sábado, 1 de dezembro de 2012

Aplausos: Para Alessandra Negrini, a Catarina de Lado a Lado. Embora alguns não estejam gostando do perfil dado por Alessandra à sua debochada vilã, o blog, em sentido contrário, acha que a atriz acertou em cheio em sua composição. A interpretação repleta de ironia jocosa e meio over que Negrini deu à personagem é extremamente adequada e muito bem-calculada. O tom de Catarina, a escorregadia cantora lírica que inferniza a vida de Laura (Marjorie Estiano) e Edgar (Thiago Fragoso), está perfeitamente de acordo com o sarcasmo da personagem.

Para Caio Blat, o Fernando de Lado a Lado. Um dos melhores profissionais de sua geração, Caio interpreta com a mesma facilidade dos atores mais experientes. Seguro e cheio de técnica, o intérprete do rancoroso irmão de Edgar (Thiago Fragoso) dá shows diários de maturidade e eficiência. Os autores, que não são bobos e já perceberam que Caio é um ator como poucos, já trataram de aumentar a participação do personagem. 

Para Isabela Garcia, a Celinha de Lado a Lado. Isabela, uma das atrizes mais experientes da Rede Globo e grande estrela das décadas de 80 e 90, vem arrebentando em um papel adorável, pueril e cheio de empatia. Excelente atriz, Garcia entendeu perfeitamente o tom da personagem: uma mocinha quarentona e totalmente atrapalhada, uma espécie de protagonista de comédia romântica. 

Para Suburbia, que toca em uma ferida bastante imbricada na sociedade brasileira: o machismo velado. Conceição, a protagonista brilhantemente defendida pela visceral e surpreendente atuação da novata Erika Januza, é recorrentemente molestada por homens de diferentes origens. Um roteiro que representa a radicalização do retrato de algo comum à realidade da maioria das mulheres. A muitos, inclusive, escapa a percepção de que tal recorrência, estranha à primeira vista, é totalmente proposital. Estratégia usada, inclusive, em filmes como Dogville, de Lars Von Trier. Para tornar o cenário mais provocador, Luiz Fernando Carvalho veste Conceição com roupas provocantes e sensuais. Tal dado estimula a voz de ponderações extremamente machistas, por exemplo, "Ela se veste assim e não quer ser molestada!", como se o modo de se vestir da mulher servisse de justificativa para um assédio que é, antes de mais nada, vil e degradante. Um ser humano, até onde se sabe, tem o direito de vestir o que quiser, sem, contudo, ser constrangido por isso. É um princípio de respeito completamente intuitivo em uma sociedade civilizada. 



Vaias: Para Rachel Sheherazade, que deu uma aula de ignorância em seus comentários sobre o Estado Laico, na última semana, no Jornal do SBT. A jornalista, pretensamente investida de uma pseudo-lucidez, despejou, em mais uma de suas rasas e improfícuas divagações sobre tudo que existe, uma série de preconceitos e equívocos sobre a ação do Ministério Público de São Paulo que visava, entre outras coisas, retirar a inscrição "Deus seja louvado" das cédulas de Real. Começou dizendo que a intenção da promotoria representava, em última instância, uma espécie de ingratidão a tudo aquilo que supostamente o cristianismo proporcionou à sociedade brasileira. Em que pese as suas inegáveis contribuições à formação da cultura nacional, a Igreja Católica, vale dizer, também foi a responsável, entre outras coisas, pela violenta assimilação dos índios do Brasil e pela manutenção do status quo sexista e racista que permeia a maioria das sociedades ocidentais. Ignorou, além disso, que manifestações que privilegiam uma religião em detrimento de outras ofende, sim, o princípio de neutralidade religiosa supostamente externado pelo Estado. Um autor islâmico de uma ação judicial qualquer, por exemplo, certamente se sente um estrangeiro ao notar a presença de uma cruz logo acima do juiz em um tribunal. Por fim, a jornalista foi além. Disse que, para assegurar o laicismo, seria preciso emendar a Constituição Federal, em tom que dava a entender que tal procedimento correspondia a uma prática de última ratio, como se, ao fazer algo do tipo, o Estado maculasse uma espécie de ordem normativa sagrada quase imutável. Em primeiro lugar, o princípio da laicidade já está garantido pela Constituição da República de 1988. A liberdade religiosa é, entre outros direitos, uma garantia assegurada pelo art. 5. Em outras palavras, a tal emenda entoada pela jornalista como um absurdo de proporções titânicas é completamente desnecessária, visto que a Carta Magna define explicitamente o laicismo estatal. Além do mais, ainda que uma emenda fosse necessária, não haveria nela qualquer tipo de modificação escandalosa. Emendas à Constituição fazem parte de um procedimento perfeitamente previsto e frequentemente adotado pela legislação brasileira. Como se vê, um show repleto de ponderações de uma jornalista ignorante, rasa, limitada e despreparada. Sílvio Santos deve, sem dúvida, estar mais atento à qualidade do jornalismo da casa. Vale dizer que não é só Rachel que apronta coisas do tipo. Carlos Nascimento, seu colega de casa (que costuma ser muito mais respeitado pelos colegas), frequentemente dá opiniões mal-embasadas e repletas de senso comum. José Neumanne Pinto, o tal cronista da emissora paulistana, não faz muito diferente.

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