sábado, 25 de outubro de 2014

IMPÉRIO: De novela emblemática a folhetim insosso



Império, novela que pretendia ser a redenção de Aguinaldo Silva depois das sofríveis Duas Caras e Fina Estampa, estreou há alguns meses deixando a impressão de que seria emblemática. E com toda a justiça: uma trama principal arrebatadora circundada por debates muito polêmicos do ponto de vista moral. Mas Aguinaldo, talvez por conta de sua recente postura conservadora (política e artística), conseguiu, ao mesmo tempo, transformar o centro de seu folhetim em algo não muito dinâmico e esvaziar completamente todos os questionamentos que, nas primeiras semanas, surgiam como diferenciais.

Comecemos pela trama principal. Aguinaldo iniciara bem: uma mocinha bem-conduzida interpretada pela sempre segura Leandra Leal; vilãs imperdíveis e defendidas por duas das maiores atrizes do Brasil, Lília Cabral e Drica Moraes; um protagonista charmoso e com uma boa dose de excentricidade. Mas eis que, diante de seu senso de condução conservador, Aguinaldo cometeu um pecado: transformou todos esses personagens em caricaturas insuportáveis. Cristina, a mocinha, virou, digamos, uma mocinhazinha (minguada, aguada, sem muita complexidade dramática). Maria Marta, a vilã de Lília Cabral, chegou a um tom de arrogância ainda mais insuportável do que o de Tereza Cristina, a antagonista de quadrinhos encenada por Christiane Torloni em Fina Estampa. Cora, a prometida megera de Drica Moraes, virou uma carola patética (pelo visto, Violante – de Xica da Silva –, seguirá sendo sua maior personagem). O Comendador, por fim, perdeu a empatia ao passo que foi perdendo em complexidade.

Por fim, a pólvora da novela, os vários personagens homossexuais – que suscitariam, cada um a seu modo, boas reflexões – perderam a razão de ser: Cláudio foi inserido em uma discussão chatíssima sobre direito à privacidade. Sejamos sinceros: a única pessoa que está preocupada com esse ponto de vista neste país é a perdida Paula Lavigne. Leonardo descobriu-se bissexual e parece ter passado por um ritual de machoalfação. Virou escada da personagem de Adriana Birolli, a péssima atriz que, por algum motivo que nos escapa, é a queridinha do autor.  Xana, e esta é a personagem cuja mudança é a mais lamentável, vem perdendo a sua humanidade em benefício de um humor que, sendo muito boazinha, é no mínimo idiossincrático (a propósito, Xana também foi heterossexualizada depois de, nas primeiras semanas, ter declarado a sua afeição por Elivaldo). Téo Pereira, que nunca teve lá muita complexidade, é o único que continua como começou.

Assim, Império se transformou em um limbo que acontece entre o Jornal Nacional e a primeira faixa de shows da emissora (e diante da crise de audiência da Globo, isto é de fato significativo). Não repercute nas redes sociais, no sofá ou na padaria. Não é ruim o suficiente para ser metralhada nem boa o bastante para ser elogiada. Só repercute na Veja, que não por coincidência é editada por amigos do autor. Lamentável. E que venha Gilberto Braga.

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