terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Aplausos: Para Lado a Lado, que trata com bastante perspicácia temas muito relevantes ainda na contemporaneidade. Entre eles, o preconceito contra as religiões de matriz africana e o uso da polícia na defesa de interesses políticos e econômicos. Ainda que seja exibida em uma emissora claramente conservadora, a trama de João Ximenes Braga e Cláudia Lage dá um show de criticidade. Destaque para a sequência em que Jurema (Zezé Barbosa), mãe de santo, é perseguida pela polícia por conta de suas atividades como mãe de santo. Um claro exemplo de discriminação religiosa e violência policial.

Para Patrícia Pillar e Camila Pitanga, que, em Lado a Lado, deram um show nas cenas em que Isabel, personagem de Camila, descobre que Elias, seu filho, foi roubado por Constância, personagem de Patrícia Pillar, quando ainda era bebê. Camila, uma das grandes atrizes de sua geração, demonstrou visceralidade e conseguiu emocionar até o mais apático telespectador. Patrícia, por sua vez, deu uma aula de recursos dramáticos, conseguindo passar, apenas com o olhar, todos os sentimentos que a personagem sublinhava.

Para a cena em que Jéssica (Carloina Dieckmann) é assassinada por Lívia Marini, a vilã interpretada por Cláudia Raia. A direção de Salve Jorge, quase sempre equivocada e de mau gosto, surpreendeu e levou uma cena primorosa ao ar. Com ótimos recursos de sonoplastia, a sequência foi impactante e extremamente convincente. Destaque também para o excepcional trabalho de fotografia, que utilizou, com esperteza, estratégias cinematográficas: a oscilação de foco, o realce de certas cores das expressões faciais das atrizes (como o verde dos olhos de Dieckmann ou o vermelho do batom de Raia), etc. Parabéns à equipe de Marcos Schechtman.



Vaias: Para a pauta do Domingo Espetacular, cada vez mais dependente dos interesses comerciais da Rede Record. No domingo retrasado, por exemplo, a revista eletrônica da emissora de Edir Macedo veiculou, de modo extremamente irresponsável, uma reportagem preconceituosa contra as religiões de matriz africana. Com a desculpa de que a Rede Globo dá pouco espaço aos evangélico (o que, convenhamos, está longe de ser verdade), a TV paulistana destilou desconhecimento e ignorância, além de praticar, vale dizer, um ato de intolerância religiosa.

Para o excesso de programas religiosos veiculados nas emissoras brasileiras. Com exceção do SBT, todas as emissoras - incluindo a Rede Globo, com o chato Festival Promessas - vendem parte de sua programação a igrejas, quase sempre, de origem neopetencostal. Em atrações enfadonhas e mal-produzidas, uma série de pastores pode ser vista espalhada pela programação das televisões brasileiras. Um saco. O fenômeno evangélico é rico culturalmente e bastante interessante, mas a sua recepção no grande público, diante de programas tão ruins (além de suas recorrentes demonstrações de intolerância ao que é diferente), fica comprometida.

Para a falta de verossimilhança de Salve Jorge, que frequentemente pulula no enredo de Glória Perez. Ontem, por exemplo, Morena (Nanda Costa) e Jéssica (Carolina Dieckmann), em vez de entregarem a quadrilha turca de tráfico de pessoas a Helô (Giovanna Antonelli) ou  a Théo (Rodrigo Lombardi), pessoas mais próximas e mais gabaritadas para cuidar do caso (ela é delegada, ele é militar), denunciaram o esquema a Lívia Marini (Cláudia Raia), vilã da novela que, pelo menos a priori, nada tinha a ver com a situação das traficadas. Para piorar, o enredo de Glória Perez ficou ainda mais comprometido quando, em uma conjuntura totalmente casual, Lívia mata Jéssica com uma injeção letal que guardava na bolsa. Sinceramente, quem, casualmente, anda com uma injeção letal dentro da bolsa?

Para a diferença de tratamento do relacionamento lésbico entre Mara (Camila Morgado) e Sereia (Isis Valverde) em comparação com os relacionamentos heterossexuais da trama, em O Canto da Sereia. Enquanto as cenas de amor entre a protagonista e Paulinho de Jesus (Gabriel Braga Nunes) foram mostradas sem muito véu, as trocas de carinhos entre as duas mulheres foram encenadas de forma seca e muito disfarçada. Um claro exemplo do tal padrão Globo de qualidade, que é muito semelhante aos códigos preconceituosos que reinavam no cinema hollywoodiano da década de 70.

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