pôs tudo a perder. Em um plano menos importante, a direção vem sofrendo com uma crise de identidade. Em alguns momentos, cortes bem-executados e uma fotografia elegante, elementos típicos de uma linguagem que flerta com as séries e com o cinema. Em outros, porém, câmeras lentas cafonas e trilhas incidentais mal-executadas. Mas o mais grave, sem dúvida, encontra-se no texto pouco elaborado, piegas e claramente orientado pela visão de mundo extremamente limitada do autor, Walcyr Carrasco. Recados místicos rasos e superficiais pululam em diálogos fáceis, vazios e descontextualizados. Félix, o vilão promissor, perde-se em uma vilania caricata, pouco fundamentada, recheada de tiradas que, se são um excelente recurso em situações variadas, tornam-se forçadas quando usadas a esmo em todos os tipos de circunstância. Lições de moral surgem aos montes, quase sempre sem contraponto, sem discussão, de forma extremamente irrefletida. Assim, assuntos sérios são "discutidos" de maneira irracional. A novela, que pretende se inserir em questões contemporâneas, caiu, ao que parece, nas mãos de um dramaturgo pouco capaz. Não mencionei, é claro, o excesso de didatismo que irrita e é inexplicável em um folhetim de horário nobre. Vale mencionar, também, a falta de traquejo do casal protagonista, vivido por Malvino Salvador e Paola Oliveira.

Mas é claro que falta de qualidade não implica em fracasso no Ibope. Inúmeros são os casos de novelas ruins que se consagram em audiência (vide Fina Estampa). E, se a novela de Walcyr Carrasco não promete qualitativamente, Amor à Vida tem elementos o suficiente para emplacar em números e repercussão.

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