sexta-feira, 31 de maio de 2013

Aplausos: Para A Menina Sem Qualidades, seriado muito bem-dirigido por Felipe Hirsch. Se a protagonista, vivida magistralmente pela ótima Bianca Comparato, não tem qualidades e vai se moldando enquanto passa por novas e transformadoras experiências, o mesmo não se pode dizer da magnífica produção exibida pela MTV Brasil. Qualidades não faltam ao seriado: direção impecável, elenco muito bem-conduzido, um texto tão sensível e reflexivo quanto o da obra original. Cabe fazer menção importante a Rodrigo Pandolfo, um dos melhores atores revelados nos últimos anos.

Para Mateus Solano, o grande responsável pela carcaterização do vilão Félix, em Amor à Vida. Com uma composição que fica no limite entre caricatural e o crível, Mateus conseguiu dar corpo e graça ao texto nem sempre muito inspirado (e às vezes bobo) de Walcyr Carrasco. Na sua boca, as tiradas de Félix ganham um aspecto de acidez rasgada típica de personalidades atormentadas e perversas. Félix tem tudo, sem dúvida, para entrar para a galeria dos grandes vilões da dramaturgia. 

Vaias: Para o discurso sem propósito, superficial e descontextualizado de César, personagem de Antonio Fagundes, sobre o aborto. O médico respeitado, que se colocou como grande protetor da moralidade, desconsiderou, entre outras coisas, aspectos importantes como a desigualdade social, a inserção do tema em questões de saúde pública e a falta de informação. O aborto, indubitavelmente, é algo que deve ser discutido em um plano muito mais complexo do que o mero maniqueísmo que existe na dualidade "sou a favor ou sou contra". Não se sabe ainda se o tema ganhará novas repercussões dentro da trama, mas se ficar apenas na cena referida, nota 0 para o autor.

Para a direção de Amor à Vida, que se empenha frequentemente em sequências de gosto duvidoso. Dois exemplos disso envolvem a personagem Paloma, interpretada pela insípida Paola Oliveira. Numa delas, câmeras lentas sucessivas pairavam sobre o rosto e o cabelo da atriz. Por um momento, pareceu que a novela mais assistida do país tinha se convertido em uma propaganda de tintura de cabelo. Em outra cena, Paulinha, papel de Klara Castanho, corre, também em câmera lenta, para os braços da protagonista.  Cafonice define. Isso sem citar as péssimas escolhas na trilha sonora, que vai de Wanessa Camargo a Daniel. Haja paciência.

Para as tramas paralelas de Amor à Vida, quase todas vazias, rasas e superficiais. O que dizer da história da gordinha virgem em busca da primeira relação sexual? No que já foi mostrado, tal trama, que até poderia ser discutida de um modo mais interessante, não sairá muito da concepção machista e pouco relevante da mulher desprovida de beleza que procura desvairadamente por um homem que "faça o serviço" (palavras da novela). Um horror. Isso sem contar com um discurso anacrônico e atrasado pró-sexo que desconsidera questões como a assexualidade. Em uma sociedade pluralista e em uma novela que, pelo menos em tese, pretende ser antenada com a realidade, recursos desse tipo soam como meramente apelativos.

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